RESUMO
INTRODUÇÃO: A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o excesso de gordura corporal, em quantidade capaz de gerar malefícios à saúde do indivíduo (1). Nesse âmbito, o quadro da obesidade é estabelecido quando o IMC do paciente é superior a 30 Kg/m2.
Tendo em vista a relevância da obesidade, discute-se seu tratamento, que inclui duas possibilidades: clínica ou cirúrgica. A crítica substancial que acompanha o tratamento clínico consiste na dificuldade crescente na perda e na manutenção do peso a longo prazo (2).
Atualmente, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, baseado na RESOLUÇÃO Nº 2.131, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2015, as cirurgias aprovadas mais realizadas no país são o bypass gástrico em Y de Roux, a gastrectomia vertical e o duodenal switch (3).
O bypass gástrico com desvio intestinal em Y de Roux é a técnica mais realizada no Brasil, compreendendo, aproximadamente, 75% das cirurgias bariátricas (3). Nesse sentido, a técnica do bypass gástrico consiste em um procedimento misto (4,5,6). Apesar de sua eficácia, diversas complicações cirúrgicas podem ocorrer, como: fístula na linha de grampeamento, sangramento gástrico e intestinal, estenose na anastomose e obstrução intestinal, dentre outras. Isso sintetiza o grau de complexidade da execução correta da técnica, exigindo uma experiência prévia do cirurgião (7).
Tendo em vista as dificuldades múltiplas impostas pelo by-pass gástrico em Y de Roux, em 1997 Robert Rutledge propôs uma nova técnica cirúrgica denominada Bypass Gástrico com Anastomose Única (One Anastomosis Gastric Bypass - OAGB) (8). O objetivo desse novo procedimento seria simplificar o já consolidado bypass, reduzindo tempo operatório e níveis de complicação.
Diante disso, a técnica pode ser realizada por via laparoscópica, com o posicionamento de cinco trocárteres, que promovem a princípio, a criação de uma bolsa gástrica longa e estreita, com capacidade para 50 a 150 mL. Posteriormente é realizada a anastomose única gastroenteral latero-lateral, conectando a bolsa gástrica ao jejuno, distando, geralmente, 200 cm do ângulo de Treitz (8). O OAGB apresenta resultados semelhantes, por vezes, superiores ao bypass, mas traz consigo algumas críticas. O principal obstáculo consiste na possibilidade de refluxo biliar para a bolsa gástrica, evento que possui potencial carcinogênico a longo prazo (9,10,11,12).
Ademais, uma adversidade adicional ao OAGB baseia-se nas possíveis alterações nutricionais do paciente submetido à cirurgia. Dentre as queixas mais recorrentes no pós-operatório encontram-se vômitos e quadros de diarreia (13,14). Esses dois componentes, além das dificuldades alimentares do paciente, podem conduzir a um quadro de desnutrição (15,16). Em 2009, a ASPEN – American Society for Parenteral and Enteral Nutrition – buscou implementar uma padronização na avaliação de desnutrição, conforme os seguintes pontos: ingestão suficiente de energia; perda de peso, perda de massa muscular; perda de gordura subcutânea; e acúmulo de fluido. Além disso, exames laboratoriais também foram analisados (17,18,19,20).
Em suma, frente à ineficiência do tratamento clínico da obesidade, da complexidade técnica da cirurgia de gastroplastia em Y de Roux, e dos potenciais resultados da técnica no OAGB, faz-se necessário mais estudos quanto aos benefícios e malefícios dessa nova técnica, a fim de respaldar mudanças no manejo cirúrgico dos pacientes obesos candidatos à cirurgia bariátrica (21). É válido destacar, ainda, que a técnica do OAGB é realizada no Brasil apenas em âmbito de pesquisa, sem dispor de estudos na população brasileira. Trata-se de uma técnica e de resultados inéditos no Brasil.
OBJETIVOS: Caracterização bioquímica de 60 pacientes submetidos a cirurgia bariátrica pela técnica do Bypass Gástrico de Anastomose Única. Verificação dos valores séricos de: albumina, creatinina, vitamina B12, hemoglobina, ferro, ferritina, glicose, hemoglobina glicosada e zinco.
MÉTODOS: Estudo retrospectivo realizado no Ambulatório de Obesidade do HC Unicamp.
Projeto previamente avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, com parecer n. 1.957.057/Unicamp (CAAE: 61556216.2.0000.5404).
Serão avaliados de forma retrospectiva todos prontuários eletrônicos de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica com a técnica do OAGB no serviço, entre os anos de 2017 e 2019, com casuística estimada em 60 pacientes.
RESULTADOS: As principais alterações nutricionais encontradas até o presente momento do estudo são: no pré-operatório, 20,8% de pacientes com aumento de vitamina B12, enquanto 25% e 22,5% com déficit de ferro e ferritina, respectivamente; 71,7% com carência de zinco.
No pós-operatório precoce, 19,6% apresentavam vitamina B12 elevada, porém, a deficiência de ferro e ferritina era de 27,45% e de 20%. O zinco esteve alterado em 67,3% dos pacientes.
Por fim, no pós-operatório tardio, os resultados mantiveram-se semelhantes ao precoce.
Para os cálculos, a casuística de cada parâmetro variou de acordo com a disponibilidade dos exames, com uma média de 43 pacientes, e uma mediana de 42,57 pacientes. Média de idade de 37,4 anos.
CONCLUSÃO: A técnica cirúrgica do Bypass Gástrico de Anastomose Única é eficiente, porém necessita de adequado seguimento pós-operatório devido potenciais deficiências de vitaminas e oligoelementos.
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PALAVRA-CHAVE: Obesidade; Cirurgia Bariátrica; Bypass Gástrico; OAGB