Acolhimento e cuidado: Cartilha em saúde trans, travesti e não binária é finalista do I Prêmio Jabuti Acadêmico
Publicado por: Karen Menegheti de Moraes
24 de julho de 2024

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Em 18 de julho, foram divulgados os finalistas do I Prêmio Jabuti Acadêmico. A “Cartilha em saúde trans, travesti e não binária: ‘caminhos nada suaves’”, elaborada pelo Coletivo Conexões, do Departamento de Saúde Coletiva (DSC) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi selecionada na categoria Enfermagem, Farmácia, Saúde Coletiva e Serviço Social. Claudia Helena Rego, Jonathas Justino e Leila Dumaresq, alunos do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da FCM, são organizadores da publicação. Sérgio Resende Carvalho, professor do DSC, coordena o trabalho.

A cartilha foi publicada pela biblioteca da FCM e é uma das obras da Unicamp selecionadas para a final do prêmio. Os vencedores serão revelados em cerimônia no dia 6 de agosto, em São Paulo. O projeto foi viabilizado com recursos do 3º Edital PEX ProEC (Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura), no ano de 2021, no valor de R$ 10 mil, e executado a partir de 2022. Além disso, houve a aprovação de bolsas de extensão via Diretoria de Projetos de Extensão (DProj), em 2022, totalizando cerca de R$ 20 mil, que garantiu três bolsistas de pós-graduação e dois de graduação, agregando estudantes das áreas de História, Terapia Ocupacional, Ciências Sociais e Medicina.

Construção coletiva

Jonathas conta como surgiu a ideia do material. “Tanto eu, quanto Cláudia e Leila, a partir de nossas particulares experiências, sabíamos da importância deste trabalho e que a possibilidade de contribuir com a rede de saúde de Campinas, em especial os centros de saúde, conferia um desafio primordial para a qualificação do atendimento direcionado à população transexual, travesti e não binária do município”. A opção pelo formato da cartilha surgiu após diversas discussões durante a organização do trabalho, a partir da aprovação da ProEC, em 2021.

Obra finalista do I Prêmio Jabuti Acadêmico na categoria Enfermagem, Farmácia, Saúde Coletiva e Serviço Social. Imagem: Coletivo Conexões

“O marcador de execução mais importante era a premissa de que a própria população transgênera usuária dos serviços de saúde de Campinas deveria ser ouvida. Estas pessoas seriam a ‘bússola’ de levantamento de demandas sobre sua saúde, cuidado e necessidades. São elas: Amanda, Carla, Aline, Thalyson, Júnior, Julian e Pedro, entrevistados do vídeo de abertura indicado no início da cartilha. A produção contou ainda com a ajuda de profissionais de saúde e movimentos sociais da cidade. Isto é o diferencial da cartilha, pois ‘junta’ e leva em consideração diferentes experiências acerca da necessidade de um atendimento em saúde digno e eficiente às pessoas trans, travestis e não binárias”, afirma o organizador.

Nesse sentido, para Jonathas, a extensão tem o potencial de produzir cuidado em saúde, descentralizando o conhecimento da academia, desde que leve em conta os saberes válidos e imprescindíveis das comunidades nas quais as universidades se inserem. “O conhecimento produzido a partir de construções coletivas só valoriza seus resultados. As pessoas trans, travestis e não binárias precisam fazer parte de como o cuidado direcionado a elas mesmas é pensado, formulado e operado. Somente assim conseguiremos avançar na referida pauta”.

Letramento dos trabalhadores e usuários do SUS

A cartilha versa sobre temas práticos do dia a dia do trabalho em saúde, a partir de uma linguagem objetiva e acessível, informando sobre o atendimento humanizado no cerne do cuidado institucional. Além disso, diz dos direitos de quem vive a transexualidade, a travestilidade e a não binariedade. “A cartilha chega com esse propósito: de estabelecer diálogo, construir pontes com as pessoas e levantar este tema como fundamental para se garantir os princípios da universalidade e do cuidado integral, sustentadores do SUS”, declara o organizador.

