EXPERIÊNCIAS EMOCIONAIS NOS TEMPOS DA PANDEMIA: UM ESTUDO CLÍNICO-QUALITATIVO DE RELATOS DE MÉDICOS E ENFERMEIROS BRASILEIROS TRABALHANDO NO ATENDIMENTO INTENSIVO À COVID-19 EM UM HOSPITAL PÚBLICO UNIVERSITÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO: O contexto pandêmico provocado pelo surgimento e disseminação do coronavírus no Brasil e em todo mundo, aporta para uma demanda específica, que se refere à saúde mental dos profissionais de saúde, que têm trabalhado arduamente no manejo dos pacientes diagnosticados com a COVID-19, em especial, àqueles que têm trabalhado nas UTIs dos hospitais, com finalidade de oferecerem cuidados intensivos e extensivos para o público referido. Além das implicações no que se refere à vida laboral, como a sobrecarga de trabalho, esgotamento emocional, o aumento significativo de quadros depressivos, ansiedade e síndrome de burnout, elementos da esfera pessoal, familiar e social, também têm sido afetados, e em decorrência da pandemia, sido acentuados e potencializados os impactos emocionais elencados. As percepções sobre as experiências emocionais, sobretudo pela ótica dos médicos e enfermeiros, nos tempos da pandemia, são de grande importância como tema de estudo. Em sujeitos com atividades laborais predominantemente intelectuais, a investigação de aspectos simbólicos associados constitui como objeto relevante. Esses aspectos precisam ser conhecidos para manejo emocional e pragmático, considerando os elementos simbólicos como função estruturante da vida das pessoas.

OBJETIVOS: O presente estudo, objetivou explorar/interpretar significados emocionais relatados por profissionais de saúde, médicos e equipe de enfermagem, relacionados ao manejo de pacientes diagnosticados com COVID-19, internados no Hospital das Clínicas, situado na Universidade Estadual de Campinas.

MÉTODOS: O método empregado, consistiu no desenho da Pesquisa Clínico-Qualitativa (PCQ), de abordagem investigativa humanística desenvolvida para settings clínicos. No que se refere aos participantes, a amostra foi construída intencionalmente, incluindo médicos e enfermeiros – da UTI do Hospital de Clínicas – HC/ UNICAMP, Campinas SP, e fechada por saturação de informações teóricas. As técnicas empregadas foram entrevistas semidirigidas de questões abertas em profundidade, notas de campo com anotações de observação do pesquisador que realizou a coleta dos dados. O tratamento de dados foi feito utilizando a Análise Clínico-Qualitativa de Conteúdo (ACQC). O arcabouço teórico se ancora nos fundamentos conceituais presentes na Psicologia Médica e na psicodinâmica das relações.

RESULTADOS: Os resultados se referem às entrevistas realizadas com um grupo composto por seis entrevistados, dois médicos e quatro enfermeiros. Durante a análise dos dados, emergiram as categorias: (1) Tensões e o apoio familiar: desencadeadores de experiências emocionais ambivantes; (2) A negação como defesa ou mecanismo de adaptação psicossocial?; (3) O tempo psíquico e a ausência de simbolizações frente a pandemia.

CONCLUSÃO: Como conclusão identificamos como elementos de cunho simbólicos, as angústias dos profissionais de saúde em manter saudáveis seus respectivos familiares, além do medo prevalente e a insegurança bastante demarcada. Conclui-se que a medida em que o profissional de saúde cuida e está junto do paciente em leito de UTI, o paciente também está junto ao médico e enfermeiro, consolidando e suprindo necessidades e carências afetivas mútuas, devido ao contexto de saúde e doença presente, e a ausência ou impossibilidade de poder estar junto com quem amam, ou seja, seus familiares. É de suma relevância que um olhar sensível seja direcionado para o cuidado de quem cuida, sobretudo para a saúde mental, em nosso caso, dos profissionais de saúde de linha de frente no combate à pandemia, para que sejam melhor compreendidos os manejos emocionais dos próprios profissionais frente às experiências emocionais tão candentes.

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PALAVRA-CHAVE: Coronavírus, pandemia, saúde mental, experiências, pesquisa clínico-qualitativa