RESUMO
INTRODUÇÃO: A Paralisia Cerebral (PC), ou encefalopatia não progressiva, consiste no principal acometimento motor infantil. 1,2 Nela, há alterações no desenvolvimento motor e postural da criança, secundários a uma lesão no cérebro em formação. 1,2,3 Sua classificação ocorre a partir do tipo motor, distribuição e nível funcional. 2,3,4 Concomitante as modificações motoras, essas crianças podem apresentar alterações sistêmicas múltiplas, causando limitações em suas atividades. 4,5 Essa condição envolve um grupo etiológico heterogêneo, abarcando fatores pré-natais, perinatais e pós-natais. 2,5
OBJETIVOS: O objetivo do presente trabalho foi traçar o perfil funcional de crianças com PC, atendidas no Ambulatório de Fisioterapia de Reabilitação da Motricidade, do Hospital das Clínicas da Unicamp, e verificar a percepção dos pais/cuidadores sobre a funcionalidade das crianças.
MÉTODOS: Neste estudo foram incluídas crianças com diagnóstico de PC, com até 12 anos de idade, de ambos os sexos e sem distinção raça ou cor. As avaliações ocorreram no Ambulatório de Fisioterapia de Reabilitação da Motricidade Infantil do Hospital de Clínicas da Unicamp. Critérios de exclusão foram: (i) crianças sem diagnóstico; (ii) atraso de desenvolvimento transiente; (iii) diagnóstico de síndromes genéticas com disfunção motora; (iv) história de tumores; (v) doenças neuromusculares primárias.
Para a análise funcional foram empregadas as escalas: (i) Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS), que avalia a função motora grossa iniciada voluntariamente, com destaques na mobilidade, na transferência, no sentar e no andar; (ii) o Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI), que avalia o desempenho da criança nas funções de autocuidado, mobilidade e função social e é constituído por entrevista estruturada aos pais/responsáveis, ou por meio da observação dos profissionais; (iii) Medida da Função Motora Grossa (GMFM-66) que analisa 66 itens, agrupados em 5 dimensões distintas: deitado e rolando; sentado; engatinhando e ajoelhado; em pé; e andando e (iv) o GMFCS questionário do relato familiar, que coleta a informação de função motora no dia-a-dia, a partir da percepção dos pais. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número CAAE: 42675220.1.0000.5404 e todos os responsáveis legais pelas crianças assinaram o TCLE voluntariamente.
RESULTADOS: Participaram deste estudo 35 crianças, que foram classificadas de acordo com a topografia de acometimento motor. Neste quesito, encontramos que 21 crianças apresentaram PC espástica bilateral, 5 PC espástica unilateral, 1 PC atáxica, 4 PC discinética bilateral, 1 PC discinética unilateral e 3 PC mista com predomínio espástico. O GMFCS possui 5 níveis de classificação, sendo que o nível 1 indica que a criança tem mínima ou nenhuma disfunção motora e o nível 5, onde há total dependência para a mobilidade. Sendo assim, 4 crianças foram classificadas em nível 1 e 14 no nível 5, além de outras 17 nos níveis intermediários, onde há auto mobilidade com diferentes níveis de limitações, podendo ter uso de tecnologia de apoio.
A aplicação do questionário PEDI evidenciou que, no domínio de autocuidado, 29 crianças obtiveram desempenho inferior ao demonstrado por crianças de mesma faixa etária e 6 crianças pontuaram dentro do intervalo de normalidade esperado para crianças brasileiras, com a mesma faixa etária. No domínio mobilidade, 29 crianças apresentaram atraso no desenvolvimento do domínio e 6 crianças estavam dentro do intervalo de normalidade. Por fim, em função social, 24 crianças apresentaram atraso neste domínio e 11 crianças pontuaram dentro do intervalo de normalidade.
Em relação ao GMFCS Questionário do Relato familiar, os relatos dos responsáveis pelas crianças foram coletados de acordo com as faixas etárias e comparados com a funcionalidade avaliada por meio das escalas aplicadas por fisioterapeuta. Desta forma, obtivemos que 88% dos pais ou cuidadores apresentaram uma percepção real da funcionalidade da criança, 9% apresentaram uma percepção aumentada e, apenas 3%, tinham uma percepção reduzida da funcionalidade da criança sob seu cuidado.
CONCLUSÃO: Este trabalho evidenciou que a maioria das crianças apresentam PC do tipo espástica bilateral sendo, em sua maioria, crianças com restrições funcionais graves, classificadas nos níveis 4 e 5, indicando que o início voluntário de movimentos possui muitas limitações sendo muitas vezes necessário o uso de tecnologia de apoio ou então, que são totalmente dependentes para a mobilidade. Em relação à percepção dos pais/cuidadores quanto à função motora das crianças nas atividades diárias, a maioria apresentou uma percepção de funcionalidade compatível com a real função motora determinada em escala de 88%. Este trabalho fornece subsídios para ações mais assertivas quanto ao planejamento, assistência e reabilitação desses indivíduos e seus cuidadores.
BIBLIOGRAFIA: 1. PAUL, S. et al. A Review on Recent Advances of Cerebral Palsy. Oxidative Medicine and Cellular Longevity, v. 2022, Article ID 2622310, 20 pages, 30 jul 2022. 2. PEREIRA, H. V. Paralisia cerebral. Residência Pediátrica, v.8, p. 49-55. 2018.
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9. GMFCS Questionário do Relato Familiar. Acesso em: 08 abril 2023. Disponível em https://www.canchild.ca/.
PALAVRA-CHAVE: Paralisia Cerebral, neurorreabilitação, funcionalidade