RESUMO
INTRODUÇÃO: A Paralisia Cerebral (PC) – Encefalopatia Crônica Não Progressiva – é atribuída à lesão do cérebro em desenvolvimento e engloba um grupo de condições que cursam com disfunção motora central permanente, traduzida por alterações no tônus muscular e nas habilidades posturais e de movimento. A variabilidade do espectro de manifestações clínicas da PC refere-se às distribuições topográficas dos acometimentos motores (classificação: PC espástica, discinética e atáxica) e suas gravidades, bem como às comorbidades/condições associadas. As etiologias e fatores de risco para a PC englobam causas multifatoriais que podem ocorrer nos períodos pré-natal, perinatal e pós-natal.
Os impactos da PC para as crianças acometidas e para suas famílias são inúmeros, sendo fundamental a assistência integral desses pacientes, o diagnóstico precoce, a classificação sindrômica e o estabelecimento de um plano de acompanhamento multiprofissional e de reabilitação personalizada.
No Brasil, observa-se a escassez de dados epidemiológicos nacionais sobre a PC. Apesar da importância do Hospital das Clínicas da Unicamp (HC) como centro de atendimento para crianças portadoras de PC, ainda não existem dados referentes ao perfil desses pacientes.
OBJETIVOS: O objetivo deste estudo foi descrever o perfil epidemiológico das crianças com PC em atendimento ambulatorial no HC–Unicamp. Este projeto faz parte de um estudo maior que investiga os aspectos funcionais dessas crianças e ambos podem servir de base para a elaboração de práticas mais assertivas na assistência e reabilitação delas.
MÉTODOS: Foram incluídas crianças com diagnóstico de PC até 12 anos de idade e que estavam em atendimento no Ambulatório de Fisioterapia de Reabilitação da Motricidade Infantil (HC–Unicamp), de ambos os sexos, sem distinção de raça e cor. Todos os pais ou responsáveis legais das crianças concordaram em participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Este projeto foi aprovado pelo CEP-FCM (CAAE: 42675220.1.0000.5404). Os dados foram coletados por meio de entrevista estruturada com os pais ou responsáveis legais e por meio da revisão dos prontuários médicos. Os dados foram coletados pelos pesquisadores por meio de fichas e compilados em uma planilha para a elaboração dos resultados. Ao final, as variáveis selecionadas foram apresentadas em porcentagem.
RESULTADOS: O projeto incluiu um total de 30 participantes, investigados para a parte funcional e/ou epidemiológica. Tivemos casos nos quais algumas informações não foram encontradas no prontuário ou não foram informadas pelo responsável legal da criança.
Em relação aos dados demográficos, a maioria das crianças é do sexo masculino (53,33%) e está na faixa etária de 6 a 12 anos (70%). Predominam crianças brancas e pardas, com uma porcentagem maior para as brancas (46,67%). A maioria dos pacientes é natural da cidade de Campinas (53,33%) e 80% residem atualmente em Campinas ou em cidade da região.
Sobre o contexto de vida e familiar dos participantes, 64,29% das famílias recebem algum tipo de ajuda do governo. A maioria das famílias (82,14%) considerou residir em bairros de boa infraestrutura ou confirmou fazer uso da rede pública de saúde local. Por fim, para a maioria das crianças (89,29%), estabeleceram-se convívios que vão além do núcleo familiar (pais e irmãos).
Notou-se predomínio da PC espástica bilateral (48,28%) e uma maioria de pacientes portadores de complicações ortopédicas (75%). Em relação às comorbidades/condições associadas à PC, as principais foram: alteração cognitiva evidente, alteração de fala e alteração de deglutição, cada uma com prevalência de 57,14% na amostra.
Em relação ao momento do parto, 96,55% ocorreram em hospital, sendo 55,17% dos casos via vaginal. Também encontramos que 79,31% dos recém-nascidos ficaram internados após o nascimento.
Por fim, foram coletadas inúmeras variáveis que são conhecidos fatores de risco associados à PC. Para efeitos didáticos, distribuímos os fatores de risco associados à PC em 4 categorias: pré-natal; parto; neonatal; pós-natal. Importante ressaltar que muitas crianças apresentaram mais de um fator de risco em suas histórias, podendo ser designadas em mais de uma categoria. Em nossa amostra, observamos que a maioria dos fatores de risco estão distribuídos no período pré-natal (79,31%). Evidenciamos também a relevância dos fatores neonatais (55,17%) e de parto (34,48%). Para a categoria “pós-natal”, tivemos a minoria dos fatores (17,24%).
CONCLUSÃO: Nossos resultados apontam que a maioria das crianças com PC atendidas no HC–Unicamp são meninos, e que a maior parte apresenta PC espástica bilateral com complicações ortopédicas. As principais condições associadas foram alterações cognitivas evidentes, alterações da fala e dificuldade de deglutição. A rede de apoio às crianças foi considerada adequada pelos entrevistados e a maioria indicou receber ajuda governamental. Encontramos que quase a totalidade dos partos foram hospitalares, sendo a maioria vaginal. As complicações no momento do parto se mostraram um fator de risco prevalente em nossa amostra, bem como a prematuridade e o baixo peso das crianças, com um número expressivo de crianças que precisou de internação. Nossos dados corroboram a relevância das intercorrências perinatais, incluindo o momento do parto como fator de risco importante na determinação da criança com PC.
BIBLIOGRAFIA: Gulati S, Sondhi V. Cerebral Palsy: An Overview [Internet]. Vol. 85, Indian Journal of Pediatrics. Springer; 2018 [cited 2021 Apr 28]. p. 1006–16. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29152685/.
Pereira H. Paralisia cerebral. 2018 [cited 2021 Apr 28];8(0):49–55. Available from: https://residenciapediatrica.com.br/detalhes/342/paralisia cerebral.
PALAVRA-CHAVE: Paralisia Cerebral; Perfil Epidemiológico; Perfil Etiológico; Hospital de Clínicas Unicamp.