RESUMO
INTRODUÇÃO: A polineuropatia sensorial-motora diabética (DSPN) é impulsionada pela lesão axonal, que é principalmente mediada pela ativação de receptores para produtos finais da glicação avançada (RAGE). As RAGE são também expressas na camada endotelial, onde intensifica a progressão da aterosclerose. A partir disso, possivelmente a DSPN pode ser considerada um marcador substituto da doença cardiovascular aterosclerótica entre indivíduos T2D.
OBJETIVOS: Procuramos investigar se a DSPN está relacionada com o risco de doença cardiovascular aterosclerótica em indivíduos com T2D.
MÉTODOS: Esta foi uma análise pré-especificada do conjunto de dados do Estudo da Diabetes Brasileira. Os indivíduos T2D foram rastreados para DSPN utilizando o Michigan Neuropathy Screening Instrument (MNSI), que foi considerado alterado em todos os participantes com 4 ou mais pontos em um questionário de 15 perguntas, ou naqueles que obtiveram 2 pontos em exame específico ao pé. O ultrassom doppler da carótida foi realizado para medição da espessura intima-média (C-IMT), e a doença carotídea (DAC) foi considerada para todos com C-IMT superior ao percentil 75 validado para a nossa população pelo Estudo ELSA-Brasil. A relação entre DAC e DP foi estimada por regressão logística binária, ajustada pelas covariáveis: idade, sexo, A1c, LDL-C, hipertensão, e doença cardiovascular prévia.
RESULTADOS: Entre 324 indivíduos (idade: 58+7,1 anos; 85% hipertenso; duração T2D: 9+6 anos; 58,6% masculino; HbA1c: 7,8+1,6%), 134 (41,4%) tinham DSPN e 220 (67,9%) tinham DAC. Em comparação com o não-DSPN, o grupo DSPN tinha uma prevalência mais elevada de DAC (61,1% vs 77,5%; p = 0,002) e valores mais elevados de C-IMT (0,71+0,16mm vs 0,78+0,19mm; p < 0,001). O DSPN estava relacionado com um risco DAC, com um OR de 2,21 (IC 95%: 1,34, 3,64; p = 0,002), que se manteve significativo após realizado ajuste por idade e sexo (OR: 2,31; IC 95%: 1,28, 3,53; p = 0,003), e quando realizado ajuste adicional por A1c, LDL-C, hipertensão e DVC prévia (OR: 3,38; IC 95%: 1,46, 7,81; p = 0,004).
CONCLUSÃO: Em indivíduos T2D, a DSPN está independentemente relacionada com a DAC. Os prestadores de cuidados da saúde devem assim considerar o rastreio de DSPN como uma ferramenta potencial ao avaliar indivíduos com maior risco de eventos cardiovasculares.
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PALAVRA-CHAVE: POLINEUROPATIA , DOENÇA CARDIOVASCULAR , ESTRESSE OXIDATIVO.