Pesquisa premiada aponta necessidade de maior transfusão de hemácias em transplante de fígado
Publicado por: Camila Delmondes
21 de janeiro de 2020

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O transplante de fígado é a principal opção terapêutica para pacientes com doença hepática terminal. Entretanto, diversas complicações agudas podem ocorrer durante a cirurgia para o transplante, entre elas o distúrbio ácido-base, a coagulopatia e a necessidade de transfusão maciça de sangue. Essas complicações comprometem o prognóstico do transplante.

Uma pesquisa de iniciação científica realizada na Unicamp com 95 pacientes submetidos a transplante hepático no Hospital de Clínicas (HC) entre 2016 e 2018 buscou avaliar se a ocorrência de acidose metabólica piora os distúrbios da coagulação e acarreta maior necessidade transfusional durante o período intraoperatório do transplante de fígado.

O estudo denominado Associação de distúrbios do equilíbrio ácido-base com alterações da coagulação e necessidade transfusional durante o transplante hepático foi premiado como melhor trabalho em Hemoterapia apresentado durante o Congresso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (HEMO 2019), ocorrido no novembro do ano passado no Rio de Janeiro.

“A associação do distúrbio ácido-base com coagulopatia e necessidade transfusional é bem estudada nos casos de politrauma grave. Entretanto, essa associação não está estabelecida no transplante ortotópico de fígado”, comenta Júlia Ruete de Souza, aluna do quarto ano de Medicina da PUCCampinas e principal autora da pesquisa.

De acordo com os dados da pesquisa, cerca de 66% dos pacientes que participaram do estudo eram do sexo masculino. A média de idade era de 55 anos e 49,5% tinham câncer primário de fígado, também chamado de hepatocarcinoma. De acordo com o estudo, os valores de pH e de excesso de bases decaíram durante a cirurgia do transplante, evidenciando a tendência a acidose metabólica no curso do procedimento. Nos respectivos tempos pré-transplante, pré-anepático, anepático e reperfusão os valores médios do pH foram: 7,36; 7,34; 7,34 e 7,29. Os valores médios de excesso de bases foram: -3,4; -5,4; -5,7 e -6,0, respectivamente.

As transfusões ocorreram principalmente após o tempo de reperfusão. A reperfusão é definida quando há restauração do fluxo sanguíneo do fígado transplantado, após um período de isquemia. Os pesquisadores observaram que quanto mais baixos estavam os valores de pH e excesso de bases na reperfusão, menor era o valor de fibrinogênio e  maior a necessidade de transfusão de hemácias.

O estudo da Unicamp apontou que para cada 0,1 ponto de queda no valor do pH houve a necessidade de transfundir duas unidades de concentrado de hemácias a mais.

“Concluímos que, durante o TOF, a ocorrência de acidose metabólica está associada à maior necessidade de transfusão intraoperatória de hemácias. O conhecimento da associação entre acidose e necessidade transfusional no TOF poderá auxiliar na conduta para o controle de dano no intraoperatório”, explicou a médica hematologista Fernanda Orsi, professora do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e orientadora da pesquisa.

O estudo tem ainda como coautores Ana Yokoyama, aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da FCM, Fabrício Bíscaro Pereira, diretor da Divisão de Hemoterapia do Hemocentro da Unicamp, Mariana Magnus e Angela Luzo, médicas do Setor de Hemoterapia do Hemocentro da Unicamp.

Parceria internacional

Ainda no mesmo congresso, Ana Clara Ladeira Cruz, aluna do quinto ano do curso de Medicina da FCM apresentou, na forma de comunicação oral, a pesquisa Rosuvastatin use decreases FVIII levels by mechanisms not associated with the cholesterol-lowering effect of the drug: results from the START Trial. O trabalho foi desenvolvido na Universidade de Leiden, na Holanda, no mês de maio de 2019 em parceria com a Faculdade de Ciencias Medicas da UNICAMP.

A pesquisa apresentada teve orientação do professor Willem Lijfering, do Departamento de Epidemiologia Clínica do Centro Médico da Universidade de Leiden e da professora Fernanda Orsi, médica hematologista e professora do Departamento de Patologia Clínica da FCM.



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