XIII Semana de Pesquisa - 2022


Voltar a lista dos aprovados


Nutrição artificial em paciente com câncer de esôfago avançado: qualidade de vida e intervenção psicológica

Autores: Juliana Carron, Carmen Silvia Passos Lima, Gustavo Jacob Lourenço, Daniel Paixão Pequeno, Diego Rodrigues Silva, Clarissa de Rosalmeida Dantas


Link: https://www.youtube.com/watch?v=WtiIYygM0Tc


RESUMO

INTRODUÇÃO: O câncer de esôfago (CE) é um tumor com alta morbidade e mortalidade (Huang & Yu, 2018). A disfagia, a odinofagia, náuseas, vômitos, sangramento gastresofágico e perda de peso são as principais queixas desses pacientes (Short et al., 2017). A maioria deles apresenta a doença em estágio avançado ao diagnóstico, necessitando do apoio de uma equipe de cuidados paliativos (CP) para manejo das necessidades físicas, psicológicas e espirituais (Miller & Bozeman, 2012).

OBJETIVOS: Interesse do relato: Esse relato de experiência descreve um caso de uma paciente com CE avançado em CP com dificuldades frente a um procedimento invasivo, na qual foi assistida pela equipe de CP do nosso serviço. O desfecho, mesmo após as intervenções da equipe de psicologia, foi a recusa da inserção da sonda nasogástrica pela paciente.

MÉTODOS: Relato de experiência (método não se aplica)

RESULTADOS: Uma mulher com 71 anos com CE avançado foi encaminhada para o Serviço de Oncologia do Hospital de Clínicas da UNICAMP. Ela não apresentava nenhum dos fatores de risco já conhecidos para o CE, como o tabagismo, o etilismo ou o refluxo esofágico. Exames de imagem mostraram uma doença avançada, na qual a paciente foi elegível para os procedimento de CP. Ela apresentava severa perda de peso e anemia, sendo indicada a inserção de uma sonda nasogástrica para ganho de peso e melhora da qualidade de vida. No entanto, a equipe de nutricionistas relatou a recusa da paciente à inserção da sonda e a encaminhou para o atendimento psicológico, com o intuito de compreender os motivos para tal recusa e possivelmente aconselhar seu uso. Esse fato demonstra uma característica comum da equipe multiprofissional de CP, encaminhar o paciente para um profissional da saúde mental que o “convença” a realizar um procedimento invasivo. Sabemos que a equipe de CP procura pelo bem estar físico do paciente, porém, observamos que a ideia de persuadir o paciente a realizar um procedimento desse tipo advém da ansiedade da própria equipe de CP. Muitas vezes, essa equipe tem a concepção de que para obter o sucesso de um tratamento, devemos realizar todos os procedimentos disponíveis. Nesses casos, o psicólogo da equipe de CP deve manejar tanto as questões emocionais do paciente como as questões da própria equipe de saúde, demonstrando que toda decisão a ser tomada deve transpassar pelos princípios e crenças dos pacientes e de seus familiares. Em nosso caso, a equipe de psicologia utilizou três técnicas mais comuns para esse tipo de demanda: a) apresentação dos benefícios e malefícios; b) compreensão das fantasias conscientes e inconscientes do paciente frente ao procedimento; c) encontrar estratégias para ajudá-lo a tomar a decisão mais condizente aos seus interesses. Dessa maneira, os mecanismos de enfrentamento da paciente e a compreensão e a intervenção frente ao senso de autonomia e aos seus valores também foi avaliada. A paciente apresentou mecanismos de enfrentamento pela religião, no qual seus sentimentos foram validados e uma compreensão mais abrangente das decisões da paciente foram alcançados. A paciente também relatou que sua capacidade de ainda realizar a sua higiene pessoal era a parte mais importante dentro do escopo de sua qualidade de vida, pois ela estava impossibilitada de realizar os cuidados da casa que demandavam muito de seu corpo, dessa forma a autonomia para os cuidados pessoais era de extrema importância. Igualmente, as refeições com a família eram um momento de normalidade para a paciente, que mesmo se alimentando pouco, por via oral, mantinha essa parte da rotina regular, uma vez que muitas outras partes de sua rotina foram alteradas por conta da doença. Compreendendo a relevância dos aspectos de sua autonomia, esse sentimento foi trabalhado no atendimento psicológico com foco na paciente e não especificamente no procedimento invasivo sugerido. Assim, mesmo com a recusa da paciente da inserção da sonda nasogástrica, a equipe de psicólogos avaliou a intervenção mental como bem-sucedida, uma vez que ela permitiu um criar um espaço para que os conteúdos emocionais da paciente fossem manifestados de forma libertadora, e todos seus valores foram levados em consideração durante todo o processo de decisão frente ao procedimento. Desta forma, a equipe de CP aceitou a decisão da paciente e o profissional da nutrição sugeriu uma nova dieta para a paciente. Após 15 dias da sua última consulta em nosso ambulatório, a paciente faleceu em um hospital próximo de sua residência. Os serviços de psicologia e de assistência social foram disponibilizados para os familiares da paciente após seu falecimento.

CONCLUSÃO: Nosso relato de experiência sugere que intervenções psicológicas podem auxiliar os pacientes em CP em suas diversas necessidades, principalmente em decisões frente a procedimentos invasivos que podem influenciar a sua qualidade de vida, enquanto vida existir.


BIBLIOGRAFIA: Huang, F. L., & Yu, S. J. (2018). Esophageal cancer: Risk factors, genetic association, and treatment. Asian J Surg, 41(3), 210-215. https://doi.org/10.1016/j.asjsur.2016.10.005 Miller, K. R., & Bozeman, M. C. (2012). Nutrition therapy issues in esophageal cancer. Curr Gastroenterol Rep, 14(4), 356-366. https://doi.org/10.1007/s11894-012-0272-6 Short, M. W., Burgers, K. G., & Fry, V. T. (2017). Esophageal Cancer. Am Fam Physician, 95(1), 22-28.



PALAVRA-CHAVE: Câncer de esôfago avançado, Cuidados paliativos, Nutrição artificial, Qualidade de vida, Intervenção psicológica



ÁREA: Clínica Médica

NÍVEL: Doutorado

FINANCIAMENTO: Capes



Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Estadual de Campinas
Correspondência:
Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP 13083-887 – Campinas, SP, Brasil
Acesso:
R. Albert Sabin, s/ nº. Cidade Universitária "Zeferino Vaz" CEP: 13083-894. Campinas, SP, Brasil.

Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Núcleo de Tecnologia da Informação - FCM