Isabela Neves, residente em Pediatria da FCM, relata experiência com povo ianomâmi em Roraima
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
22 de maio de 2023

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Isabela Neves, médica-residente do terceiro ano em Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, esteve no período de 14 a 23 de abril atendendo a população indígena ianomâmi na região de Surucucu, em Roraima. O polo de atendimento fica na fronteira do estado com a Venezuela. Em 20 de janeiro, o Ministério da Saúde havia declarado Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional devido à situação pela qual a etnia passa. 

Isabela relata que a experiência começou com os fundadores da ONG Expedicionários da Saúde (EDS) conversando com professores da FCM, de onde surgiu o convite para que os alunos do Programa de Residência Médica (PRM) participassem do projeto.

O povo ianomâmi enfrenta crise há alguns anos. A devastação causada pelo garimpo ilegal atinge diretamente os indígenas, que estão passando fome devido aos rios contaminados. Além disso, a população enfrenta o frio, que vem aumentando com as mudanças climáticas.

Indígenas próximos à pista de voo em Surucucu. Foto: divulgação

“Vemos rios amarelos devido ao mercúrio proveniente do garimpo. As pessoas do território perderam seu meio de vida: não conseguem usar os rios para pescar e inundar a plantação para roça. Além disso, há a situação de violência com os garimpeiros e subjugação do povo indígena, que passa fome e por isso é usado como escravo sexual e de trabalho”, conta Isabela.

“A ONG fez parceria com o governo federal para ajudar a montar um polo de atendimento para que esses pacientes graves fossem estabilizados e tratados de comorbidades como desnutrição, antes de serem encaminhados para Boa Vista”, continua a residente. Os voluntários trabalharam em conjunto com médicos da família que estão no polo, prestando assistência às pessoas internadas.

Isabela ajuda na estabilização de paciente que foi transferido para Boa Vista (RR). Foto: divulgação

Isabela participou com duas colegas do PRM, Fernanda Gonzalez e Amanda Gil, sendo a primeira a viajar. A aluna relata os principais casos clínicos que presenciou na área de Pediatria. “Eles enfrentam a desnutrição do tipo marasmo, o mais grave, que ocorre quando o paciente tem insuficiência de proteína e carboidrato. Devido a se aquecerem perto de fogueiras, a maioria das crianças tem asma, que evolui para doença pulmonar obstrutiva crônica muito cedo. Além disso, ainda enfrentam verminoses e malária. São doenças que durante toda minha formação médica nunca tinha visto nessa gravidade”.

“Foi uma experiência muito enriquecedora do ponto de vista médico, por ter contato com especialistas e entender como gerenciam um momento de crise na saúde, com casos extremamente graves. Também me marcou muito, como ser humano, atender essa população tão vulnerável e à margem da sociedade”, aponta a residente, lembrando, além das doenças, o contexto socioeconômico. Isabela enumera, como ponto positivo do atendimento no polo, o arsenal terapêutico, com medicamentos para a malária, entre outros insumos médicos. “Por outro lado, fico preocupada pois ficamos por pouco tempo”.

A iniciativa teve o apoio dos professores do PRM: Andrea Fraga, supervisora do Programa de Residência Médica em Pediatria; Sérgio Marba, chefe do Departamento de Pediatria; e Roberta Alcântara, do mesmo Departamento. Os professores Ricardo Pereira e Adriana Riccetto, também do PRM, fizeram a interface entre a EDS e os residentes.

Davi Kopenawa, líder ianomâmi, acompanha voluntários. Foto: divulgação

Sobre a EDS

A Associação Expedicionários da Saúde (EDS) é uma organização brasileira sem fins lucrativos, sem vinculação político-partidária e não religiosa, criada em 2003, e que tem como objetivo levar medicina especializada, principalmente cirúrgica, às populações indígenas que vivem geograficamente isoladas na Amazônia brasileira. Com 20 anos de existência e 50 expedições, já realizou 9.837 cirurgias, 70.819 atendimentos e 126.019 exames e procedimentos.


Veja também

Matéria da TV Globo sobre o centro de saúde montado em Surucucu: https://globoplay.globo.com/v/11558510/



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