RESUMO
INTRODUÇÃO: A doença causada pelo vírus SARS-COV-2 surgiu em Wuhan, na China, em 2019 e se espalhou rapidamente pelo mundo, afetando a saúde, o modo de vida e a educação. Varias cepas se seguiram a original produzindo efeitos de diferentes dimensões, até que vacinação fosse ampliada. O distanciamento e o eventual isolamento social intensificou os danos psicológicos da pandemia, podendo levar a mudanças no apetite e no sono e consumo excessivo de álcool ou drogas ilegais.
OBJETIVOS: O objetivo do presente estudo foi compreender os efeitos do distanciamento social nos hábitos, aspectos demográficos e níveis de estresse, ansiedade e depressão devido ao contexto de pandemia da Sars-CoV-2, em alunos de medicina ingressantes em 2020, 2021 e 2022. Objetivos Específicos: Mensurar os níveis presentes ou não de ansiedade, depressão e estresse dos discentes da Medicina ingressantes em 2020,2021 e 2022 ; Verificar os impactos da pandemia de Covid-19 na rotina: atividade física, alimentação e sono, dos estudantes de medicina dos anos acima analisados; Comparar, se presentes, os níveis de ansiedade, depressão e estresse quanto a repercussões específicas na rotina dos estudantes: atividade física, alimentação e sono, considerando-se o ingresso no ano de 2020, 2021 e 2022;
MÉTODOS: Estudo exploratório, observacional e quantitativo. A amostra é composta por alunos ingressantes na medicina entre 2020 e 2022 inclusive, de ambos os gêneros, entre 18 e 30 anos, selecionados por sorteio. Foram utilizados dois instrumentos para coleta de dados disponibilizados no Google Forms: Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS-21) e um questionário fechado sobre aspectos socioeconômicos e informações sobre comportamentos, sentimentos e dificuldades durante a pandemia de COVID-19. Estudos anteriores mostram que o EADS-21 é um teste eficiente na correlação de ansiedade, depressão e estresse. Para preservar a identidade dos respondentes, todos os e-mails coletados pelo Google Forms® foram descartados.
RESULTADOS: Amostra de 81 alunos, com maior adesão do sexo feminino (57,32%) e IMC normal (18,5 ~ 24,9kg/m2) (65,85%). Obesidade e sobrepeso estavam presentes em 24,4 % dos participantes e baixo peso em 10% da amostra. Quanto à renda familiar, 48,78% dos participantes afirmaram ter renda entre 7 a 9 salários mínimos ou mais. 37,8% renda de até 6 salários mínimos. Eram prevalentes os participantes ingressantes em 2022 (54,88%), e em 2021 e 2022 respectivamente, 26,83% e 18,29%..
51% dos ingressantes em 2022 apresentaram níveis elevados de sintomas de depressão, o que pode significar impacto do confronto de suas expectativas com o curso, com a própria performance nele e com a realidade quando do retorno a atividades presenciais. Repercussões remanescentes do período pandêmico podem estar presentes até mesmo em razão de terem sido acometidos por COVID-19. Os alunos que afirmaram ter confirmado contaminação por Covid-19 ou sintomas não verificados, afirmaram terem sentido preocupação de forma muito ou extremamente intensa em 2022 (p=0,0248, Teste Exato de Fisher). Na segunda onda, os alunos com IMC de sobrepeso também apresentaram sentimentos de medo (p=0,0279, Teste Kruskal-Wallis; complemento Dunn p = 0,0039).
Havia correlação entre os níveis de depressão e os sexos (teste exato de Fisher): muito significativa entre sintomas “severos” ou “extremamente severos” e o sexo feminino (76,47%) enquanto no sexo masculino, com sintomas “moderados” (73,33%) (p=0,0081). Sobrepeso (25~29,9kg/m²) tinha correlação com diagnóstico de depressão( Teste U de Mann-Whitney): 2020 (média IMC:26,25) e 2021( IMC:26,01) p=0,0129, em 2022 (IMC:27,49) o p=0,0002. E idade mais elevada : em 2020 o p=0,012 (média: 22,80 anos), em 2021(média:23,00 anos) 0,0033 e 2022 (Média:22,91) 0,0075. Nesta amostra quanto maior o IMC e a idade, maior a prevalência de participantes com diagnóstico de depressão. O uso de antidepressivos sob tratamento, tinha correlação com idade mais elevada (p=0,0090,Mann-Whitney) e IMC mais elevado (no nível de sobrepeso)(p=0,0052, Mann-Whitney). Relativo à prática de exercícios físicos, aqueles que indicaram não praticar nenhum tipo de atividade, afirmaram ser a falta de tempo a principal razão. Entre aqueles que praticavam algum tipo de atividade física, a musculação era a modalidade com maior adesão em todos os anos, com certa progressão de aderência com o passar dos anos (de 2020 para 2021 e 2022). Aqueles que praticavam prevalentemente não tinham diagnóstico de depressão. Comparado a 2019, o diagnóstico de ansiedade com tratamento médico elevou-se :2020 p= 0.0010 e 2021 p=<0.0001. Isto corrobora a literatura sobre o assunto que demonstra que a atividade física regular melhora o estado psicológico e controla sintomas de depressão e de ansiedade, e fatores predisponentes para estados pró-inflamatórios relacionados ao sedentarismo e fatores de risco do pré-diabetes ou síndrome metabólica. Havia correlação entre o consumo de alimentos processados de 3 a 5a vezes por semana e níveis mais elevados de depressão (p=0.026)(teste Qui-quadrado).
CONCLUSÃO: Níveis elevados recentes de sintomas de depressão podem estar relacionados ao confronto das expectativas com a realidade, especialmente considerando o aumento da frustração em 2022, principalmente entre aqueles com IMC mais elevados.
PALAVRA-CHAVE: Pandemia de SARS-COV-2; COVID-19; Estudantes de Graduação em Medicina; Ansiedade; Depressão; Estresse.
FINANCIAMENTO: NAPES/Unicamp