RESUMO
INTRODUÇÃO: O número de pessoas convivendo com transtornos mentais é crescente em todo mundo. Esse tipo de adoecimento impacta a qualidade de vida, com prejuízos na participação social em diversas dimensões da vida humana, como trabalho, autocuidado, sociabilidade e lazer (JAMES et al, 2017; OMS, 2013).
OBJETIVOS: Este estudo buscou analisar as mudanças percebidas pelos usuários da RAPS de um município paulista de médio porte a partir de sua inserção nos serviços em diferentes dimensões de sua vida.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo do tipo transversal, analítico, conduzido com 341 usuários da RAPS de um município paulista de médio porte entre os meses de setembro e novembro de 2019. Foi realizada uma amostragem não probabilística por conveniência. Foram entrevistados usuários com idade superior a 18 anos, em acompanhamento no serviço no momento da entrevista, tendo realizado pelo menos uma consulta nos últimos 3 meses.
O desfecho do estudo foi a melhora percebida pelos usuários dos serviços da RAPS a partir da sua inserção no serviço. Para avaliação do desfecho foi aplicada a Escala de Mudança Percebida-Pacientes (EMP). Essa escala visa avaliar os resultados do tratamento recebido em serviços de saúde mental, a partir da perspectiva dos próprios pacientes e possui 19 itens que avaliam as mudanças percebidas pelos mesmos.
Também foram incluídas co-variáveis a fim de identificar os fatores que contribuem ou não para a percepção de melhora entre os usuários. Nesse sentido, para além de estatística descritiva utilizou-se Regressão de Poisson com ajuste robusto de variância representada por valores de razão de prevalência (RP) e intervalo de confiança de 95% (IC95%). Para tornar essa avaliação possível, optou-se por um desfecho dicotômico. Portanto, utilizou-se a classificação proposta por Franzmann et al (2017) na qual escores iguais ou superiores a 2,51 foram considerados como indicativos de melhora.
RESULTADOS: Dos usuários entrevistados a maioria eram homens(51,6%), de cor branca (55,7%), com faixa etária predominante entre 31 a 60 anos (69,5%) e estudado entre 5 e 8 anos (42,2%). Apresentavam renda familiar per capita entre meio salário e 1 salário mínimo (47,9%) e sem trabalho remunerado (77,4%). A maioria dos usuários possuía diagnóstico de transtornos afetivos e neuróticos (35,7%) ou de uso de substâncias psicoativas (24,3%), com tempo de tratamento no serviço há até um ano de (34,9%) dos indivíduos estavam até 5 anos (30,7 %) e mais de 10 anos no serviço (34,3%).
Foram identificadas melhoras em todas as subescalas. Na subescala Aspectos Psicológicos e Sono, o escore médio foi de 2,53 (DP = 0,50), sendo observada melhora em 57,1% dos casos. Na subescala Relacionamentos e Estabilidade Emocional, o escore médio foi de 2,52 (DP = 0,51), havendo um percentual de melhora de 53,3% dos casos. A subescala Ocupação e à Saúde Física apresentou o menor escore: 2,39 (DP = 0,49), sendo a subescala com menor índice de melhoras, 49,5% dos casos.
Em relação aos itens investigados pela escala, as maiores porcentagens de melhora percebida pelos usuários se apresentam nos itens: interesse pela vida (69,9%), confiança em você mesmo (68,0%) e interesse em trabalhar ou se ocupar com alguma coisa (67,1%). A sexualidade foi o item que mais pontuou quanto à ausência de melhora (51,3%). Já os itens em que foram observados maiores percentuais de piora foram energia (22,8%), sexualidade (22,5%) e sono (21,1%).
Na análise ajustada, 3 variáveis apresentaram associação com o desfecho (p < 0,05), sendo elas participação em grupos (p = 0,018); satisfação com as relações familiares (p = 0,015); satisfação com o serviço (p = 0,030). Usuários que participam em atividades de grupo apresentavam razão de prevalência maior de melhora percebida quando comparados com aqueles que não participavam dessas atividades (RP= 1,45; IC: 1,06-1,99). Indivíduos com maior satisfação nas relações familiares apresentaram maior razão de prevalência do desfecho quando comparados com indivíduos mais ou menos satisfeitos (RP= 0,50; IC: 0,29-0,86) e indivíduos insatisfeitos (RP= 0,33; IC: 0,17-0,65). Indivíduos que apresentavam insatisfação com os serviços apresentaram menor razão de prevalência em relação ao desfecho (RP= 0,46; IC: 0,21-0,98).
CONCLUSÃO: Serviços de saúde mental pautados na construção de vínculos sócio-afetivos, tais como participação em grupos, satisfação nas relações familiares e satisfação com o serviço desvelam-se como suporte nos processos de melhoria dos usuários em saúde mental. Aspectos como a inserção ocupacional e saúde física precisam ser aprimorados, pois ainda no país poucos são os espaços de geração de renda direcionados para essa população, além de o oferecimento pautados na atenção integral da saúde que considere ademais dos problemas concernentes à saùde mental as comorbidades associadas a essa doença.
PALAVRA-CHAVE: transtornos mentais, saùde mental