Contexto: A Doença Inflamatória Intestinal (DII) engloba a retocolite ulcerativa (RCU) e a doença de Crohn (DC), ambas caracterizadas pela inflamação intestinal imunomediada, crônica e idiopática. Diante do caráter inflamatório da DII, é possível haver uma conexão entre a atividade da doença, o perfil inflamatório da dieta e a adiposidade corporal. No entanto, são escassos os estudos que buscaram correlacionar esses fatores. Objetivo: Avaliar a influência do índice inflamatório da dieta (IID), da alimentação com carboidratos fermentáveis (FODMAP), da avaliação antropométrica e da síndrome metabólica (SM) na atividade endoscópica e/ou radiológica da DII. Método: Foi realizado um estudo observacional transversal, que incluiu indivíduos portadores de DII avaliados entre 2021 e 2022. Nos indivíduos com DC, a atividade da doença foi definida pelo Crohn’s Disease Endoscopic Index of Severity (CDEIS) ≥ 5 e/ou Magnetic Resonance Index of Activity (MaRIA) ≥ 7. Já nos indivíduos com RCU, a atividade endoscópica foi definida pelo escore de Mayo ≥ 2. O IID, o IID ajustado para densidade energética (EIID) e o consumo de FODMAP foram calculados a partir de questionários de frequência alimentar específicos. A avaliação antropométricafoi avaliada pelo cálculo do índice de massa corporal. Para a estimativa da gordura visceral, foi realizada a medida da circunferência da cintura (CC) e as relações entre as circunferências da cintura e do quadril (RCQ) e a da cintura e da altura (RCA). Critérios antropométricos e bioquímicos foram utilizados para avaliar a SM. Resultados: Foram incluídos 62 participantes (34 DC; 28 RCU). Dentre eles, 41,93 (n=26) apresentavam critérios de atividade (A-DII) e 58,07 (n=36) de remissão da DII (R-DII). O IID variou de -2,3 a 6,3, com uma mediana de 1,3. Já o EIID oscilou entre -1,0 a 4,9 com mediana de 1,3. A mediana do IID no grupo A-DII foi de 1,0 e no grupo R-DII de 1,4 (p=0,31); e do EIID de 1,2 e 1,3, respectivamente (p=0,82). Na divisão em tercis do EIID, 42,3 (n=11) do grupo A-DII pertencia ao tercil 3 (mais pró-inflamatório), e 38,9 (n=14) do grupo R-DII, ao tercil 2 (p=0,34). O consumo de FODMAP na população geral foi de 5,2g, sendo 5,1g no grupo A-DII e 6,3g no grupo R-DII (p=0,39). Foi observada uma prevalência de sobrepeso / obesidade na população estudada de 61,3 (n=38). A mediana da CC foi de 96cm (p=0,19). A RCQ elevada foi observada em 69,2 (n=18) do grupo A-DII e 97,2 (n=35) do R-DII (p<0,05), já a RCA elevada foi constatada em 34,6 (n=9) e 55,6 (n=20), respectivamente (p=0,10). A SM foi evidenciada em 29 (n=18) da amostra, sendo 15,4 (n=4) no grupo A-DII e 38,9 (n=14) no R-DII (p<0,05). Conclusões: Foi observada uma dieta mais pró-inflamatória entre os participantes, evidenciada pelo elevado IID e EIID. Tanto o perfil inflamatório da dieta, quanto o consumo de FODMAP não apresentaram correlação com a atividade da doença. Houve alta prevalência de sobrepeso e obesidade entre os participantes do estudo, sendo a gordura visceral elevada e a SM mais prevalentes entre os participantes em R-DII.