RESUMO
INTRODUÇÃO: A DC é uma doença inflamatória crônica que pode acometer todo o trato gastrointestinal. Devido à sua natureza progressiva, a inflamação tem a capacidade de danificar o tecido intestinal afetando todas as suas camadas de forma a causar disfunção orgânica. Essa inflamação crônica e excessiva tem consequências sistêmicas ao paciente, podendo levar a sangramento intestinal e perda de peso. Várias citocinas pró-inflamatórias estão envolvidas na imunopatogenia DC, dentre elas, o TNF-α demonstrou importante ao induzir a expressão de outras citocinas de forma a manter um estado de inflamação permanente. O principal objetivo terapêutico é alcançar e manter a remissão da doença, evitando futuras complicações e cirurgias. O uso de Mabs como terapia na DC levou a um avanço no tratamento. O adalimumabe, um MAb humanizado que se liga TNF-α, impede sua ação, auxiliando na modulação da resposta inflamatória. Entretanto, cerca de 40% dos pacientes que utilizam MAbs apresentam processos imunogênicos, levando à falha terapêutica.
OBJETIVOS: Caracterizar os pacientes com DC atendidos no Gastrocentro e Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas que fazem uso do adalimumabe, e avaliar a resposta ao medicamento
MÉTODOS: Incluímos em nosso estudo 63 pacientes com DC, dos quais coletamos informações sobre a história clínica da DC, duração da terapia com o adalimumabe e possíveis efeitos adversos à medicação além da avaliação de exames laboratoriais e de imagens. Os pacientes foram incluídos em dois grupos, atividade (DCA) e remissão (DCR) cuja classificação deu-se através de exames de enterorresonância ou ileocolonoscopia. Os níveis séricos de adalimumabe foram mensurados através de ensaio de fluxo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP.
RESULTADOS: Dos 63 pacientes que incluímos no estudo, classificamos 39 como DCA, e 24 como DCR. Para DCA, o principal acometimento foi ileocolônico e fenótipo inflamatório. Quanto à doença perineal, obtivemos 15 pacientes com esta apresentação. Em relação à manifestações-extraintestinais, estas foram encontradas em 19 pacientes, sendo a artralgia a principal queixa. Os pacientes apresentaram mediana de 36 meses de uso do adalimumabe, com 19 pacientes utilizando imumododulador concomitante. Os exames laboratoriais demonstraram uma mediana de PCR de 5,85 mg/mL e de 1000 ug/g de calprotectina fecal. Quanto à mensuração dos níveis séricos, oito pacientes apresentaram níveis subterapêuticos, dez apresentaram níveis ideais e vinte e um supraterapêuticos. Em relação ao grupo DCR, a maioria dos pacientes apresentou acometimento colônico e fenótipo inflamatório. Dos 24 pacientes deste grupo, 9 apresentaram doença perineal, e 14 manifestações-extraintestinais, sendo a artralgia a principal relatada. Esses pacientes apresentaram uma mediana de 60 meses de uso de adalimumabe, com 12 utilizando imunomoduladores concomitantes, além de mediana de PCR de 2 mg/mL e 30 ug/g de calprotectina fecal. A mensuração sérica de adalimumabe mostrou que dois pacientes apresentaram nível subterapêutico, seis apresentaram níveis ideais e dezesseis supraterapêuticos. Quando comparamos os grupos, não encontramos diferenças significativas em relação aos níveis de medicação. Similarmente, não identificamos diferença significativa dos níveis séricos de adalimumabe quando ao uso de imunossupressor concomitante.
CONCLUSÃO: Nossos resultados descrevem uma amostra de pacientes com DC em uso de adalimumabe em um centro de referência. As concentrações séricas não diferiram entre os pacientes em remissão atividade, e entre pacientes com e sem uso de imunomoduladores.
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PALAVRA-CHAVE: Doença de Crohn; Adalimumabe; Anticorpos monoclonais; Anti-TNF alfa