Dados da Pesquisa Nacional de Saúde publicados por pesquisadoras do EpiDOC (FCM) revelam que 60% da população indígena adulta não aldeada têm ao menos uma doença crônica
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
29 de outubro de 2024

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Colaborou: Daniela de Assumpção  

Estudo inédito com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/IBGE) de 2019, realizado por pesquisadoras da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revelou que 60% da população indígena que vive fora de aldeias têm ao menos uma doença crônica. Os resultados foram publicados na revista “Saúde em Debate”.

Pela Unicamp, assinam o estudo pesquisadoras do laboratório Epidemiologia das Doenças e de Outras Condições Crônicas (EpiDOC): Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco, Daniela de Assumpção, Aldiane Gomes de Macedo Bacurau e Veronica Batista Gomes Leitão; e, pela UFMG, Deborah Carvalho Malta.

Segundo o estudo, cerca de 60% dos indígenas não aldeados com 20 anos ou mais de idade apresentavam ao menos uma enfermidade crônica e aproximadamente 35% tinham duas ou mais doenças (multimorbidade). As doenças mais prevalentes foram a hipertensão arterial (29,3%), as doenças/problemas crônicos da coluna vertebral (20,6%) e o colesterol alto (14,3%), depressão (10%) e artrite/reumatismo (10%).

Em 2022, o número de pessoas que se autodeclararam indígenas no Brasil foi de cerca de 1,69 milhão, o que representava 0,83% da população total do País, quase o dobro em relação ao Censo anterior. Entre os não aldeados, 87,5% residiam em áreas urbanas, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste. Quanto à posse de plano médico, 86,4% dependiam exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), percentual maior do que o encontrado para a população adulta não indígena.

Caracterização sociodemográfica da população indígena com idade maior ou igual a 20 anos com base na PNS de 2019. Imagem: autoras

Para as autoras, os dados refletem um estilo de vida que favorece a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis e revelam o impacto da desigualdade social na saúde. “Boa parte da população indígena que não vive em aldeia encontra-se nas periferias, vivendo em piores condições socioeconômicas, com menor acesso à infraestrutura e equipamentos públicos, como por exemplo, locais para a prática de atividades de lazer e aquisição de alimentos saudáveis e culturalmente aceitáveis. Somado a isto, o contato com outras culturas aumenta o risco do surgimento de problemas de saúde que, relacionados com as mudanças no modo de vida, podem potencializar a ocorrência de doenças crônicas”, declara Daniela de Assumpção.

Entre as políticas públicas necessárias para enfrentar as doenças crônicas mais prevalentes, o estudo aponta a implementação de práticas relacionadas à promoção da saúde e à prevenção de agravos, considerando que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e deve atender à diversidade. “Isso coloca-se como um desafio para o SUS e, em especial, para a Atenção Primária à Saúde”, afirma Priscila Francisco.

Por fim, para as pesquisadoras do EpiDOC, entre os próximos passos em pesquisa possíveis para aprofundar o conhecimento na área está o desenvolvimento de inquéritos específicos para avaliar as condições de vida e de saúde das populações indígenas. Além disso, dados de saúde de diferentes etnias e da população aldeada permitiriam estabelecer novas comparações.   

Pesquisadoras do EpiDOC: Aldiane Gomes de Macedo Bacurau, Daniela de Assumpção e Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco. Foto: divulgação/EpiDOC


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