XIV Semana de Pesquisa - 2023


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Indice de inflamação sistêmica durante a infecção por Covid 19 e a manifestação de sintomas depressivos e ansiosos no período pós-covid

Autores: Miwa Nakagomi, Clarissa de Rosalmeida Dantas, Juliana Evangelista Dantas, Renata Cruz Soares de Azevedo , Monica Corso Pereira


Link: https://www.youtube.com/watch?v=pN5FC_jHvrk


RESUMO

INTRODUÇÃO: Em 11 de março de 2020, o surto de SARS-Cov-2, um novo tipo de coronavírus identificado em Wuhan, na China; foi declarado como uma pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) (1,2). Assim como outras grandes pandemias, como SARS e MERS; a COVID-19 causou impacto importante na saúde mental humana (3,4,5). Pacientes atual ou previamente infectados pelo SARS-Cov-2 apresentaram taxas e severidade de transtornos psiquiátricos maiores do que da população geral (6,7,8). Os sintomas neuropsiquiátricos são uma das principais manifestações da “Long-COVID19” ou Post COVID Syndrome” (3,9,10,11). Maiores taxas de depressão ou ansiedade foram relacionadas com tempo prolongado de internação (12), admissão na UTI com necessidade de ventilação mecânica (13). Laboratorialmente, o SII (Systemic Immune Inflammation Index) foi associado com maiores taxas de depressão e ansiedade após a alta hospitalar (12,14). O SII utiliza valores séricos de plaquetas, neutrófilos e linfócitos na conta (P x N)/L e marca o balanço entre a inflamação sistêmica e a resposta imune (12). Assim, a associação entre a infecção pelo Sars-Cov2 e as consequências psiquiátricas é multifatorial, ela pode ser causada tanto por fatores psicológicos e ambientais e/ou pela própria patogenia da infecção viral (efeito direto do vírus, resposta imune e inflamatória) (5,12,14,15,16).

OBJETIVOS: O objetivo deste estudo é investigar a correlação de dados laboratoriais e clínicos da internação hospitalar com sintomas depressivos e ansiosos no período após a infecção pelo COVID.

MÉTODOS: Este é um estudo retrospectivo quantitativo e descritivo, que propõe um recorte específico dos dados colhidos de um projeto mais amplo: RECOVID-19, financiado pela Fapesp (2020/10087-0) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição CAAE: 31783420.7.0000.5404. O RECOVID trata-se de um estudo unicêntrico de coorte prospectiva na qual foram incluídos 637 participantes adultos, com SARS-Cov-2 detectado em exame de RT-PCR, internados com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no período de 1 de maio de 2020 a 1 de maio de 2021, no Hospital de Clínicas da Unicamp. Durante a internação, foram coletados dados objetivos dos prontuários dos participantes. Esses pacientes foram acompanhados até o 12º mês após a alta. Desses, um subgrupo de 49 pacientes foi avaliado pela Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS). As entrevistas foram realizadas por membros da equipe de pesquisa do Depto de Psicologia Médica e Psiquiatria da Unicamp. A HADS é composta de 14 itens, e investiga sintomas na última semana, sendo 7 itens relativos a sintomas de ansiedade (HAD-A) e 7 itens relativos a sintomas de depressão (HAD-D), as pontuações de cada subescala são dividas em: depressão/ansiedade improvável, possível e provável. Os dados coletados foram armazenados na plataforma RedCap (Research Electronic Data Capture), instrumento gratuito para coleta e gerenciamento de dados de pesquisa e protocolos clínicos. Todos os participantes concordaram com a participação na pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS: A amostra foi constituída por 49 pacientes, 18 mulheres (36,7%) e 31 homens (36,3%). O tempo médio de internação hospitalar foi de 16,8(±16,3) dias. O tempo entre a alta e a aplicação do HADS foi, em média, 168,4(± 99) dias. Na avaliação pelo HADS, 34,7% (n=17) pontuaram para ansiedade e/ou depressão, especificamente 26,5% (n=13) para ansiedade e 20,4% (n=10) para depressão. Não houve diferença significativa em relação ao gênero dos pacientes com ansiedade e/ou depressão na escala HADS (p=0,275). Além disso, as seguintes variáveis também não foram associadas com maiores taxas de depressão e/ou ansiedade após a alta: necessidade de intubação orotraqueal (p=0,386), infecções hospitalares (p=0,116) e dias de ventilação mecânica (p=0,187); apesar de, em média, os pacientes com ansiedade e/ou depressão terem passado mais tempo em VM em comparação ao outro grupo, 6,7(±10,2) e 3,1(±4,7) dias, respectivamente. Os valores nos piores cenários laboratoriais do SII e de PCR foram, em média, mais elevados nos pacientes com ansiedade e/ou depressão; sendo o SII=2537,2 (±4008,1) e PCR= 200,8(±62,7), em comparação com aqueles que não pontuaram no HADS, SII=1953,2(±1947,2) e PCR=162,9(±48,8). Entretanto, esses dados não obtiveram significância estatística (PCR p=0,83 e SII p=0,578).

