RESUMO
INTRODUÇÃO: A infecção por Helicobacter pylori é considerada uma das doenças
infecciosas crônicas mais comuns no mundo e afeta cerca de metade da população global.
Está diretamente relacionada à gastrite e aparece como importante causa de doença
ulcerosa péptica e câncer gástrico, trazendo prejuízos na vida adulta. A infecção, contudo,
é frequentemente adquirida na infância, período de intenso contato interpessoal, e
permanece pela vida toda, se não tratada. Sua apresentação mais comum nas crianças é a
assintomática e ainda não há sustentação da literatura sobre sua associação a dor
abdominal recorrente ou outras correlações, embora possam estar bastante presentes. Por
conta disso, a maior parte dos diagnósticos ocorre incidentalmente. Portanto, em crianças,
tanto a investigação quanto o tratamento baseiam-se nos benefícios individuais aos
pacientes. Nesse cenário, porém, nota-se a carência de estudos da infecção por H. pylori
em pacientes pediátricos, sobretudo em países subdesenvolvidos, e um manejo
insatisfatório da doença, caracterizado por taxas de erradicação inferior ao esperado.
Assim, faz-se necessário melhor conhecer a frequência da infecção nas mais diversas
regiões brasileiras e analisar o seu manejo.
OBJETIVOS: Investigar qual a frequência do H. pylori e as características clínicas e
laboratoriais dos pacientes pediátricos submetidos à endoscopia digestiva alta e analisar
a avaliação e o desfecho.
MÉTODOS: Foram avaliados os dados de prontuário de 28 pacientes com resultado
positivo para H. pylori, obtidos de um total de 133 crianças, com idade entre 1 e 18 anos,
submetidos à endoscopia digestiva alta e atendidos no Hospital das Clínicas da
UNICAMP entre janeiro de 2010 e dezembro de 2022, com investigação através de
biópsia e/ou teste de urease. Por meio da análise desses prontuários, avaliou-se a
frequência do H. pylori, o perfil epidemiológico dos pacientes, a indicação da endoscopia,
a conduta em relação à família e ao paciente, em relação ao seu manejo (se houve
tratamento e a quantificação destes, se foi realizado, qual o esquema terapêutico) e
desfecho (erradicação ou não).
RESULTADOS: A partir da revisão dos prontuários de 28 pacientes pediátricos, obtidos
de uma lista de 133 crianças submetidas à endoscopia digestiva alta, no período de 2010
até 2022, a frequência de H. pylori encontrada foi de 21,05%, dado semelhante ao
encontrado em países desenvolvidos, como a Dinamarca, e diferente do esperado para a
realidade brasileira. Dentre os positivos para a bactéria, 17 pacientes eram do sexo
masculino e 11 do sexo feminino. As idades ao diagnóstico variaram de 1,08 a 18,93 anos,
com uma média de 12,23 anos. A principal indicação para a realização de endoscopia foi
dor abdominal (71,4%) e, diferentemente do que consta na literatura, a minoria dos
pacientes era assintomática (14,2%). Dos 28 pacientes, 10 receberam tratamento e 3
foram erradicados. O esquema tríplice de Amoxicilina, Claritromicina e Omeprazol foi
usado em 80% dos pacientes. A família dos pacientes foi investigada em apenas 10,7%
dos casos. Este pode ser, possivelmente, um fator limitante ao sucesso terapêutico, que
pode encontrar nas estruturas socioeconômica e do sistema de saúde brasileiro um
obstáculo.
CONCLUSÃO: A prevalência de H. pylori em crianças com indicação de endoscopia
digestiva alta foi de 21,05% (28/133), abaixo do encontrado em outras regiões brasileiras.
A investigação familiar, apesar de importante por estar relacionada à forma de
transmissão da doença, foi baixa (10,7%), assim como a taxa de erradicação encontrada
(3/10), bastante distante da considerada factível na Europa, ao redor de 90%.
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
89102002000300017&lng=pt. https://doi.org/10.1590/S0034-89102002000300017
PALAVRA-CHAVE: H. pylori; Endoscopia; Crianças; Pediatria; Gastroenterologia; Manejo