Em 21 de novembro ocorreu no anfiteatro da Comissão de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp a defesa da tese “Simbólicos emergentes da experiência de vida com a Doença de Graves - Um estudo Clínico-Qualitativo de relatos de pacientes em estado tireotóxico com e sem Doença Ocular da Tireoide”. Lucas Serra Valadão foi aprovado doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, orientado pelos docentes Egberto Turato (Departamento de Psiquiatria) e coorientado por Denise Wittmann (Clínica Médica). 

O trabalho, que já havia sido apresentado em congresso internacional, objetivou interpretar significados emocionais, simbólicos, das percepções de si, tais como relatadas por pacientes com Doença de Graves, em eutireoidismo (níveis normais da tireoide) e com oftalmopatia (alteração da órbita ocular decorrente da doença). A pesquisa foi conduzida em ambulatório do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. A demanda apresentada incialmente pelos endocrinologistas da unidade foi investigar como os aspectos representativos na mente, associados com os sintomas físicos e emocionais, interferem no sentido da vida.

“O avanço trazido ao conhecimento pela tese está nas construções simbólicas estudadas a partir das vivências de uma doença hormonal em que todo o corpo é envolvido - diferente daquela ‘localizada’, como, por exemplo, uma artrose no joelho. As interpretações apontam a necessidade do manejo desafiador de um adoecimento que atravessa a biografia do paciente, bem como seu completo corpóreo”, declara Egberto.

O enfoque metodológico predominante foi o da Pesquisa Clínico-Qualitativa, modalidade aborda os elementos simbólicos emergentes das vivências emocionais no processo do adoecimento e dos cuidados terapêuticos e preventivos às doenças, conforme relatados em entrevistas livres por participantes convidados: pacientes, familiares e profissionais clínicos. “O trabalho do agora doutor Lucas acontece integra uma geração amadurecida em um grupo de pesquisa que completou 27 anos de investigações qualitativas”, acrescenta Egberto.

Na FCM, a banca examinadora foi composta pelas professoras Daniele Sacardo, do Departamento de Saúde Coletiva, e Regina Yu Shon Chun, do Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação. Participaram como membros externos: Bruno José Barcellos Fontanella, da Universidade Federal de São Carlos, e Gisah Amaral de Carvalho, da Universidade Federal do Paraná.

A defesa foi um marco na carreira de Egberto, por se tratar de sua 50ª orientação em programas de pós-graduação stricto sensu. O psiquiatra e metodologista, que coordena o Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa (LPCQ), responsabilizou-se por 174 pesquisas do grupo entre 1991 e 2024.  

“Parabéns pelas suas qualidades de dedicação, compromisso acadêmico e competência, expressas na sua vida profissional e como pessoa humana”, declarou o professor José Dirceu Ribeiro sobre o colega. Em 2014, o docente também havia alcançado o marco da 50ª tese. “Seu apoio e orientação foram muito importantes na minha carreira”, declarou Eliana Stuchi Perez, primeira aluna de iniciação científica de Egberto. A professora da Unifipa atualmente utiliza da metodologia qualitativa em pesquisa à qual orienta.

Alcançar a marca das 50 teses orientadas carrega ao menos dois significados para o professor-pesquisador. Egberto aponta, em primeiro lugar, o elemento bibliométrico relevante a ser considerado. Houve uma trajetória universitária com produção relevante de pesquisas sob sua liderança à sociedade.

“O segundo significado, mais forte, é o caráter simbólico desta experiência profissional e vocacional, na esfera pessoal e institucional. Números redondos habitam o imaginário coletivo de modo indelével, exercendo fascínio psicológico e cultural. Por exemplo, completar o aniversário de 50 anos merece celebração. É metade percorrida de um de um ‘enfeitiçante centenário de vida’. Experienciar a 50ª tese concluída é vivenciar o sabor pleno do ‘eu cheguei lá’, que agora se faz no denso ‘está aqui!’", finaliza o professor.

Biografia

Egberto Ribeiro Turato foi o criador do MCQ - Método Clínico-Qualitativo, bastante difundido pelo país em programas de pós-graduação. É líder do LPCQ, fundado 1997 e credenciado CNPq, com reuniões semanais em peer-review, acompanhando em grupo desde a elaboração dos projetos até a revisão dos artigos. Seu ensino é marcado pelos estudos qualitativos em saúde clínica, ressaltando a experiência perceptual subjetiva de uma não-saúde dos indivíduos.

Em março de 2024 Egberto completou 50 anos de Unicamp, contando seu ingresso no vestibular. Na FCM se graduou em Medicina, fez residência em Psiquiatria e obteve doutorado em Ciências Médicas. Ingressou como professor em 1985, obtendo os títulos de livre-docente (2006) e professor titular (2011). Atualmente é professor colaborador no Departamento de Psiquiatria. É pós-doutor em Interconsulta Psiquiátrica e Pesquisa Qualitativa pela Universidade de Pádua, na Itália.

O docente da FCM encontra-se entre os 6,4% cientistas mais produtivos do mundo, segundo o World Subject Rankings da AD Scientific Index, que considera índices bibliométricos de 220 países. Foi examinador em 278 bancas de universidade em todo o Brasil, de qualificações e de defesas, de mestrado, doutorado, concursos de ingresso e ascensão de carreira. Acumula cerca de 800 apresentações científicas sob diversas formas em eventos.

É autor do “Tratado da Metodologia da Pesquisa Clínico-Qualitativa” (Editora Vozes, 6ª edição), que soma mais de 3,2 mil citações Google em artigos e teses. Tem 15 capítulos de livros e mais de 300 resumos em anais de congressos nacionais e internacionais. Possui ainda produção internacional, com 87 abstracts resultantes do LPCQ publicados na revista European Psychiatry.

Foi editor associado de periódicos nacionais e internacionais, avaliador da SciELO, Fapesp e Conselho Estadual de Educação. Possui alta produção de artigos “quali” em revistas, com destaque para os manuscritos “Qualitative and Quantitative Methods In Health”, da Revista de Saúde Pública, e a coautoria de “Amostragem por Saturação em Pesquisas Quali em Saúde”, dos Cadernos de Saúde Pública.