O professor Nelson Filice de Barros, do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi eleito presidente do Comitê de Pesquisa em Sociologia da Saúde (RC15) da Associação Internacional de Sociologia (ISA). O docente assumiu o cargo em janeiro de 2024 e ocupará a posição até dezembro de 2027. Com a nomeação, Nelson se torna o primeiro brasileiro a presidir o grupo, criado há 60 anos.

As eleições acontecem a cada quatro anos, durante os Congressos Mundiais de Sociologia. Todos os membros do RC15 – cerca de 100 pessoas de 36 países – elegem um comitê gestor, composto por oito membros. Esse grupo escolhe internamente presidente, vice-presidente e secretário-tesoureiro. Na eleição de 2018, Nelson foi nomeado secretário-tesoureiro. Em 2023, o docente da FCM foi eleito presidente.  

“É uma posição internacional importante. A ISA foi fundada pelo Departamento de Ciências Sociais da Unesco em 1949, com o objetivo de unir sociólogos de todo o mundo, no período pós Segunda Guerra Mundial, porque os cientistas sociais foram vistos como promotores da democracia com suas investigações que problematizam as circunstâncias que produziram o fascismo”, declarou Nelson.

Na gestão anterior do RC15, o professor foi secretário-tesoureiro, e acredita que sua eleição também está relacionada como fato de o “Brasil ser uma das frentes de contenção do crescimento das ações da extrema direita no mundo. A ISA continua com esse princípio fundamental de promover a democracia, colocando em debate o estado, as relações de poder, a produção de desigualdades e as políticas públicas”, acrescentou Nelson. Além disso, segundo o docente, a posição é importante porque traz a possibilidade de realizar investigação comparativa numa base transnacional e constituir redes básicas de pesquisa científica, debate intelectual e intercâmbio profissional.

Nelson lembra que a tradição do estudo de Sociologia na área da Saúde remonta aos primórdios da Faculdade. Segundo ele, a FCM já tinha sociólogos desde sua criação. “Penso que o fato de eu ser o primeiro brasileiro a ocupar o cargo de presidente do Comitê de Sociologia da Saúde da ISA traz visibilidade para a FCM e a Unicamp”, declarou. O RC15 mantém, entre outras, relações com a Organização Mundial de Saúde, na área Behavioural Sciences for Better Health, e com grupos que trabalham com temas da saúde na Associação Latino-Americana de Sociologia, Sociedade Brasileira de Sociologia e Associação Brasileira de Saúde Coletiva. “Passamos a ter mais visibilidade, possibilidade de trocas e de participação de outros brasileiros no grupo. A partir desse lugar podemos, ainda, conectar internacionalmente as pessoas no debate sobre Sociologia da Saúde”, disse.

O professor da FCM afirmou que, em sua gestão, pretende discutir estrategicamente ações como a formação de grupo de sociólogos que ensinam em escolas médicas, uma vez que a maior parte dos membros RC15 não está nessas instituições; e a mobilização do talento e dos recursos dos sociólogos de todo o mundo para promover investigações em áreas cruciais para o estabelecimento de uma ordem mundial pacífica.

O RC15 e a ISA

O Research Committee 15 (RC15) foi um dos primeiros grupos temáticos que se organizaram após a criação da International Sociological Association (ISA), em 1963. Inicialmente o Comitê foi nomeado Sociologia Médica e em 1986 ampliou o debate e tornou-se Comitê de Pesquisa de Sociologia da Saúde. Essa mudança de nome reflete, por um lado, a mudança de orientação da “Sociologia na Medicina” para a “Sociologia da Medicina” e, por outro, a adoção de uma perspectiva mais crítica do ensino e pesquisa das Ciências Sociais na área da Saúde.

A ISA foi fundada em 1949 pelas Organização das Nações Unidas (Unesco) e tem suas atividades científicas descentralizadas em 57 Comitês de Pesquisa, quatro Grupos de Trabalho e sete Grupos Temáticos, formados em torno de assuntos específicos da sociologia. A entidade reúne mais de seis mil membros de 126 países, independentemente da sua escola de pensamento, abordagens científicas ou opinião ideológica.

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