Foi inaugurada na última terça-feira (1) a exposição “Grafismos: memória e cultura de um povo”, por John Alexandre Dias (Abé). A exposição está sediada no Espaço das Artes da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e ficará aberta à visitação do público até 16 de agosto. Abé é estudante do curso de Letras da Universidade e indígena de etnia desana.

A mostra reúne telas pintadas em tinta acrílica, expressas a partir de grafismos e representações que remontam à origem, rituais e hábitos cotidianos de seu povo. Com traços firmes e demarcados, Abé traz vivos em muitos de seus trabalhos o vermelho do urucum, o amarelo do açafrão e o preto do jenipapo.

Apesar de no dia 9 de agosto ser celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, Abé lembra que os povos originários ainda se encontram em luta pelo reconhecimento de seus direitos. “Não é uma data comemorativa, mas sim um marco da resistência pelo reconhecimento da nossa cultura que sempre existiu e existirá”.

Apenas em sua comunidade de origem, localizada a 12 quilômetros do município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, existem outras sete etnias. “Nasci em meio a uma diversidade de culturas e tradições, cresci ouvindo histórias, praticando danças, tocando instrumentos, ouvindo narrativas sobre como surgimos, assim como meus antepassados ouviram desde criança. Hoje, como homem e estudante, posso transmitir esse conhecimento de meus tios e principalmente meu avô. É uma forma de manter essa relação de cultura e ancestralidade”, declarou o artista.

Segundo Abé, a exposição pretende representar o cotidiano vivido na aldeia, bem como a memória ancestral, que foi apreendida por meio da oralidade. “Aproveitamos enquanto indígenas e estudantes para apresentar um pouco essa narrativa que só a gente ouviu. É uma experiência muito boa porque pensamos em trazer grafismos diferentes entre si. Para mim é muito gratificante que a cultura indígena, de modo geral, se sinta inserida e representada. Nossa cultura também é ciência”.

Fernanda Surita, docente do Departamento de Tocoginecologia e presidente da Comissão de Recepção e Permanência de Alunos Indígenas da FCM, lembra que a faculdade recebeu, em 2022, dois alunos, e em 2023, outros dois. “Tem sido um aprendizado enorme, Abé, o contato com vocês. Agora consigo ver o quanto fomos privados de todos esses ensinamentos. Vocês estarem aqui representa uma grande troca de saberes. Embora tenham vindo como alunos para a Unicamp, estão ensinando muito para todos nós. É um prazer para mim ver a Faculdade de Ciências Médicas, de que eu gosto tanto, com essa oportunidade para novos diálogos”.

Serviço

A venda dos quadros será em prol da visita de Abé à sua família, no Amazonas. Os interessados podem entrar em contato com o artista pelo celular (19) 98319-8597 (chave pix).