Fórum: construindo vidas despatologizadas
Publicado por: Camila Delmondes
07 de outubro de 2015

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As sociedades ocidentais vivem um processo de patologização em que a diversidade e as diferenças que caracterizam e enriquecem a humanidade estão sendo consideradas como problemas. Questões de diferentes ordens são transformadas em doenças, transtornos ou distúrbios, que passam a ocupar o lugar nos debates de problemas políticos, sociais, culturais e afetivos que afligem a vida das pessoas. Discutir os efeitos dessa patologização ou medicalização da vida contemporânea é um dos objetivos do Fórum Construindo Vidas Despatologizadas, que será realizado na Unicamp entre 14 e 17 de outubro, e reunirá médicos, psicólogos e educadores, entre outros profissionais do Brasil e do exterior.

O Brasil tem se destacado nas estatísticas como um dos maiores consumidores de substâncias psicoativas legais. Entre 2003 e 2012, o país registrou um aumento de 775% no consumo de Ritalina, medicamento usado no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), segundo estudo da UERJ. A droga, que pode provocar dependência química, tem sido alvo de debates sobre os critérios para indicação médica, principalmente para crianças e adolescentes. No Estado de São Paulo, Campinas e, mais recentemente, a capital paulista criaram novas regras na rede pública de saúde para reduzir o consumo indiscriminado do medicamento.

Uma portaria de junho da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo regulamentou a distribuição do medicamento nas unidades de saúde. A prescrição, que até então era feita apenas com o diagnóstico de um médico, exige agora uma avaliação por uma equipe multidisciplinar, que inclui psicólogo e acompanhamento pedagógico. Segundo a pediatra Maria Aparecida Moysés, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e uma das organizadoras do Fórum, o objetivo não é simplesmente reduzir o uso do medicamento, mas permitir aos pacientes ter diagnósticos e tratamentos mais abrangentes. A medida de São Paulo foi inspirada no protocolo adotado em Campinas, há dois anos, que reduziu a distribuição de Ritalina na rede municipal em mais de 40% entre 2011 e 2013.

Nos quatro dias de evento, que acontecerá no Centro de Convenções da Unicamp, também serão discutidos: como a genética tem sido cada vez mais usada como ferramenta para justificar a medicalização, a importância de abordagens alternativas para o tratamento de dependentes químicos, e as possibilidades de humanização na relação entre médico e paciente.

O Fórum Construindo Vidas Despatologizadas é uma realização do Fórum Pensamento Estratégico (PENSES), em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. O PENSES é um espaço acadêmico, vinculado ao Gabinete do Reitor, responsável por promover discussões que contribuam para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da sociedade em todos seus aspectos. O PENSES busca prospectar temas e ideias que de alguma forma estejam à frente do tempo, estreitando a relação da Unicamp com a sociedade.

Programação

14 de Outubro (terça-feira)

19h00 - 19h30
Abertura
Prof. Dr. Alvaro Penteado Crósta - Coordenador Geral da Universidade (CGU - UNICAMP)
Prof. Dr. Julio Hadler – Coordenador (PENSES - UNICAMP)
Profa. Dra. Maria Aparecida Affonso Moysés – Profa. Titular Pediatria  (UNICAMP)
Prof. Dr. Roberto Teixeira Mendes – Diretor Associado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM - UNICAMP)
Prof. Dr. Luis Carlos de Freitas - Diretor da Faculdade de Educação (FE - UNICAMP)
Rosangela Villar - Despatologiza - Movimento pela Despatologização da Vida
Sr. Rogério Giannini - Presidente do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo - (SinPsi)
Gustavo de Lima Bernardes Sales - Representante do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo - (CRP)

19h30 - 20h30 
Conferência de Abertura
Deputada Maria do Rosário – Pedagoga, Deputada Federal, ex-ministra da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República 

15 de Outubro (quarta-feira)

9h30 - 10h30
Conferência: “A quem se ensina? Quem aprende? A (in) visibilidade da infância no cotidiano escolar” 
Profa. Dra. Maria Teresa Esteban – Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) 

10h30 - 11h00
Coffee break

11h00 - 12h30
Mesa redonda: ”Quem avalia? Quem se (des) comporta? A (in) visibilidade da criança”
Profa. Dra. Maria Aparecida Affonso Moysés – Faculdade de Ciências Médicas (FCM - UNICAMP)
Prof. Dr. Rossano Cabral Lima – Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

12h30 - 14h00
Almoço

14h00 - 17h30
Mesa redonda: “Viver é preciso, controlar não é preciso”
Daniela Arbex – jornalista, autora do livro “O holocausto brasileiro”
Prof. Dr. Luiz Fernando Bilibio - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Prof. Dr. Luiz Fernando Tófoli – Faculdade de Ciências Médicas (FCM - UNICAMP)
Prof. Dr. Pedro Tourinho - Vereador por Campinas e Professor PUC-CAMPINAS (PUCCAMP)

16 de Outubro (quinta feira)
9h30 - 10h45      Conferência: “A genética na encruzilhada entre os direitos humanos e a medicalização”
Victor Penchaszadeh – Geneticista, Docente de Genética, Saúde Pública e Bioética da Universidad Nacional de La Matanza, Argentina. Coordenou o banco de DNA das Abuelas de Mayo

10h45 - 11h00         
Coffee break

11h00 - 12h30
Mesa redonda: “Desconstruindo álibis da violência contra crianças e adolescentes”
Profa. Dra. Gisela Untoiglich – Universidad Buenos Aires
Profa. Dra. Luci Pfeiffer – Coordenadora do Programa HC DEDICA (Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente), Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) 

12h30 - 14h00
Almoço

14h00 - 17h30
Mesa redonda: “Táticas de produção e sustentação do humano em nós: por uma rede de cuidados despatologizantes”
Profa. Dra. Carla Biancha Angelucci – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)
Dr. Daniel Becker – Pediatra, autor do blog “Pediatria Integral”
Dra. Ligia Moreiras Sena – Dra. em Psicofarmacologia, doutoranda em Saúde Coletiva; autora do blog “Cientista que virou mãe” 

17 de Outubro (sexta feira)
9h 30 - 10h30
Conferência: "El encuentro médico-paciente: entre acoger um sujeto sufriente y reparar una máquina descompuesta"
Marcelo Viñar – Psicanalista uruguaio, autor do livro “Exílio e Tortura” 

10h30 - 10h45
Coffee break

10h45 - 11h45
Conferência: “La medicalización y el consumismo. Medicalización de la sociedad y desmedicalización del arte”
Alvaro Diaz Berenguer – Médico, Professor Adjunto de Clínica Médica, Uruguai; autor do livro “Medicina Desalmada”

11h45 - 12h45
Roda de Conversa: “Dialogo entre la praxis y la reflexion. Donde, como, quien”
Marcelo Viñar e Alvaro Diaz Berenguer

Mais informações e inscrições
http://www.gr.unicamp.br/penses/forum_vidas_despatologizadas/home.html



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