Foi publicado em novembro de 2022 pelo Journal of ISAKOS, artigo do professor Sergio Piedade, do Departamento de Ortopedia, Reumatologia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Intitulado “Reabilitação e avanços na reconstrução cirúrgica da insuficiência do ligamento cruzado anterior: o que mudou desde a década de 1960? - Estado da arte”, o artigo tem como principal autor Piedade, que coordena a área de Medicina do Exercício e do Esporte da Faculdade, e aborda uma das lesões mais comuns em atletas.

O docente explica que o “estado da arte” é onde se encontra a ciência hoje em relação a determinado tema – no caso, a reabilitação de lesão do ligamento cruzado anterior do joelho (LCA) – apresentando a linha do tempo até o presente. Assim, o texto discute como a reabilitação pós-operatória após a reconstrução do ligamento vem mudando desde a década de 1960, com foco na técnica cirúrgica (tipo de enxerto de tendão, dispositivos de fixação e tensionamento do enxerto), conceitos biológicos (maturação e integração do enxerto), protocolos de reabilitação (prevenção de lesões, reabilitação pré e pós-operatória), critérios para retornar ao esporte, resultados relatados pelo paciente e resultado. “Passa a ser um artigo de referência por abordar tudo isso, reunindo a análise de colegas de vários continentes”, disse Piedade. Outros três autores - brasileiro, australiano e inglês -, assinam a publicação.

“Na década de 1960, o diagnóstico não era tão preciso, o que culminava numa abordagem cirúrgica diferente. Embora houvesse o ligamento dentro da articulação, as cirurgias eram voltadas para uma reconstrução extra-articular. Os sistemas de fixação eram outros, usavam gesso. Isso veio evoluindo e melhorando o diagnóstico. Na década de 1980, quando melhora o sistema de fixação de enxerto, começa a mudar o paradigma da imobilização para a mobilidade com a descarga precoce de peso, para que o paciente pudesse andar”, recorda Piedade.

Lesão do ligamento cruzado anterior

O professor explica que a lesão do ligamento cruzado anterior do joelho ocorre após trauma torcional. “No nosso meio, o futebol é o esporte onde esta lesão é mais prevalente, mas ela pode ocorrer em outras modalidades esportivas que exponham o joelho a traumas torcionais. A lesão do LCA torna o joelho instável e mais suscetível a novas entorses, devido à instabilidade - novos falseios - que irão agravar ou determinar outras lesões internas. No paciente jovem e fisicamente ativo, a lesão é incapacitante pois impacta negativamente na qualidade de vida e desempenho esportivo. Portanto, o tratamento cirúrgico e a abordagem terapêutica são adotados para maioria dos casos”.

Piedade acrescenta que a reabilitação fisioterápica é fundamental para acelerar a recuperação e contribuir para o retorno seguro às atividades físicas. “Principalmente com o advento da internet, o conhecimento e as experiências em reabilitação do LCA tornaram-se mais disponíveis, permitindo que médicos e fisioterapeutas tenham acesso à literatura de qualidade em qualquer lugar do mundo”.

Opinião do paciente

Outro ponto destacado no estudo é a importância da opinião do paciente no processo: “Em todas as áreas da medicina moderna, os profissionais de saúde devem estar atentos às vozes e opiniões dos pacientes, pois desempenham um papel essencial no desenvolvimento e aperfeiçoamento de um plano de tratamento”. Desse modo, ferramentas como o questionário PROM (“patient reported outcome measures”) permitem coletar dados sólidos e válidos sobre o tratamento recebido, do ponto de vista do paciente.

Journal of ISAKOS

O periódico on-line é o jornal oficial da Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Medicina Esportiva Ortopédica (ISAKOS) e sintetiza as pesquisas mais recentes e as diretrizes baseadas em evidências em medicina esportiva ortopédica e traumatologia, fornecendo aos especialistas uma referência completa para diagnosticar e tratar pacientes.