Pesquisa sobre hepatite B e C ganha prêmio em Angola
Publicado por: Camila Delmondes
01 de dezembro de 2015

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O médico Óscar Alfredo Paulo recebeu a menção honrosa pela pesquisa “Rastreio da hepatite viral B e C no Hospital Provincial do Uige”. O prêmio foi concedido pela Ordem dos Médicos de Angola. Oscar faz especialização em gastroenterologia clínica no Gastrocentro da Unicamp e é aluno de pós-graduação do convênio internacional firmado entre a Universidade e o governo de Angola.  A orientação da pesquisa foi do gastroenterologista Jazon Romilson de Souza Almeida, médico do Gastrocentro da Unicamp.

"Este convênio prevê a formação,  pela Unicamp, de centenas de profissionais médicos e não-médicos que atuarão em Angola. A disciplina
de Gastroenterologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e o Gastrocentro receberão outros profissionais, de acordo com a demanda de Angola. Já contribuimos com a formação de um médico angolano que, atualmente, é o responsável pelo Serviço de Endosccopia Digestiva do maior hospital de Luanda", explicou o médico 
José Murilo R. Zeitune, chefe da disciplina de Gastroenterologia da FCM.

O Hospital Provincial do Uige é um dos maiores de Angola e atende, gratuitamente, uma população de dois milhões de habitantes. Óscar conta que o Hospital Provincial do Uige demonstra ser o epicentro da história cíclica de epidemias em Angola. Na década de 1970, epidemia de febre tifoide; em 1995, epidemia de febre hemorrágica e em 1996, um surto caracterizado por diarreia, febre e icterícia que nunca foi investigado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Angola está incluída na área de alta e média endemicidades para a hepatite B e C. A hepatite caracteriza-se por um mal-estar, dor abdominal mal definida e síndrome febril, algumas vezes ictérica. Na hepatite por vírus C, 80% dos casos a fase aguda é assintomática. Na sua forma crônica, ambas podem levar à cirrose hepática e ao carcinoma hepatocelular, de maneira letal.

“A hepatite é uma doença silenciosa. O vírus fica incubado e vai se manifestar na fase aguda da doença. Como não havia dados sobre a hepatite em Angola, fiz a pesquisa no mês de agosto do ano passado por meio de marcadores sorológicos e revisão bibliográfica, quando estive em Angola”, explicou Óscar.

A amostragem foi constituída de 170 pacientes. Entre doentes internados pelas mais diversas causas, foram excluídas menores de 15 anos e pacientes obstétricos. Os resultados demonstraram 31 pacientes (18%) positivos para o vírus da hepatite B; 7 pacientes (4%) positivos para o vírus da hepatite C. A coinfecção pelo vírus da hepatite B e C foi observada em cinco pacientes (3%).

Do total de casos soropositivos, 4 pacientes (10,5%) tiveram história prévia de transfusão sanguínea até aos últimos seis meses antes do teste; 15 pacientes (40%) apresentaram evidência clínica de cirrose hepática descompensada e 2 pacientes (5,2%) apresentaram sinais ecográficos sugestivos de carcinoma hepatocelular, tendo um deles evoluído a óbito após uma semana.

“A média de transfusões sanguíneas no Hospital é de 450 por mês. Em Angola, faz-se ainda transfusão de sangue sem fazer o teste para a hepatite. A pesquisa mostra que 10% dos pacientes diagnosticados com hepatite B e C tiveram histórico de transfusões múltiplas nos últimos meses. Com os conhecimentos adquiridos, queremos ajudar aos gestores da área da saúde de Uige a tomar novas decisões”, disse Óscar.

O médico angolano fica no Brasil até fevereiro de 2014, quando termina sua especialização. Até lá, ele completa a sua formação na área de gastroenterologia. Óscar confessa ter um ciúme positivo do Brasil nos avanços no campo da saúde, ensino e comunicação.

“Tenho a responsabilidade de voltar para Angola e fazer a minha parte para melhorar a assistência e o ensino de saúde no meu país. Vocês, aqui, estão no céu”, disse o médico angolano.

Texto: Edimilson Montalti – ARP-FCM/Unicamp

Fotos: Arquivo pessoal e Edimilson Montalti



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