Ex-pesquisadora da FCM lança livro sobre inovação em retinopatia diabética
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
10 de outubro de 2024

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A oftalmologista Jacqueline Lopes de Faria, pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp de 2002 a 2018, lançou o livro “Advances In Ophthalmology: A Journey Through Diabetic Retinal Research & Innovations”. A publicação foi produzida pela editora inglesa Index of Sciences e reúne coletânea de seus trabalhos na área de retinopatia diabética, de 2000 a 2023 - grande parte deles realizados na FCM.

O livro foi lançado em agosto de 2024, em versão e-book e física, em inglês. A publicação será apresentada futuramente também em francês e espanhol. Jacqueline conta que recebeu em 2023 convite da editora, especializada em publicações científicas. O prefácio é escrito por Rafael Simó, professor de Medicina e Endocrinologia do Hospital Universitário Vall d’Hebron, Barcelona.

Jacqueline Lopes de Faria, ex-pesquisadora colaboradora do Departamento de Clínica Médica da FCM. Foto: divulgação

A seguir, entrevista com Jacqueline Lopes de Faria:


Há algum estudo ou contribuição que você destaca entre os trabalhos incluídos no livro?  

"Na verdade, existe uma coerência na evolução dos trabalhos. A ideia fundamental que conecta os estudos é o aprofundamento no entendimento da complicação diabética da retina como uma doença neurodegenerativa e progressiva com componentes vasculares nas fases mais avançadas. Era um conceito que teve muita rejeição no meio acadêmico inicialmente, já que classicamente tratava-se de uma doença da microcirculação da retina, sem menção aos componentes neurais".

Quais são os principais avanços em retinopatia diabética e como eles impactam o entendimento da doença?

"Demonstramos que há uma disfunção neuroglial da retina antes da detecção oftalmoscópica da retinopatia. Desta forma, propusemos novas modalidades de tratamento que podem ser instituídas antes do desenvolvimento das alterações vasculares. Assim, a visão do paciente fica protegida dos efeitos tóxicos causados pelo diabetes. A relevância dessa linha de pesquisa se justifica pela alta prevalência da lesão no mundo, afetando em torno de 500 milhões de pessoas e sendo a causa mais frequente de perda visual irreversível em idade produtiva".

Quais são os principais desafios no tratamento atual, especialmente nos estágios iniciais da doença? 

"Na prática clínica, não há uma alternativa terapêutica para as fases iniciais, quando não há grandes alterações estruturais na retina, como edema macular ou alterações microvasculares. O desafio é identificar os pacientes diabéticos mais propensos ao desenvolvimento da retinopatia, mas que ainda têm visão normal, para então indicar um tratamento que retarde a progressão da doença, mesmo na presença do diabetes. Atualmente, tenho me dedicado ao desenvolvimento de uma formulação oftálmica nanotecnológica para o tratamento não invasivo da retinopatia diabética, com patente já protegida. Isso pode se tornar um novo paradigma".

Como você vê o futuro dos tratamentos para a retinopatia diabética, especialmente em relação a terapias menos invasivas e mais acessíveis? 

"Como disse, vejo que com o desenvolvimento de ferramentas nano-biotecnológicas e métodos diagnósticos mais sensíveis, pode-se reduzir o número de pessoas com redução ou perda visual secundárias ao diabetes, já que estes pacientes estão vivendo mais tempo com a doença. A duração do diabetes e o controle metabólico são os fatores de risco mais importantes associados ao desenvolvimento e progressão da retinopatia".

Como você enxerga a evolução da pesquisa oftalmológica desde que começou sua carreira até os dias atuais? 

"Nestes últimos 30 anos, houve um grande progresso no entendimento da diabetes, que propiciou o desenvolvimento de alternativas terapêuticas para retinopatia diabética. Esta evolução se deve aos avanços dos estudos experimentais mais básicos e os translacionais para modelos animais. Hoje é aceito que o melhor tratamento para retinopatia diabética é o farmacológico. Com o advento dos agentes antiangiogênicos - substâncias que antagonizam ou inibem o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos -, houve um profundo impacto positivo na progressão das formas mais graves, reduzindo drasticamente o número de casos de retinopatia diabética avançada. Penso ser importante a interação com outras áreas do conhecimento como nanobiotecnologia e processos farmacêuticos para desenvolvimento de formulações oculares de uso tópico (colírio) atuando como um sistema de “delivery” de droga para o interior ocular de forma não-invasiva".

Como sua trajetória na FCM, desde aluna até pesquisadora, foi levada ao livro? Qual a importância da Faculdade em sua vida? 

"Minha paixão pelo tema surgiu durante a residência médica em oftalmologia, pois os casos mais complicados de retinopatia diabética encaminhados ao Hospital de Clínicas da Unicamp não tinham alternativas de recuperação da visão. Esses casos eram normalmente resolvidos com cirurgias, que ainda hoje são eficazes para tratar os efeitos devastadores da doença na visão, como hemorragias intraoculares e descolamento da retina. No entanto, essas são intervenções caras, invasivas e de acesso limitado, além de não abordarem a doença em nível celular ou molecular.

No meu quarto ano de residência, quando fui para Universidade da Harvard para um pós doutoramento, fui apresentada a um ambiente muito ativo na área de pesquisa clínica e experimental. De início, me envolvi na área de eletrofisiologia visual, que proporcionou esta ideia de disfunção da retina precedendo o quadro clássico da retinopatia com hemorragias e exsudatos (manchas) de retina.

De volta ao Brasil, iniciei pós-graduação orientada pelo meu marido, professor José Butori Lopes de Faria, grande entusiasta da “boa pesquisa”. Nesta época, realizamos um estudo clínico que revelou predisposição genética para o desenvolvimento das formas proliferativas da retinopatia em pacientes diabéticos tipo 1. Foi o posicionamento dele, motivando meus projetos de pesquisa financiados pela FAPESP, que possibilitou desenvolver uma carreira sólida e contínua nessa área. Tive uma experiência acadêmica bastante intensa, tanto dentro do laboratório em contato diário com os alunos de pós-graduação e iniciação científica, quanto nos congressos internacionais que geraram boas discussões e colaborações entre grupos de pesquisa. Durante todo o período, sempre recebi apoio da FCM, através da Câmara de Pesquisa e do Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental, nas diversas demandas que os projetos exigiam.

Este livro significa muito para mim porque eu me vejo em todas as pessoas que fizeram parte dessa história: alunos, colaboradores de outras instituições e equipe de apoio, que tornaram tudo mais interessante. Especial homenagem ao meu marido José Butori Lopes de Faria (“Zezito”) que com seu senso crítico e ético, tornou esta história agradável de ser contada. Vivi um período com bastante intensidade e hoje sinto uma enorme satisfação pessoal!"

Capa da publicação. Imagem: divulgação


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Correspondência:
Rua Vital Brasil, 80, Cidade Universitária, Campinas-SP, CEP: 13.083-888 – Campinas, SP, Brasil
Acesso:
R. Albert Sabin, s/ nº. Cidade Universitária "Zeferino Vaz" CEP: 13083-894. Campinas, SP, Brasil.
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