O câncer é mundialmente a segunda maior causa de morte. As práticas preventivas e a detecção precoce das neoplasias são de grande relevância, em razão de que quanto mais cedo o câncer for identificado, maiores são as chances de cura. Análises de desigualdades sociais na prevalência dessas práticas são essenciais para identificar e evitar que segmentos populacionais fiquem prejudicados em decorrência de menor acesso a elas. Este estudo tem como objetivo analisar a realização de práticas preventivas para as neoplasias de colo de útero, mama, próstata e colorretal na população de Campinas e verificar as desigualdades sociais presentes na cobertura populacional dos exames preventivos utilizando dados de inquérito de saúde de base populacional. Trata-se de um estudo transversal, de base populacional, realizado em Campinas, com dados do ISA Camp 2014/15. A amostra foi estratificada por conglomerados em dois estágios. As entrevistas foram aplicadas por entrevistadores treinados, utilizando tablets, com questionário dividido em 12 blocos temáticos. Foram analisados dados de mulheres com 25 anos ou mais e homens com 50 anos e mais, em decorrência das faixas etárias utilizadas nos testes preventivos. As variáveis dependentes foram a realização de exames preventivos (Papanicolaou, Mamografia, PSA, SOF e sigmoidoscopia/colonoscopia) e as independentes incluíram sexo, idade, escolaridade, plano de saúde, raça/cor e renda. Nas análises, foram estimadas prevalências e razões de prevalência ajustadas por sexo e idade, geradas por meio de regressão múltipla de Poisson. As análises foram realizadas com uso do Stata 14, que permite considerar os pesos amostrais e de pós-estratificação. Dos dados analisados foi possível constatar que das mulheres de Campinas, 87,8 realizaram exame Papanicolaou nos 3 anos prévios à entrevista e 80,5 fizeram mamografia nos últimos 2 anos. A prevalência de realização de Papanicolaou foi maior nas mulheres com plano de saúde privado (RP= 1,11) maior escolaridade (RP=1,18) e maior renda (RP=1,11). A realização de mamografia teve prevalência maior nos segmentos com plano privado (RP=1,20), maior escolaridade (RP= 1,28), maior renda familiar (RP=1,19) e nas mulheres brancas (RP=1,17) em comparação às negras. Para o PSA, 55,2 dos homens acima de 50 anos fizeram o exame nos 3 anos que antecederam a entrevista e 80,1 fizeram pelo menos uma vez na vida. A prevalência foi maior entre os que possuem plano de saúde e maiores escolaridade e renda (RP=1,47, 1,38 e 1,36). Quanto ao SOF, 22,3 das pessoas com 50 anos ou mais fizeram o exame nos últimos 2 anos, e 21,5 realizaram colonoscopia/sigmoidoscopia ao menos uma vez na vida. A realização de exames para câncer colorretal foi maior entre aqueles com plano de saúde (RP=1,67 para SOF e 2,62 para colonoscopia), maior escolaridade (RP=2,20 e 2,86) e renda (RP=1,73 e 2,50); a prevalência de colonoscopia foi maior nas mulheres (RP=1,38) em comparação aos homens. Conclusão: Os resultados indicaram uma boa adesão às metas do Ministério da Saúde para os exames de câncer de mama e colo uterino, embora persistam desigualdades socioeconômicas no acesso. Os exames de SOF e colonoscopia/sigmoidoscopia mostraram baixa cobertura, com desigualdades sociais mais acentuadas. A prevalência de mamografia foi maior entre mulheres brancas, sem diferenças raciais nos demais exames. Esses achados reforçam a necessidade de políticas públicas mais equitativas e de programas de rastreamento organizados para ampliar o acesso e reduzir as desigualdades.