Pesquisa sobre variação genética de enzima relacionada ao câncer ganha prêmio internacional
Publicado por: Camila Delmondes
07 de outubro de 2015

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A pesquisa “Influência da glutationa-S-transferase (GST) no polimorfismos e a excreção cinética da cisplatina em pacientes com câncer de cabeça e pescoço” do farmacêutico Eder Pincinato, doutorando da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, ganhou o prêmio de melhor trabalho na categoria Ciências Clínicas apresentado no Encontro Anual da Associação Americana de Farmacêuticos, ocorrida nos Estados Unidos.

A pesquisa chamou a atenção internacional por associar a variação – polimorfismo – de três genes da enzima glutationa-s-tranferase à excreção da cisplatina na urina de 105 pacientes com câncer de cabeça e pescoço, atendidos no ambulatório de oncologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. A coleta foi feita a cada 12 horas num período de dois dias após cada administração de cisplatina, durante as 35 sessões de radioterapia nas quais os pacientes foram submetidos. A cisplatina é a droga mais utilizada, associada às sessões de radioterapia, para este tipo de câncer.

“Percebemos que pacientes com o mesmo perfil biológico e bioquímico respondiam de forma diferente ao tratamento. Uma possível explicação estaria na genética do paciente. O organismo entende que a cisplatina é tóxica e tenta eliminá-la pela urina. Para isso, ele usa algumas enzimas. A variação genética dessas enzimas pode estar associada ao fato desses pacientes eliminarem mais rapidamente ou não a cisplatina do organismo”, explica Eder.

Durante a pesquisa, Eder estudou o polimorfismo GSTM1, GSTT1 e GSTP1 dessas enzimas. Os polimorfismos GSTM1 e o GSTT1 resultam na ausência da enzima. De acordo com os dados obtidos pelo pesquisador, os pacientes com polimorfismo nulo (GSTM1 e o GSTT1) e com a variante GSTP1 eliminaram menos cisplatina na urina do que os pacientes sem polimorfismos, no mesmo período.

“Pacientes que apresentam essas variações genéticas não conseguem conjugar a droga de forma eficiente e a eliminaram mais tardiamente pela urina, o que pode ser interessante para o tratamento”, disse Eder.

Essa descoberta leva a uma próxima etapa da pesquisa que é definir a dose necessária de cisplatina para cada paciente de acordo com a sua avaliação genética. Para pacientes sem polimorfismos, por exemplo, a dose poderia ser aumentada, uma vez que ele elimina a droga mais rapidamente. Por outro lado, para pacientes que apresentam polimorfismos e demoram para eliminar a cisplatina, a dose poderia ser reduzida, o que diminuiria reações como vômito, problemas de ouvido e renais.

“A personalização da dose de um medicamento a partir da análise genética de um indivíduo é chamada de farmacogenética. Este é o futuro dentro da farmacologia e pode ajudar no tratamento do câncer”, disse a professora do curso de Farmácia da Unicamp Patrícia Moriel, uma das coautoras do artigo.

“No momento, verificamos se pacientes com os genótipos variados dos genes apresentaram de fato respostas e toxicidades distintas ao tratamento. Caso a nossa hipótese acima se confirme, poderemos conduzir novo estudo clínico para verificar quais doses do quimioterápico são mais adequadas – maior resposta com menor toxicidade – a cada paciente, como parte da moderna oncologia personalizada”, explica a médica oncologista da Unicamp Carmen Silva Passos Lima, orientadora da pesquisa.
 

A pesquisa faz parte de projeto da Fapesp e foi realizada no Laboratório de Genética do Câncer (Lageca), no Laboratório de Farmacotécnica e Farmácia Clínica e no Laboratório de hematologia do Departamento de Patologia Clínica, da Unicamp. Participam também do estudo os pesquisadores Leisa Lopes-Aguiar, Ericka Costa, Guilherme Nogueira e Tathiane Lima. O resumo do trabalho foi publicado no Journal of the American Pharmacists Association (JAPhA).



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