Manifesto do Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica
Publicado por: Camila Delmondes
13 de dezembro de 2019

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No início do próximo ano o DGM, recentemente redesignado Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica, completará 57 anos de existência. Criado no primeiro ano de funcionamento da Faculdade de Medicina, que deu origem à Universidade Estadual de Campinas, foi e ainda é o único Departamento de Genética Médica de nosso país. Sua criação foi fruto da visão do Dr. Antônio Augusto de Almeida, que talvez tenha intuído o papel que a genética viria a ocupar na Medicina meio século depois.

Ao longo dessas mais de cinco décadas, nosso Departamento vem atuando de maneira irretocável no ensino em todos os níveis, incluindo a residência médica- sim, formamos médicos especialistas na área há 30 anos!

O serviço de Genética Clínica, que existe há 50 anos, é nosso braço assistencial - sim, mais da metade de nossos docentes são médicos, e os não médicos também atuam na assistência! Nossa propedêutica, embora com especificidades, segue em linhas gerais a propedêutica médica, Nossos pacientes são gestantes, recém nascidos, crianças, adolescentes, adultos e idosos, e casais. Os motivos de encaminhamento são os mais diversos, e incluem afecções em literalmente todos os sistemas do organismo, em atendimentos dispersos no HC, no Caism e no Hemocentro, em todos os períodos da semana.

Nosso Departamento, entrelaçando sua área clínica a uma estrutura laboratorial sólida, vem desenvolvendo também pesquisa, básica e clínica, desde muitos anos antes que a pesquisa tivesse a ênfase que hoje tem na FCM. Juntamente com a pesquisa, tem trazido recursos financeiros substanciais para a universidade.

Por último, e não menos importante, seus docentes têm contribuído com a administração da FCM e a administração central da Universidade com pró-reitores, diretor, coordenadores de pós graduação, CCD e Comitê de Ética em Pesquisa, além de integrar incontáveis outras comissões de diversos tipos.

Foi, portanto, com perplexidade que assistimos, no decorrer deste ano, às discussões travadas em torno da reorganização departamental que culminou, no último mês, com a fusão com o Departamento de Farmacologia.

Perplexidade por vários motivos.

Em primeiro lugar, pela circunstância em que foi feita, após uma aposentadoria que nos colocou momentaneamente com número de docentes aquém do exigido, sem que fossem levados em consideração nossos reiterados pedidos de prazo de 24 meses para readequação, como previsto na deliberação que rege a matéria e como concedido a diversos departamentos desde que esta entrou em vigência .

Em segundo lugar, porque quase seis décadas de serviços prestados a esta faculdade e à universidade foram ignorados.

Finalmente, porque a estratégia de fundir departamentos por questões financeiras, mesmo que prementes, subverte a lógica acadêmica que deveria reger a atuação universitária. A subversão dessa lógica fica ainda mais evidente quando até mesmo o público leigo - que dirá a comunidade científica- sabe que nossa área de atuação, justamente a genética, está muito longe de ser considerada inútil ou obsoleta. Chama a atenção ainda que uma legislação criada numa época em que as reposições de docentes eram automáticas tenha sido implementada de maneira inflexível numa época de crise sem precedentes na universidade.

A se confirmar pelo Consu a fusão dos dois departamentos em um novo Departamento de Medicina Translacional, estará decretado o fim do Departamento de Genética Médica.

Esta nota, que solicitamos que conste integralmente em ata, tem o objetivo de deixar registrado para as futuras gerações que o fim de nosso Departamento, com a perda profunda de identidade que acarretará e os prováveis efeitos negativos sobre a qualidade de nossa atuação, está ocorrendo à revelia dos docentes que hoje o compõem. Que estes acatam a decisão tomada por seus pares, chefes de outros Departamentos e representantes de comissões e categorias docentes, mas deixam clara sua inconformidade com ela.

Devemos àqueles que nos antecederam, renomados geneticistas e expoentes da ciência brasileira, este registro para a posteridade. Nós, da atual geração, cumprimos nosso papel em honrar a tradição do DGM. Infelizmente, nosso esforço não foi reconhecido.

Agradecemos aos nossos colegas da Farmacologia a disponibilidade em se unir a nós. Estamos certos de que também eles estão perplexos e inconformados com a situação. Deveremos nos apoiar mutuamente na criação de algo novo, e esperamos que esse “algo novo” possa ser duradouro, reconhecido por nossos pares e resistente a novas intempéries.

Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica
FCM - Unicamp



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