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A Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp foi contemplada com o Centro de Ciência para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva para a Educação Bilíngue de Surdos (CCD TAEBS), da Fapesp. O Centro tem como instituição parceira a Secretaria Municipal de Educação de Campinas. A pesquisadora responsável é Ivani Rodrigues Silva, docente do Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação (DDHR) da FCM. O projeto tem duração de cinco anos e investimento previsto de cerca de R$ 6,67 milhões, entre bolsas e outros recursos. Na Unicamp, serão cinco novos CCDs.
O objetivo da pesquisa desenvolvida no CCD TAEBS é a construção de materiais didáticos acessíveis de ensino da língua portuguesa, que atendam às necessidades linguísticas dos estudantes surdos sob a perspectiva bi/multilíngue - na qual se considera a Libras como língua de interação e instrução, e o português escrito como a segunda língua. Assim, o projeto pretende criar um ambiente de reflexão, troca de experiências e desenvolvimento de práticas de ensino bilíngue. Prevê, também, a definição de protótipos de avaliação e discussão de estratégias a serem seguidas.
As ações serão desenvolvidas com apoio da secretaria de Educação de Campinas, abarcando, inicialmente: levantamento das informações sobre o campo, análise dos documentos que norteiam a educação de surdos, forma de acolhimento pelas escolas, perfil sociolinguístico e demandas dos estudantes, professores e gestores educacionais. Por fim, será feita a produção efetiva dos materiais didáticos e formação dos profissionais da escola. “Fica cada vez mais clara a necessidade e a urgência de se pensar em produtos diferenciados para o ensino de alunos surdos e na formação de professores”, afirma Ivani.
Parcerias e políticas afirmativas
Ivani ressalta que o projeto agrega a participação ativa de profissionais surdos e ouvintes da área da linguística aplicada, educação de surdos, tecnologia, artes e computação, da Unicamp, USP, UFABC e UFSCar. Com relação à parceria com a Secretaria Municipal de Educação, Sabrina Guimarães, do Núcleo de Educação Especial, será um elo entre os pesquisadores e a rede, contribuindo para o conhecimento das demandas dos professores e estudantes. Também atuará na reflexão sobre a abrangência dos materiais de ensino, pois serão os professores os responsáveis pela validação dos mesmos. “A parceria com a Secretaria é extraordinária para discussão, reflexão e aplicação dos materiais a serem construídos”, afirma a docente do DDHR.
Assim como o curso de Fonoaudiologia, o CCD conta com a parceria da FCM com o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. As docentes Ana Cecilia Bizon e Simone Haschiguti, do IEL, já realizam materiais didáticos para outras minorias. “Estamos trazendo com o projeto uma maior abertura para os estudantes da Unicamp e outras universidades, de modo que se reflita sobre a importância de políticas afirmativas que reconheçam o aluno surdo como um sujeito bi/multilíngue, ampliando o acesso desse indivíduo de forma efetiva aos diferentes conhecimentos escolares e espaços sociais”, assegura Ivani.
Educação efetiva e satisfação pessoal
Para Ivani, o CCD, mais do que contribuir com o processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa escrita, poderá auxiliar na inserção do sujeito surdo na sociedade letrada. Os resultados específicos dos estudos abrangidos pelo projeto corroboram o fomento à pesquisa em tecnologia assistiva, a partir do desenvolvimento de produtos e serviços para uma educação bilíngue de surdos mais efetiva e significativa. “Seus impactos deverão propiciar um retorno sob a forma de subsídios para os anos finais do ensino fundamental, além reflexões de caráter conceitual e metodológico para os profissionais da escola”, reflete.
“Me sinto muito feliz em poder participar desse projeto com pesquisadores conceituados da Unicamp e demais universidades. Em minha carreira acadêmica venho me debruçando sobre o ensino da escrita de sujeitos surdos desde o final de 1990. No doutorado, verifiquei a dificuldade de muitas escolas da região de Campinas de lidarem com o ensino da lingua portuguesa escrita. Eram oferecidos os mesmos materiais didáticos e estratégias metodológicas aos surdos e ouvintes. Essa situação muda muito pouco na atualidade. Apesar da maior presença de intérpretes nas salas de aula, ainda temos uma grande lacuna em relação ao ensino e a utilização de materiais específicos para o português como segunda língua”, finaliza a pesquisadora responsável.
Centros de Ciência para o Desenvolvimento
Assim como os demais 25 CCDs já em operação, os novos centros terão a missão de buscar soluções para desafios previamente definidos pelas secretarias estaduais nas áreas de saúde, energia, agricultura, manufatura avançada, cidades inteligentes, segurança pública e meio ambiente. Todos os centros operam em modelo de cofinanciamento, de maneira que a cada R$1 solicitado e financiado pela Fapesp, as entidades parceiras devem aportar o mesmo valor. O financiamento, a depender da proposta, tem duração de cinco anos.