RESUMO
INTRODUÇÃO: A gestação e a chegada de um bebê representam um período incomparável de mudanças e esperança no futuro. Porém, ao contrário do que se imagina, nem sempre o período gestacional é marcado por alegrias e realizações. Os transtornos mentais perinatais são ocorrências bastante comuns durante a gravidez e estão associados a altas taxas de morbimortalidade materna, fetal e infantil.(1,2) Aproximadamente uma em cada cinco mulheres experimentará dificuldades de saúde mental no período perinatal.(3) Entre os quadros a serem avaliados, destacam-se os Transtornos Mentais Comuns (TMC), termo usado para designar a presença de sintomas depressivos não psicóticos, ansiedade e queixas somáticas.(4)
OBJETIVOS: Analisar as prevalências de TMC, ansiedade e depressão em gestantes atendidas em um serviço universitário através de instrumentos de rastreio e correlacioná-las com dados referentes a complicações maternas e neonatais.
MÉTODOS: O presente trabalho faz parte de um projeto mais amplo denominado “Transtornos mentais comuns em gestantes”. Esse estudo é um recorte quantitativo, longitudinal e prospectivo, dividido em duas etapas: fase de rastreio - realizada através de pesquisa transversal com objetivo de rastrear por escalas padronizadas a prevalência de TMC, ansiedade e depressão nas gestantes em acompanhamento pré-natal no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti – CAISM/ UNICAMP; fase de avaliação dos desfechos - através de levantamento de dados de prontuário referentes ao pré-natal, analisando as condições de nascimento, complicações maternas, neonatais e condições do binômio mãe-bebê. Utilizou-se para avaliação, os seguintes instrumentos previamente validados para população brasileira: Self Reporting Questionnnaire 20 (SRQ-20): desenvolvido pela OMS para detecção de TMC com perguntas voltadas para sintomas depressivos, ansiosos e somáticos. O ponto de corte utilizado foi >=7.(4) Escala de Depressão Pós-Natal de Edimburgo (EPDS): desenvolvida para a identificação de depressão pós-parto, e posteriormente também para quadros gestacionais, para uso em ambientes clínicos e de pesquisa para identificação de depressão durante o período pré-natal; o ponto de corte utilizado foi >=12.(5) Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS): escala com objetivo inicial de identificar os níveis de ansiedade e depressão em pacientes de hospitais clínicos não psiquiátricos.. A HADS é constituída de itens para a avaliação da ansiedade (HAD-A) e depressão (HAD-D); o ponto de corte foi >=9 para ambas as avaliações. (6) A análise estatística utilizou, para comparação das variáveis categóricas e numéricas o teste Qui-quadrado e, quando necessário, o teste de exato de Fisher (valor de p esperado menor que 0,05). O projeto amplo, do qual este recorte faz parte, foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Pesquisa do CAISM e pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)/UNICAMP, CAAE: 06796818.8.0000.5404, sob número do Parecer Consubstanciado 3.205.849.
RESULTADOS: A população avaliada foi de 355 gestantes. O resultado da aplicação do SRQ-20 indicou uma prevalência TMC entre as gestantes rastreadas de 50,9% (181 gestantes). Em relação a presença de depressão pela Escala EDPS, encontramos que 101 (28,4%) das mulheres foram rastreadas positivamente para depressão. O HADS encontrou que 81 (25,0%) das gestantes estavam acima do ponto de corte para depressão e 145 (40,8%) pontuaram para ansiedade. Ao compararmos as gestantes rastreadas positivamente e negativamente para TMC com desfechos gestacionais e neonatais, houve associação estatisticamente significativa de TMC com: número de consultas de pré-natal realizadas menor que seis e rotura prematura de membranas. Já a comparação de gestantes triadas para depressão mostrou associação de depressão com número de consultas de pré-natal realizadas menor que seis e necessidade de suporte psicológico materno antes da alta. O rastreio positivo para ansiedade teve associação estatística com número de consultas de pré-natal realizadas menor que seis e complicações neonatais (hipotonia e recém-nascido pequeno para idade gestacional).
CONCLUSÃO: Cuidar da saúde mental materna durante a gestação desempenha um papel importante na saúde do binômio mãe-bebê. A pesquisa evidenciou índices de prevalência elevados de TMC, depressão e ansiedade, relacionados a menor adesão ao cuidado e complicações gestacionais e neonatais.
BIBLIOGRAFIA: 1. Najia A et al. Maternal mental health: The missing “m” in the global maternal and child health agenda, Seminars in Perinatology, 2015.
2. Kokkinaki et al. COVID-19 Pandemic-Related Restrictions: Factors That May Affect Perinatal Maternal Mental Health and Implications for Infant Development. Frontiers in pediatrics, 2022; 846627.
3. Pilav S et al. A qualitative study of minority ethnic women's experiences of access to and engagement with perinatal mental health care. BMC pregnancy and childbirth, 2022;22(1), 421.
4. Silva RA Da et al. Transtornos mentais comuns e auto-estima na gestação: prevalência e fatores associados. Cad Saude Publica. 2010; 26(9):1832–8.
5. Howard LM et al. Accuracy of the Whooley questions and the Edinburgh Postnatal Depression Scale in identifying depression and other mental disorders in early pregnancy. Br J Psychiatry. 2018;212(1):50-56.
6.Botega NJ. et al. Transtornos do humor em enfermaria de clínica médica e validação de escala de medida (HAD) de ansiedade e depressão. Rev. Saúde Pública, v. 29. 1995; p. 359-363.
PALAVRA-CHAVE: gestação, saúde mental, complicações da gravidez