Larissa Monte, médica da 57ª turma, publica artigo sobre criptorquidia no Jornal de Pediatria
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
25 de novembro de 2024

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Formada pela 57ª turma de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Larissa de Lima Monte publicou artigo no Jornal de Pediatria sobre avaliação do nível de informação dos pediatras sobre o diagnóstico e tratamento da criptorquidia. Trata-se da anomalia genitourinária mais comum entre os meninos lactentes. O artigo conta com autoria ainda, pela FCM, de Rodrigo Ocáriz, Joaquim Bustorff-Silva, Patricia Pegolo, Gil Guerra Júnior e Marcio Lopes Miranda.

Larissa relata que o trabalho começou em 2020, juntamente com professor Marcio, equipes da cirurgia pediátrica e residentes, a partir da experiência ambulatorial. Eles notaram que as crianças estavam sendo encaminhadas muito tardiamente com criptorquidia – condição que ocorre quando o testículo que não desce, no tempo esperado, para o escroto. Surgiu, então, a ideia de fazer pesquisa para avaliar nível de conhecimento da condição pelos pediatras.  

Foi elaborado questionário com 20 perguntas, em conjunto com equipes de Cirurgia Pediátrica e Pediatria, no qual era abordado como manejar a criptorquidia. Os formulários foram aplicados a pediatras, bem como residentes e médicos da atenção primária. Além disso, mais de 700 médicos associados à Sociedade Brasileira de Pediatria participaram. 

“Uma hipótese para explicar a demora é porque os pediatras pediam exames complementares. Mas a gente sabe que o diagnóstico é clínico. Na maternidade já avaliamos para ver se o testículo está no escroto. Se não estiver, pode descer até os seis meses de vida. Após esse tempo, a criança já tem indicação de encaminhamento para cirurgia”, afirma Larissa.

Continua a pesquisadora: “Os resultados nos preocuparam. Só 20% dos pediatras consideravam o exame físico suficiente para o diagnóstico e quase 70% pediam ultrassom. A gente sabe que no SUS isso pode atrasar muito. Então, além de não auxiliar no diagnóstico, esse exame atrapalhava, por tornar mais tardio o atendimento. Ficamos felizes pela publicação, uma vez que as pessoas vão ter contato com dados mais atualizados”.

Larissa, que pretende prestar residência médica em São Paulo, quer seguir na área da cirurgia pediátrica. Seu sonho profissional remonta à infância. “Nasci prematura de 34 semanas, mas precisei ficar um tempo a mais na UTI neonatal. Depois necessitei de um acompanhamento frequente, então tive muito contato com equipes médicas. Admiro minha pediatra desde pequenininha. Ela foi minha referência”, recorda.

Apresentação da pesquisa no Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica em Belo Horizonte (2022): Márcio Miranda, Larissa Monte, Rodrigo Ocáriz e Joaquim Murray. Foto: acervo pessoal

Cotas étnico-raciais

A médica é a primeira pessoa de sua família a se formar em uma universidade pública. Larissa conseguiu bolsa de estudos em escolas particulares a partir do 9º ano, e nos cinco anos que fez de cursinho pré-vestibular. “Morava no Capão Redondo, em São Paulo, e sabia que as oportunidades eram mais restritas. Meu nome está na placa da turma da FCM, mas tinha que ter também de uma galera que esteve acreditando nesse sonho junto comigo”, declara.

Somada à sua preparação, Larissa encontrou oportunidade de estudar na FCM a partir da aprovação pela Unicamp, no vestibular 2019, do ingresso por cotas étnico-raciais. “Estava super desacreditada, porém, estava tranquila, o que influenciou muito no bom resultado. Passei na quarta chamada. Depois de noites em claro esperando o período da matrícula, finalmente veio a conquista. São etapas que a gente tem que passar por nós mesmos. Não ter desistido nesses anos todos foi melhor decisão”, recorda, emocionada.

Para Larissa, o reconhecimento mais importante é aquele encontrado no cotidiano médico. “A cada passinho que dava durante a graduação confirmava de que estava no caminho certo. Estar no hospital, cuidando de outras pessoas, aprender para oferecer o melhor a elas é o que me dá satisfação. Quantas vezes vi, no consultório, o paciente ficar surpreso e mais à vontade diante de uma médica negra e podendo se enxergar em mim. Esse é o melhor prêmio e que nada paga. As coisas estão mudando na faculdade. Que mudem cada vez mais”.

A médica também aponta a importância de haver essa identificação na Unicamp. “Instituir a cota étnico-racial já foi uma conquista muito grande. São os impostos que financiam a educação e a gente sabe que é um investimento muito grande. A universidade pública tem que ser um reflexo da sociedade. Temos que encontrar em seus bancos a mesma situação que vemos na rua: mulheres, negros, indígenas... conseguir enxergar o Brasil”.

“A gente via as fotos de turmas anteriores de Medicina e infelizmente não refletiam isso. É difícil, são choques de gerações e culturas, mas temos que estar abertos a aprender com o outro. Me formando em uma universidade pública posso ser referência para as pessoas que me veem na minha família, amigos e comunidade. Que a faculdade também possa ter essa oportunidade de investir em educação, que seus alunos possam se atualizar, bem como entender a história de cada pessoa”, finaliza Larissa.

Os pais de Larissa, Maria Conceição Lima Monte e Tancredo Gomes Monte, sempre apoiaram seu sonho de ser médica. Foto: acervo pessoal


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