CONCLUSÃO: Não foram encontradas diferenças estatísticas nos pacientes com e sem ansiedade e/ou depressão avaliados após a alta pelo questionários HADS, em relação a parâmetros clínicos da internação como intubação, infecções ou ventilação mecânica, e aos laboratoriais, PCR e índice de inflamação sistêmica, que leva em conta neutrófilos, plaquetas e linfócitos. Todavia, ainda que não tenhamos encontrado diferenças estatísticas; considerando que as médias de SII e PCR indicam intensidade do processo inflamatório e foram maiores no grupo com ansiedade e/ou depressão, é possível que exista uma diferença real que não foi detectada devido ao pequeno tamanho de nossa amostra.


BIBLIOGRAFIA: 1. https://www.who.int/news/item/29-06-2020-covidtimeline 2. https://www.who.int/emergencies/disease-outbreak-news/item/2020-DON233 3. LLACH, C.-D.; VIETA, E. Mind long COVID: Psychiatric sequelae of SARS-CoV-2 infection. European Neuropsychopharmacology, v. 49, p. 119–121, ago. 2021. 4. ROGERS, J. P. et al. Psychiatric and neuropsychiatric presentations associated with severe coronavirus infections: a systematic review and meta-analysis with comparison to the COVID-19 pandemic. The Lancet Psychiatry, v. 7, n. 7, p. 611–627, jul. 2020. 5. STEARDO, L.; STEARDO, L.; VERKHRATSKY, A. Psychiatric face of COVID-19. Translational Psychiatry, v. 10, n. 1, p. 1–12, 30 jul. 2020. 6. DENG, J. et al. The prevalence of depression, anxiety, and sleep disturbances in COVID‐19 patients: a meta‐analysis. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1486, n. 1, p. 90–111, fev. 2021. 7. HU, J. et al. Early Mental Health and Quality of Life in Discharged Patients With COVID-19. Frontiers in Public Health, v. 9, p. 725505, 23 dez. 2021. 8. LI, L. Z.; WANG, S. Prevalence and predictors of general psychiatric disorders and loneliness during COVID-19 in the United Kingdom. Psychiatry Research, v. 291, p. 113267, set. 2020. 9. ANAYA, J.-M. et al. Post-COVID syndrome. A case series and comprehensive review. Autoimmunity Reviews, v. 20, n. 11, p. 102947, nov. 2021. 10. MAZZA, M. G. et al. Persistent psychopathology and neurocognitive impairment in COVID-19 survivors: Effect of inflammatory biomarkers at three-month follow-up. Brain, Behavior, and Immunity, v. 94, p. 138–147, maio 2021. 11. SCHOU, T. M. et al. Psychiatric and neuropsychiatric sequelae of COVID-19 – A systematic review. Brain, Behavior, and Immunity, v. 97, p. 328–348, out. 2021. 12. MAZZA, M. G. et al. Anxiety and depression in COVID-19 survivors: Role of inflammatory and clinical predictors. Brain, Behavior, and Immunity, v. 89, p. 594–600, 1 out. 2020. 13. RAMAKRISHNAN, R. K. et al. Unraveling the Mystery Surrounding Post-Acute Sequelae of COVID-19. Frontiers in Immunology, v. 12, p. 686029, 30 jun. 2021. 14. DEMİRYÜREK, E. et al. Depression and Anxiety Disorders in COVID-19 Survivors: Role of Inflammatory Predictors. Archives of Neuropsychiatry, v. 59, n. 2, p. 105–109, 14 maio 2022. 15. EPSTEIN, D. et al. Anxiety and Suicidality in a Hospitalized Patient with COVID-19 Infection. European Journal of Case Reports in Internal Medicine, v. 7, n. 5, p. 001651, 9 abr. 2020. 16. CHEN, Y. et al. Prevalence and predictors of posttraumatic stress disorder, depression and anxiety among hospitalized patients with coronavirus disease 2019 in China. BMC Psychiatry, v. 21, n. 1, p. 80, 8 fev. 2021.



PALAVRA-CHAVE: ansiedade e depressão pós covid e índice de inflamação



ÁREA: Clínica Médica

NÍVEL: Graduação



Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Estadual de Campinas
Correspondência:
Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP 13083-887 – Campinas, SP, Brasil
Acesso:
R. Albert Sabin, s/ nº. Cidade Universitária "Zeferino Vaz" CEP: 13083-894. Campinas, SP, Brasil.

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