Uso de anticorpo aumenta tempo de vida de pacientes com câncer de mama apesar de custos elevados, aponta pesquisa da Unicamp
Publicado por: Camila Delmondes
07 de outubro de 2015

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Pesquisadores da Unicamp realizaram uma revisão sistemática com metanálise de 864 pacientes incluídos em quatro ensaios clínicos randomizados, que avaliaram o tratamento de quimioterapia com ou sem trastuzumabe em pacientes com câncer de mama avançado. Estima-se que no Brasil, aproximadamente 9.800 pacientes façam tratamento paliativo contra o câncer de mama pelo SUS e que, desse total, cerca de 2.500 sejam elegíveis para fazer uso combinado de quimioterapia com trastuzumabe.

O trastuzumabe é um anticorpo monoclonal humanizado recombinante, recomendado por várias diretrizes internacionais para o tratamento de um subtipo específico de câncer de mama denominado HER2 positivo, e já está aprovado pelas principais agências reguladoras em todo o mundo. Em 2013, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o trastuzumabe só para o tratamento adjuvante em pacientes com a doença em fase inicial, e não para a doença na fase disseminada, denominada metastática.

“As Secretarias de Saúde Estaduais vêm notificando uma elevação progressiva nas demandas judiciais para o grupo de pacientes que apresenta câncer de mama metastático e que são impossibilitados de acessar o medicamento pelo Ministério da Saúde. Segundo a Conitec, há inconsistência nos dados de eficácia disponíveis na literatura que sustentem a decisão de disponibilizar a droga para o tratamento dessas pacientes. Nosso objetivo, nesta pesquisa, foi analisar a eficácia da combinação de trastuzumabe à quimioterapia de primeira linha em pacientes com câncer de mama HER2 positivo avançado, bem como avaliar o impacto econômico da incorporação desta droga no SUS”, disse a responsável pela pesquisa Adriana Camargo de Carvalho, do Centro de Evidências em Oncologia (Cevon) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

A pesquisa “Clinical and economical evaluation of Trastuzumab for metastatic breast cancer in Brazil: a public health system perspective” ganhou o prêmio de melhor pôster no 11º Congresso Mundial da Sociedade Internacional de Avaliação de Tecnologias em Saúde (HTAi em inglês), que ocorreu entre os dias 14 e 18 de junho de 2014, em Washington, Estados Unidos. A orientação da pesquisa é do médico oncologista do Hospital das Clínicas da Unicamp André Deeke Sasse. A co-autoria é da professora da FCM da Unicamp Carmen Silvia Passos Lima e do oncologista João Paulo da Silveira Nogueira Lima.

Um estudo de custo-efetividade foi desenvolvido através de um modelo estatístico de Markov que avaliou custos e desfechos da doença neste grupo de pacientes. O impacto orçamentário da incorporação do trastuzumabe ao SUS foi estimado utilizando dados epidemiológicos e econômicos do SUS.

De acordo com a pesquisa, o ressarcimento total do SUS para o tratamento de pacientes em uso exclusivo de quimioterapia com paclitaxel, atualmente, é de R$ 37.941,00. Com a combinação do trastuzumabe à quimioterapia, o custo adicional total estimado pelos pesquisadores da Unicamp é de aproximadamente R$ 42 mil por paciente, o que elevaria os custos individuais totais para cerca de R$ 80 mil.

Quanto à eficácia, este modelo econômico demonstrou um ganho de sobrevida de pouco mais de cinco meses, em média, com a combinação dos dois tratamentos. Estimou-se, ainda, que a incorporação deste anticorpo para o tratamento no contexto paliativo de primeira linha no SUS, geraria um impacto de mais de R$ 63 milhões no orçamento da saúde, já no primeiro ano.

“Nós encontramos evidências na literatura que sustentam a hipótese de que a adição de trastuzumabe à quimioterapia em pacientes com câncer de mama do subtipo HER2 avançado prolonga significativamente o tempo de vida dessas pacientes. Porém, devido aos preços ainda elevados da medicação, a Relação de Custo-Efetividade Incremental (variável analisada em um estudo como esse), ainda encontra-se acima do limiar recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a incorporação de novos medicamentos em países como o Brasil. Este estudo já está sendo analisado pela Conitec-MS e acreditamos que, se uma negociação de preços for feita junto à indústria farmacêutica, esses resultados podem ser mais adequados à realidade nacional e favorecer 2.500 pacientes com câncer de mama atendidas pelo SUS”, disse Adriana.

Sobre o 11º Congresso Mundial da Sociedade Internacional de Avaliação de Tecnologias em Saúde

O HTAi é uma sociedade científica internacional, composta por 59 países, que atua como um fórum de colaboração e compartilhamento de informações e experiências na área de avaliação de tecnologias de saúde. Entre os participantes do fórum estão pesquisadores, agências de avaliação de tecnologias, gestores, acadêmicos e profissionais de saúde.

O tema do encontro este ano foi a melhora da assistência centrada no paciente em uma era de incerteza econômica. A delegação brasileira contou com  85 participantes do Ministério da Saúde, ANVISA, Universidades e profissionais da área. O encontro anual do HTAi é o principal fórum mundial que discute bases conceituais, métodos e aplicações da Avaliação de Tecnologias em Saúde como forma de ampliar a qualidade e acesso a tecnologias efetivas, seguras e eficientes. 



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