RESUMO
INTRODUÇÃO: O bisfenol A (BPA) é um monômero plástico de policarbonato utilizado em diversos produtos de consumo habitual, como os recipientes para armazenamento de alimentos, brinquedos, etc. Sua elevada capacidade de migrar de embalagens para alimentos submetido a baixas e altas temperaturas facilita a contaminação direta destes alimentos. O BPA afeta a ligação do T3 ao seu receptor, atuando como antagonista dos hormônios tireoidianos na hipófise, e pode interferir na atividade transcricional do TSH e nos genes associados ao T3. Vários estudos vem associando o uso do BPA ao aumento de incidencia de doenças autoimunes, como o Hashimoto, e a nódulos e neoplasias tireoidianas. No entanto, os efeitos diretos desse importante desregulador endócrino nas células da tireoide, especialmente nas células neoplásicas, ainda são pouco compreendidos.
OBJETIVOS: Estudar os efeitos citotóxicos e genotóxicos do BPA em linhagens celulares tireoidianas.
MÉTODOS: Utilizamos 2 linhagens derivadas de células foliculares neoplásicas humanas: TPC-1 e BCPAP (provenientes de carcinoma papilífero e que albergam mutações de RET e de BRAF, respectivamente) e 1 linhagem controle: Nthy-ori 3-1, (células foliculares tireoidianas normais). A análise de citotoxicidade foi realizada com ensaio CCK-8 e, a genotoxicidade foi analisada pelo ensaio Cometa. Foram testadas cinco concentrações de BPA, incluindo o LME=1µg/mL, considerado aceitável pela ANVISA, com exposições de 24 e 48 horas. Células expostas no ensaio CCK-8 foram comparadas com células não expostas (controle negativo), enquanto, no ensaio cometa, os danos no DNA das células expostas, foram comparadas com um positivo (H2O2).
RESULTADOS: Os resultados mostram dose-resposta não monotônica característica dos desreguladores endócrinos. O CCK-8 mostrou que o BPA causava morte celular em mais de 60% das células Nthy-ori 3-1 expostas à concentração LMA por 24h. Já as células TPC-1 e BCPAP foram muito mais sensíveis, com 98% e 97% de citotoxicidade, respectivamente, em 24h. Em todas as linhagens foi observado uma queda importante na porcentagem de células vivas em 48h, particularmente nas células cancerígenas que foram praticamente eliminadas pela exposição mais prolongada ao BPA. O ensaio Cometa mostrou intenso dano ao DNA nas células controle submetidas a dose LME de BPA por 24h, sugerindo que genotoxicidade seja, pelo menos em grande parte, a causa da morte celular observada pelo CCK8. TPC-1 e BCPAP também demonstraram dano ao DNA, porém em menor intensidade em comparação com o produzido pelo BPA na célula controle, sugerindo que outros mecanismos de dano celular estejam envolvidos na citotoxicidade provocada pelo BPA em células mutadas.
CONCLUSÃO: Carcinomas clinicamente ocultos, particularmente microcarcinomas, existem em até 10% da população. O efeito citotóxico do BPA poderia estar associado ao fato de que estes tumores raramente evoluem clinicamente. Por outro lado, o massivo efeito citotóxico do BPA pode estar relacionado à destruição de células tireoidianas com consequente exposição de auto-antígenos e o aumento de casos de tireoidite de Hashimoto mundialmente observado.
BIBLIOGRAFIA: 1. Kim MJ, Park YJ. Bisphenols and Thyroid Hormone. Endocrinology and metabolism. 2019;34(4):340-8.
2. Moriyama K TT, Akamizu T, Usui T, Saijo M, Kanamoto N, Hataya Y, Shimatsu A, Kuzuya H, Nakao K. Thyroid hormone action is disrupted by bisphenol A as an antagonist. J Clin Endocrinol Metab. 2002;87(11):5185-90.
3. ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 56, de 16 de novembro de 2012. 2012.
PALAVRA-CHAVE: Tireoide, Bisfenol A, citotoxicidade, genotoxicidade