RESUMO
INTRODUÇÃO: A DC se caracteriza por um quadro inflamatório intestinal crônico, podendo afetar desde a boca até o ânus. Essa inflamação exacerbada e descontrolada pode resultar em danos e incapacidade progressiva do intestino. Até o momento, ainda sem cura, o objetivo da terapia medicamentosa é induzir e manter a remissão clínica e endoscópica, evitando complicações e cirurgias futuras. Medicamentos que atuam inibindo a cascata inflamatória, como o anticorpo monoclonal adalimumabe se mostraram bons agentes anti-inflamatórios que auxiliam no controle da doença. Entretanto, medicações biológicas podem se tornar gatilho para o sistema imune, levando à perda de resposta ao tratamento. A detecção de mecanismos associados à imunogenicidade seguramente seria benéfica no manejo dos pacientes com DC, seja pela possibilidade de ajuste da dose terapêutica empregada, seja pelo entendimento da perda ou não da resposta ao agente biológico.
OBJETIVOS: Caracterizar os pacientes DC atendidos no Gastrocentro e Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas que utilizam o adalimumabe como terapia e avaliar a sua resposta frente a medicação.
MÉTODOS: Foram incluídos 40 pacientes, dos quais foram coletadas informações a respeito da história clínica, como dados relativos à DC, ao tratamento com o Adalimumabe, além de exames de imagens e laboratoriais. Os pacientes foram classificados como DC em atividade (DCA) ou remissão (DCR), de acordo com achados obtidos através de enteroressonância ou ileocolonoscopia. Os níveis séricos da medicação foram mensurados a partir de ensaios de fluxo lateral e ELISA, e a imunogenicidade foi avaliada a partir da quantificação da formação de imunocomplexos por ensaio de ELISA. O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP.
RESULTADOS: Dos 40 pacientes incluídos, 27 foram classificados como DCA e 13 como DC. Dentre o grupo DCA, houve predomínio de pacientes com acometimento ileal e fenótipo inflamatório. Destes, 12 apresentavam acometimento perineal e 17 manifestações extra-intestinais. Quanto à terapia com o adalimumabe, houve uma mediana de 36 meses de uso da medicação, com a maioria utilizando medicações imunossupressoras concomitante. Laboratorialmente, os pacientes em atividade apresentaram uma mediana de PCR de 4,66 mg/mL e 790,5 ug/g de calprotectina fecal. Em relação aos níveis séricos, através do ensaio de fluxo lateral, quatro pacientes apresentaram níveis subterapêuticos, oito apresentaram níveis ideais e quinze supraterapêuticos. Quando mensurados por ensaio de ELISA, 25 apresentaram níveis positivos de adalimumabe. Em relação ao grupo DCR, houve predomínio do acometimento colônico e fenótipo fistulizante, com a maioria dos pacientes apresentando acometimento perineal e sem manifestações extra-intestinais. Similarmente ao grupo DCA, houve uma mediana de 36 meses de uso de adalimumabe, com 8 pacientes utilizando concomitantemente imunossupressores. Os achados laboratoriais demonstraram mediana de PCR de 1,45mg/mL e 66 ug/g de calprotectina fecal. Um paciente apresentou nível subterapêutico, dois apresentaram níveis ideais e dez supraterapêuticos. A quantificação por ELISA demonstrou que 12 pacientes apresentavam níveis positivos para adalimumabe. Quanto à mensuração sérica de adalimumabe, não encontramos diferenças significativas em relação aos níveis de medicação em ambos grupos. Similarmente, não identificamos diferença significativa dos níveis séricos de adalimumabe quando ao uso de imunossupressor concomitante. Em relação à quantificação de imunocomplexos, houve uma tendência (p=0.063) quanto a formação destes pelo grupo DCA.
CONCLUSÃO: Nossos resultados permitiram caracterizar uma amostra da população de pacientes com DC que fazem uso de adalimumabe em um hospital terciário. Não houve diferença no nível sérico da adalimumabe entre os pacientes em remissão e atividade da doença, nem entre aqueles com e sem uso de imunossupressor.
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PALAVRA-CHAVE: Doença de Crohn, adalimumabe, anticorpos monoclonais.