Além dos profissionais da saúde, a cartilha é voltada a todo o aquele que se ocupe do cuidado trans, travesti e não binário, visando descontruir tabus, desinformações, estereotipias e preconceitos, como profissionais da assistência social, das escolas, da segurança pública, etc. Em 2024, o material foi lançado via secretaria municipal de Saúde de Campinas e direcionada a todos os centros de saúde, sendo utilizado em ações de apoio na rede e contribuindo com o cotidiano das pessoas trabalhadoras e usuárias do SUS. “Estamos felizes com os resultados vivenciados até aqui”, afirma Jonathas. A cartilha está disponível para acesso na versão digital.

Carla Alves, entrevistada por integrantes do Coletivo Conexões: ouvir a população transgênera norteou o trabalho que originou a cartilha. Foto: Laboratório Cisco

Realização e visibilidade

Para Jonathas, a indicação ao Jabuti vai além da realização pessoal, uma vez que o Brasil é considerado um dos países mais violentos no que se refere à população trans e travesti. “Estar na final do I Jabuti Acadêmico é incrível, e poder levar a pauta para a discussão coletiva e construir visibilidade sobre este tema é ainda mais significativo. Após a finalização do documento, nossa preocupação é que ele tivesse alcance, chegasse nas pessoas: tanto nos profissionais de saúde, quanto nas próprias pessoas transexuais, travestis e não binárias. A felicidade de estar na final desta premiação também se deve a este objetivo que sempre tivemos em mente”.

“Este é um material que tem subsidiado políticas em secretarias de Saúde e, conforme o reconhecimento, seguirá contribuindo para estas batalhas pela afirmação da diversidade e de outros modos de cuidar da vida que se fazem cada vez mais necessários. Meu carinho e consideração aos 31 autores, colegas que coordenaram e agradecimento ao DSC e ProEC, que deram passagem a este projeto que, mais do que extensão (ou na dobra), trouxe e, segue trazendo, frutos para projetos de investigação e de formação para graduação e pós-graduação em nossa universidade”, declara Sérgio Carvalho, docente responsável pelo trabalho.

Acesse a cartilha, aqui.

Thalyson Ignácio, Júnior Gabriel de Freitas, Amanda Reis, Carla Alves, Júlio Mattos, Coraci Ruiz, Pedro Santos, Claúdia Helena Rego, Jonathas Justino, Aline Pinheiro, Julian Raphael de Oliveira e Hidalgo Romero participaram de vídeo que abre a cartilha. Foto: Laboratório Cisco

Pesquisadores responsáveis pela organização geral do trabalho

Jonathas Justino é psicólogo, mestre em Saúde Coletiva e doutorando em Saúde Coletiva na Unicamp, na área de Política, Planejamento e Gestão.

Claudia Helena Rego é médica com residência em Tocoginecologia com especialização em Sexologia, pós-graduação em Medicina de Família e Comunidade e doutoranda em Saúde Coletiva na Unicamp.

Leila Dumaresq é formada em Filosofia pela Unicamp e mestranda em Saúde Coletiva da mesma universidade. Militante do Grupo Identidade. Luta por SUS público e gratuito no município de Campinas.

Júlio Mattos, Jonathas Justino e Coraci Ruiz. Foto: Laboratório Cisco

Coletivo Conexões

O “Coletivo Conexões: políticas da subjetividade e saúde coletiva”, do Departamento de Saúde Coletiva da FCM, é composto por pesquisadores que colocam seu olhar de investigação para fora da academia, no estabelecimento de parcerias com serviços de saúde e outras áreas do conhecimento, e tem como premissas as visões inter e multidisciplinar de atuação. 

Sobre o Jabuti Acadêmico

O Prêmio Jabuti Acadêmico foi criado em 2024 e é dedicado às áreas científicas, técnicas e profissionais, visando valorizar, reconhecer a excelência e divulgar os autores e editores que se dedicam a esses segmentos no Brasil. Os autores premiados em cada uma das categorias receberão uma estatueta e um prêmio de R$ 5 mil.



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