Publicação da revista Nature Medicine de 3 de setembro tem como um dos autores a professora Iscia Lopes-Cendes, do Departamento de Medicina Translacional da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O artigo apresenta o programa de trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a implementação equitativa da genômica humana para a saúde global.

Iscia, que também é chair do Technical Advisory Group on Genomics (TAG-G) da OMS, explica que o artigo tem o objetivo de divulgar as ações do grupo no sentido de promover a genômica no contexto da saúde global. O Conselho Científico da OMS em 2020 recomendou a criação do TAG-G, oficializada em 2023. A docente da FCM assumiu a coordenação já na criação do grupo, por um mandato de dois anos.

Entre os impactos previstos pela OMS sobre o tema estão o avanço na pesquisa genômica humana e no conhecimento sobre o papel da variação genética na saúde e nas doenças em diversas populações. Segundo Iscia, essa promoção deve ser usada por entidades da área da saúde, principalmente dos países de renda média e baixa. “Esse é um dos focos do TAG-G: estimular os países que ainda não adotam plenamente as tecnologias genômicas”.

Para a professora da FCM, o Brasil está bem posicionado no desenvolvimento das pesquisas em genômica e sua aplicação efetiva em serviços de saúde, considerando a comparação com outros países de renda média e a região da América Latina. Ela aponta que, pelo menos desde 2014, as práticas em genética vêm sendo inseridas no SUS, com a publicação da portaria sobre atenção às doenças raras.

“Em relação à pesquisa para o SUS, podemos citar o Projeto Genomas Brasil, do Ministério da Saúde, criado em 2019. Ou seja, temos ainda um longo caminho a percorrer para a implementação plena da genômica na saúde, mas as bases desse trabalho já foram lançadas. Isso infelizmente ainda não acontece nos demais países da América Latina, que não apresentam ações governamentais coordenadas para este fim”, declara.

Iscia acrescenta que a genômica tem se inserido em todas as especialidades médicas com práticas e produtos que tem tido grande impacto no diagnóstico e tratamento de várias doenças, desde o câncer até as doenças infecciosas, como por exemplo as vacinas de mRNA para Covid-19. “Isso significa que os países que não acompanharem esses progressos estarão oferecendo uma medicina ultrapassada aos seus cidadãos”, afirma.

Por fim, a docente aponta que a importância da publicação na Nature Medicine para a FCM se dá na medida em que um membro do corpo docente participa dessas discussões vitais para o progresso do país. “É a universidade pública se envolvendo com problemas que afligem a sociedade moderna na procura de soluções para todos”.

TAG-G

O TAG-G fornece aconselhamento técnico para apoiar trabalhos voltados a acelerar o acesso ao conhecimento e às tecnologias genômicas, especialmente em países de baixa e média renda. É composto por 15 membros nomeados pela OMS, que atuam em suas capacidades pessoais para representar uma ampla gama de disciplinas relevantes para a genômica, incluindo especialidades em câncer, outras doenças não transmissíveis e congênitas e implementação de tecnologias baseadas em genoma na prática clínica, ética e outros domínios das ciências sociais.

Nature Medicine

A Nature Medicine é uma revista mensal que publica pesquisas originais revisadas por pares em todas as áreas da medicina, com base em sua originalidade, relevância, interesse interdisciplinar e impacto na melhoria da saúde humana. A Nature Medicine também publica conteúdo encomendado, incluindo notícias, revisões e perspectivas, com o objetivo de contextualizar os mais recentes avanços em pesquisa translacional e clínica para alcançar um amplo público.