RESUMO
INTRODUÇÃO: A obesidade é uma condição de saúde de caráter multifatorial que atinge cerca de 26,8% dos brasileiros, milhões de pessoas em todo o mundo e que constitui um fator de risco para outras doenças. Cerca de 25% das mortes por doenças crônicas não transmissíveis e 15% das mortes por todas as causas poderiam ser evitadas no Brasil a cada ano, caso houvesse redução no índice de massa corporal (IMC) da população. A prevalência da obesidade, entretanto não é homogênea, sendo as mulheres o segmento mais obeso, em comparação aos homens e historicamente o segmento menos privilegiado no que diz respeito ao acesso a escolarização, renda e outros direitos sociais.
OBJETIVOS: Mensurar a amplitude das desigualdades sociais na prevalência da obesidade em mulheres com 18 anos ou mais residentes no Município de Campinas-SP e comparar os resultados dos inquéritos realizados nos anos de 2008 e 2015.
MÉTODOS: Trata-se de estudo que utilizou os dados dos inquéritos de saúde ISACamp de 2008 e ISACamp Nutri de 2015. Ambos os inquéritos foram representativos da população residente na área urbana do município de Campinas-SP e realizados em base domiciliar. O procedimento amostral dos estudos foi complexo e incluiu sorteio de amostra em 2 estágios: setor censitário e domicílio. Apenas as mulheres com 18 anos ou mais de idade foram incluídas nestas análises. A obesidade foi definida a partir do Índice de Massa Corporal calculado com base nas informações autorreferidas de peso e estatura. Foram feitas estimativas de prevalência global e segundo as condições sociodemográficas faixa etária, raça/cor da pele, renda familiar per capita, escolaridade e posse de plano privado de saúde e testadas as associações por meio do Teste Qui-quadrado de Pearson. Estimou-se também os intervalos de confiança de 95% para todas as prevalências. Para calcular as razões entre as prevalências, e mensurar as desigualdades na prevalência de obesidade em cada ano do estudo, foram utilizadas Regressões Múltiplas de Poisson com variação robusta ajustadas por idade. Todas as análises foram feitas no software Stata versão 14.0 levando e conta os fatores de ponderação.
RESULTADOS: Entre os anos de 2008 e 2015, a prevalência de obesidade em mulheres de Campinas-SP não só aumentou significativamente de 18,8% (IC:15,7%-22,5%) para 26,8% (IC:23,1%-30,8%), como cresceu de forma desigual entre os segmentos sociais. Havia em 2008 uma desigualdade por faixa etária e por renda prejudicando as mulheres mais velhas (RP=1,69 IC:1,28-2,23) e mais pobres (RP=1,77 IC:1,18-2,66). Mas em 2015, a obesidade prevaleceu de forma mais marcante também entre as mulheres negras (RP=1,55 IC:1,21-2,00), com baixo nível de escolaridade (RP=1,65) e entre aquelas que não possuíam plano privado de saúde (RP=1,52 IC:1,10-2,10). Em 2008 portanto, além de menos mulheres obesas, havia menos desigualdade na ocorrência da doença, sendo as mulheres com 40 anos ou mais e aquelas que possuíam renda familiar per capita de até ½ salário-mínimo, as que estavam em pior condição. Já em 2015, as mulheres idosas e aquelas que tinham renda menor que 1 salário-mínimo estavam mais obesas que as adultas e as de maior renda, respectivamente. Além delas, todas as mulheres pretas e pardas em comparação as brancas, e as que completaram no máximo o ensino médio comparativamente as que possuíam nível técnico ou grau superior de escolarização, estavam mais obesas. Em 2015 também, as mulheres que não contavam com plano privado de saúde eram mais obesas do que as que o possuíam.
CONCLUSÃO: Houve significativa ampliação da prevalência de obesidade entre as mulheres de Campinas-SP, com aumento de 8 pontos percentuais entre os anos de 2008 e 2015. Houve também importante ampliação das desigualdades sociais na ocorrência da doença com a incorporação de outros fatores associados. Os resultados indicam a relevância de abordagens de prevenção e controle da obesidade que levem em conta não apenas aspectos biológicos e comportamentais, mas fatores que compõem a estrutura social atual e que se associam com a obesidade. Os resultados confirmam que a obesidade é um problema para além do campo da saúde, que requer intervenções interdisciplinares e que se proponham a modificar a profunda desvantagem social de alguns segmentos em relação a outros.
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PALAVRA-CHAVE: obesidade; desigualdades sociais em saúde; inquéritos de saúde