Pesquisa revela variáveis associadas à autoavaliação de saúde e ao transtorno mental em idosos
Publicado por: Camila Delmondes
07 de outubro de 2015

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A tese de doutorado em Epidemiologia intitulada “Autoavaliação de saúde e transtorno mental comum em idosos: estudo de base populacional no Município de Campinas, SP”, da fisioterapeuta Flávia Arbex, revelou a associação entre fatores econômicos e comportamentais, com o indicador de Autoavaliação de Saúde e o Transtorno Mental Comum (TMC) na população idosa. Defendido no início deste ano, no Departamento de Saúde Coletiva (DSC), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, o estudo utilizou dados do inquérito de saúde de base populacional ISACamp 2008, realizado em Campinas. Ao todo, foram entrevistados 1.432 idosos com idade média de 69,9 anos, sendo 57,2% do sexo feminino.

Os dados resultantes da tese foram divididos em três artigos, e os apontamentos apresentados na primeira publicação, revelaram que fatores socioeconômicos, bem como o acesso a oportunidades sociais como informação, serviços de saúde e melhores condições de vida, estão associados à percepção de uma saúde excelente ou muito boa, feita pelos idosos. Algumas variáveis se destacam para uma autoavaliação positiva de saúde. “Aqueles idosos sem religião, que moravam sozinhos, tinham computador em casa, escolaridade superior a um ano e renda superior a um salário mínimo, avaliaram sua saúde como excelente ou muito boa”, disse Flávia.

Outra variável que se destacou na associação positiva da autoavaliação de saúde foi o consumo frequente de frutas e verduras, e a prática regular de atividades físicas de lazer. O consumo moderado de álcool foi outro ponto associado à avaliação positiva da sua saúde feita pelos idosos da pesquisa. “Hábitos saudáveis de vida, ainda que exista o consumo moderado de álcool, são importantes determinantes do envelhecimento saudável”, explicou.

Indivíduos acima dos 80 anos, do sexo feminino, que não trabalhavam ou que possuíam renda per capita inferior a meio salário mínimo se mostraram mais suscetíveis a apresentarem sintomas relacionados ao Transtorno Mental Comum (TMC). Estes foram os achados apresentados no segundo artigo da tese, que revelaram a elevada prevalência de 29,7% de TMC na população idosa. “Os dados apontam a necessidade de investimento em políticas de saúde que invistam na autonomia e promoção da saúde mental nesse grupo específico, que aumenta a cada dia no País dado o aumento da expectativa de vida”, disse Flávia. Para a pesquisadora, o trabalho na velhice é uma variável a ser considerada, por estimular a autonomia e a manutenção do indivíduo na sociedade, preservando a sua autoestima. Os hábitos saudáveis de vida, também impactaram positivamente na baixa incidência de TMC como observado nos idosos que consumiam frutas e verduras frequentemente, que praticavam atividades físicas de lazer regularmente, ou que ingeriam bebida alcoólica moderadamente, de 2 a 3 vezes por semana.

Quanto maior é o número de doenças sofridas pelo idoso, maior é a prevalência de TMC e pior a sua autoavaliação da saúde. “A doença crônica e a autoavaliação de saúde negativa são relevantes para o sofrimento mental, principalmente pelo impacto na qualidade de vida destes indivíduos”, explica. Os pensamentos depressivos são os sintomas do TMC que mais afetam os idosos, segundo Flávia, e exigem mais atenção dos profissionais de saúde. “Eles se manifestam por meio de queixas inespecíficas e dificultam o cuidado adequado dos transtornos sofridos”

Indivíduos que nunca estudaram ou com baixa escolaridade, com renda inferior a um salário mínimo, e que pontuaram 5 ou mais nos indicadores de saúde física e mental (estes indicadores contemplavam doenças, sinais e sintomas, incapacidades ou limitações e o questionário SRQ-20), bem como menor tempo de sentimento de felicidade, foram aqueles que autoavaliaram a sua saúde como ruim ou muito ruim. “Os dados revelam o quanto a autoavaliação de saúde está relacionada às percepções de saúde física e mental, e o quanto elas intermediam a relação da autoavaliação de saúde com o sentimento de bem-estar”, explicou.

A professora do Departamento de Saúde Coletiva da FCM, Marilisa Berti de Azevedo Barros, que orientou a pesquisa, conta que ao desvendar as necessidades e demandas da população idosa, os resultados encontrados podem contribuir para a formulação de políticas públicas que reduzam as desigualdades e proporcione melhor qualidade de vida de um público. “Nosso maior desafio é, primeiramente, identificar as necessidades e demandas dessa população, para depois avançar na formulação e implantação de políticas que melhorem os procedimentos de atenção à saúde, reduzindo danos e favorecendo a continuidade no cuidado”, observou.

Ainda de acordo com Marilisa, a perspectiva é a de que estudos futuros avaliem com maior detalhamento a associação da autoavaliação em saúde e a prevalência do TMC, com as variáveis identificadas, como religião, uso de computadores, ou consumo moderado de álcool, por exemplo. Resultados futuros poderão favorecer uma mudança de paradigma tanto na elaboração de políticas públicas, como também na prática clínica. “As ações de promoção da saúde poderão ser realizadas com base nas necessidades de saúde definidas por esses novos indicadores, e não apenas em taxas de morbidade ou mortalidade; nesta perspectiva, um novo inquérito está sendo realizado em Campinas, o ISACamp 2014, que deverá propiciar informações atualizadas e relevantes para orientar as ações de promoção”, finalizou.

Para acessar os artigos:

www.scielo.br/pdf/csp/v28n4/16.pdf

http://www.scielo.br/pdf/csp/v29n7/15.pdf



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