RESUMO
INTRODUÇÃO: O câncer da tireoide é o mais comum considerando-se a região da cabeça e pescoço e, é considerado a neoplasia maligna mais frequente do sistema endócrino, com maior ocorrência entre as mulheres. Sua incidência tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas, enquanto a mortalidade tem diminuído constantemente no mundo1, o que pode estar relacionado ao diagnóstico mais oportuno, além do prognóstico favorável dos tipos histológicos mais usuais, os carcinomas diferenciados2. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, os carcinomas pouco diferenciados representam cerca de 10% dos casos, assim como os indiferenciados. Estimativas apontaram para 13.780 novos casos em 2020, dos quais 1.830 em homens e 11.950 em mulheres, e correspondem a um risco estimado de 1,72 casos novos a cada 100 mil homens e 11,15 para cada 100 mil mulheres3. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença incluem história de irradiação do pescoço, radioterapia em baixas doses, história familiar de câncer de tireoide e dieta pobre em iodo4 . Obesidade, tabagismo, exposições hormonais e poluentes ambientais, também elevam o risco de desenvolvimento da doença5.
OBJETIVOS: Verificar entre os adultos e idosos que referiram diagnóstico médico de câncer de tireoide, a média de idade do primeiro diagnóstico em homens e mulheres, assim como a ocorrência de acordo características sociodemográficas.
MÉTODOS: Estudo realizado com dados de 86.510 adultos com idade ≥ 20 anos que participaram da Pesquisa Nacional de Saúde, inquérito nacional realizado em 2019 (PNS 2019). A ocorrência de câncer foi verificada pela seguinte pergunta: “Algum médico já lhe deu o diagnóstico de câncer?” (sim ou não) e, para os que responderam positivamente à questão: “Que idade o(a) Sr(a) tinha no primeiro diagnóstico de câncer”? E por fim: “Em geral, seu tratamento, ou algum problema provocado pelo câncer, limita as suas atividades profissionais ou habituais (tais como trabalhar, realizar afazeres domésticos etc.)?”, classificada, neste estudo com as categorias: não limita e limita um pouco/ moderadamente/intensamente/muito intensamente. Entre os que referiram diagnóstico médico de câncer (n = 2.313), foram estimadas a proporção de câncer de tireoide (n=140), a média de idade do primeiro diagnóstico e presença de limitação em decorrência da doença, com os respectivos intervalos de confiança de 95%. Também, a distribuição dos casos de acordo com as características sociodemográficas. As análises foram realizadas no Stata14.0, considerando-se as ponderações do desenho amostral da pesquisa.
RESULTADOS: Dos adultos que referiram diagnóstico médico de câncer, 6,6% (IC95%:5,3 - 8,2) eram de tireóide, e a média de idade do primeiro diagnóstico foi de 43,4 anos (IC95%:40,8 - 45,9), sem diferença entre os sexos (p > 0,05). Cerca de 31% (IC95%:28,0 - 33,9) referiu que o tratamento ou algum problema provocado pelo câncer, limitou as suas atividades profissionais ou habituais. Em relação à distribuição dos casos, 83,0% (IC95%:75,2 - 88,7) ocorreu em mulheres, 68,1% (IC95%: 61,1 - 74,3) na faixa etária de 20 a 59 anos, 59,0% (IC95%:52,0 - 65,6) dos que se autodeclararam brancos, 61,7% (IC95%:51,4 - 71,0) viviam com cônjuge, 55,1% (IC95%: 44,2 - 65,4) tinham ensino superior incompleto ou completo. Ainda, 61,1% (IC95%: 48,7 - 72,2) tinham excesso de peso, 59,2% (IC95%: 49,0 - 68,8) tinham plano de saúde e 38,1% autoavaliaram sua saúde como muito regular/ruim/muito ruim à época da pesquisa.
CONCLUSÃO: O perfil das pessoas que tiveram diagnóstico de câncer de tireoide (mulheres, maior escolaridade e com posse de plano de saúde, entre outras) pode explicar, parcialmente, a maior incidência que vem sendo observada nas últimas décadas, em decorrência do sobrediagnóstico, particularmente após a introdução de novas técnicas de diagnóstico (ultrassonografia). Cerca de 30% referiram limitação e quase 38% consideravam sua saúde regular/ruim ou muito ruim. Deve-se considerar que as pessoas menos favorecidas economicamente e que dependem exclusivamente do sistema Único de Saúde (SUS), também têm o direito constitucional ao diagnóstico e tratamento oportuno do câncer de tireóide com referência a outro nível de atenção, o que confere novos desafios à Saúde Pública no Brasil, diante do aumento do número de casos.
BIBLIOGRAFIA: 1. Bray F, Colombet M, Mery L, Piñeros M, Znaor A, Zanetti R and Ferlay J, editors. Cancer incidence in five Continents, Vol. XI [Internet]. Lyon: International Agency for Research on Cancer; 2017 [cited 2022 Apr 02]. Available from: https://ci5. iarc.fr/CI5-XI/Default.aspx
2. La Vecchia C, Malvezzi M, Bosetti C, Garavello W, Bertuccio P, Levi F, et al. Thyroid cancer mortality and incidence: a global overview. Int J Cancer 2015;136(9):2187-95.
3. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2019.
4. American Cancer Society (ACS). Cancer Facts & Figures 2019 [Internet]. Atlanta: ACS; 2019. Available from: https://www.cancer.org/content/dam/cancer-org/research/cancer-facts-and-statistics/annual-cancer-facts-and-figures/2019/cancer-facts-and-figures-2019.pdf
5. Drozd V, Branovan DI, Reiners C. Increasing Incidence of Thyroid Carcinoma: Risk Factors and Seeking Approaches for Primary Prevention. Int J Thyroidol 2020;13(2):95-110.
PALAVRA-CHAVE: Neoplasias; Câncer da Tireoide; Doença Crônica; Inquéritos Epidemiológicos; Prevalência.