Na manhã da última sexta-feira (31), a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp recebeu o microbiologista norte-americano Shawn R. Lockhart, diretor do Fungal Reference Laboratory, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), localizado em Atlanta, nos Estados Unidos. O evento “Talk with Dr. Shawn R. Lockhart” foi realizado pelo Departamento de Patologia Clínica (DPC) da FCM e reuniu cerca de 50 pessoas no Salão Nobre da faculdade.

Na primeira parte da sua exposição, Lockhart falou sobre o papel do CDC na Saúde Pública mundial. A instituição que iniciou as suas atividades, em 1942, como um escritório para o controle da Malária, expandiu a sua atuação para o manejo de diversos tipos de doenças, tendo forte atuação em mais de 80 países. “Nós do CDC trabalhamos em todas as doenças e situações que podem matar pessoas. Só não trabalhamos com armas de fogo, ainda”, brincou o pesquisar, na ocasião.

“O problema é que nunca sabemos em um primeiro momento, qual fungo é o causador responsável de determinada infecção”, disse Lockhart no início de sua apresentação. Para ilustrar a complexidade, urgência e impacto das atividades desempenhadas pelo CDC, o pesquisador apresentou casos investigados em seu laboratório. Em um desses exemplos, mostrou como o uso de determinada solução para a limpeza, enxague, lubrificação e desinfecção de lentes de contato, teve o efeito reverso. “A solução que eliminava a proliferação de bactérias, favorecia a cultura do fungo Fusarium keratitis. Tivemos 130 casos de infecções no país, em 26 estados, e alguns pacientes precisaram passar por transplantes de córnea”.

O segundo momento da explanação do microbiologista norte-americano teve como enfoque o Candida auris, um emergente patógeno fúngico multi-resistente, que apresenta constantes desafios às equipes hospitalares pela rapidez de disseminação. “O Dr. Shawn coordena o Laboratório de Referência em Micologia do CDC e recebe amostras suspeitas de contaminação por C.auris, isoladas em surtos de todas as partes do mundo, para identificação e ou confirmação”, explica a professora Angélica Zaninelli Schreiber do DPC da FCM, responsável pela vinda do pesquisador ao Brasil.

Angélica explicou ainda, que o laboratório coordenado por Shawn nos EUA, também oferece cursos de treinamento para lideres de equipes de saúde no mundo todo, para a identificação de outros fungos, além da Candida auris. “Pessoalmente, ele tem divulgado a importância da vigilância em relação a este micro-organismo em particular, bem como, o risco de sua disseminação, além de contar com várias publicações sobre o assunto”, comentou Angélica, que realizou estágio de pós-doutorado sob a supervisão de Shawn Lockhart, de 2014 a 2015, pelo Programa Ciências sem Fronteiras.