“Com ou sem balde de gelo devemos todos falar sobre a epilepsia”, diz o professor Li Li Min, do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sobre o Dia Nacional e Latino-americano voltada à conscientização da epilepsia, celebrado nessa terça-feira (9). Até o próximo sábado (13), os moradores de Campinas e região poderão contar com uma programação recheada de ações sobre este tema, que vão de palestras de esclarecimento, a visita a museus, exposição fotográfica e concertos de piano. As atividades são organizadas pela Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (ASPE) e pelo Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (Cepid Brainn).
Acesse a programação completa aqui.
Ao contrário da Esclerose Lateral Amiotrófica, considerada rara, e que recentemente virou hit na internet com o desafio do “balde de gelo”, a epilepsia é a doença neurológica grave mais comum em todo o mundo. Apesar de atingir cerca de 1% da população global, segundo dados Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ainda é grande o desconhecimento das pessoas em relação aos sintomas e tratamento da doença. “A epilepsia é pouco debatida. Precisamos falar cada vez mais sobre o assunto, contribuindo para reduzir a carga de preconceito e estigma associados a ela”, afirma Li Li Min, que em 2013, foi agraciado pela Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE) e o Escritório Mundial da Epilepsia (IBE) com o título de Embaixador da Epilepsia no Brasil.
Na sequência, o pesquisador responde a uma série de dúvidas frequentes sobre a doença.
Mitos e Verdades sobre Epilepsia:
1 - Epilepsia é uma doença contagiosa?
Não. A epilepsia não é contagiosa. A epilepsia ou tem origem genética ou pode ser adquirida em qualquer momento da vida por causa de algum trauma no cérebro.
2 - A “baba” transmite a doença?
Não. A “baba” é apenas saliva produzia em excesso. Novamente, é importante ressaltar que a epilepsia NÃO é doença contagiosa
3 - Quem tem epilepsia pode dirigir? Por quê?
Há dois casos: Pessoas que têm crises NÃO devem dirigir, porque as crises são imprevisíveis e podem acontecer enquanto a pessoa está dirigindo e pessoas que têm crises controladas depois de anos podem obter carteira de habilitação para carros de passeio e para uso pessoal, conforme o código do DETRAM.
4 - Quem tem epilepsia pode praticar esporte?
Sim. E não só podem como devem. A atividade física traz benefícios físicos, mentais e sociais.
5 - Quais esportes não podem ser praticados por pessoas com epilepsia?
A escolha da modalidade esportiva depende do caso. Se a pessoa tem crises controladas, a princípio, não há restrições. Se a pessoa tem crises, os riscos de ter uma durante a prática da atividade esportiva devem ser levados em conta. A seguir, apresentamos uma lista de restrições relativas às atividades esportivas não recomendadas ou totalmente contraindicadas a pacientes com epilepsia. Contraindicação absoluta: paraquedismo, asa delta, alpinismo, escaladas, mergulho submarino, natação competitiva em crianças com crise de ausência. Contraindicação relativa: arco e flecha, tiro, ciclismo competitivo para crianças com crise de ausência, natação, surfe, ginástica olímpica.
6 - Quem tem epilepsia pode ingerir bebida alcoólica? Por quê?
Sim, mas em pequenas doses. Isso porque os excessos de álcool podem piorar a condição de saúde da pessoa com epilepsia. É importante lembrar que, embora amplamente aceito na sociedade brasileira, o álcool é uma droga que pode trazer inúmeros malefícios físicos, mentais e sociais. Por isso, deve sempre ser ingerido com moderação, principalmente por pessoas com epilepsia.
7 - Deve-se fazer pausa na medicação antiepiléptica para ingerir bebidas alcoólicas?
Não. Deve-se manter o uso da medicação antiepiléptica mesmo ao ingerir bebida alcoólica. A bebida alcoólica é fator que desencadeia crises epilépticas. Se for feita pausa na medicação antiepiléptica, os níveis do remédio no sangue diminuirão, o que também facilita a ocorrência de crises epilépticas. Assim, o uso de bebida alcoólica e a pausa na medicação antiepiléptica só vão aumentar a possibilidade de se ter uma crise. Por isso, a medicação antiepiléptica NUNCA se deve interrompida para ingestão de bebidas alcoólicas.
8 - Nos estudos, deve-se contar aos professores e à direção da escola que o filho/que a própria pessoa tem epilepsia?
Sim. É muito importante avisar os profissionais de educação sobre a doença. Dessa maneira, esses profissionais poderão oferecer ajuda apropriada em caso de crises epilépticas que venham a ocorrer no estabelecimento de ensino. As escolas devem estar preparadas para lidar com epilepsia de forma inclusiva e incentivar a educação de todas as crianças para que aprendam a conviver com as diferenças. É comum, no entanto, esses profissionais da área de educação desconhecerem a doença e maneiras de ajudar durante uma crise. Por isso, muitas vezes será necessário informar o diretor e professor sobre como agir e incentivá-los a aprenderem mais sobre a doença. Se no estabelecimento de ensino não souberem lidar com a doença, peça aos professores e diretores para se informarem sobre como devem agir.
9 - Existem profissões proibidas para quem tem epilepsia? Por quê?
Algumas profissões devem ser evitadas. Segundo o Ministério do Trabalho, as principais são: operação de máquinas pesadas, trabalhar em alturas e motorista de caminhão ou de ônibus. Em alguns raros casos de epilepsia mais grave, chega a ser necessária aposentadoria por invalidez. O olhar, no entanto, deve ser direcionado para aquilo que você pode fazer. Atualmente, há inúmeras possibilidades profissionais. Lembre-se de que as limitações existem para todos, seja de forma mais ou menos acentuada. Cabe a cada um buscar desenvolver as suas habilidades plenamente. Para isso, o passo inicial é a educação. A doença não impede você de estudar. Estude, qualifique-se e persista.
10 - Ter crise convulsiva significa, necessariamente, que a pessoa tem epilepsia?
Não. As crises convulsivas podem ocorrer, também, em algumas situações, tais como por causa de alguns distúrbios metabólicos.
11 - A crise epiléptica pode ocorrer durante o sono?
Sim. As crises podem ocorrer normalmente durante o sono. Há, até, alguns tipos de epilepsia em que as crises só ocorrem durante o sono.
12 - O sonambulismo é um tipo de epilepsia?
Não. O sonambulismo é um tipo de distúrbio do sono. Há casos de epilepsia que podem se parecer com o sonambulismo. Por isso, se a pessoa apresentar casos que se assemelhem ao sonambulismo, é importante consultar um médico.
13 - O estresse influencia na ocorrência de crises?
Sim. Em pessoas com epilepsia, o estresse é um fator que pode desencadear crises.
14 - O estresse causa epilepsia?
Não. O estresse somente facilita a ocorrência de crises epilépticas quando a pessoa já tem epilepsia.
15 - A pessoa sempre perde a consciência durante as crises epilépticas?
Não. Há crises parciais simples durante as quais a pessoa não perde a consciência, podendo se comunicar normalmente.
16 - Deve-se segurar a língua da pessoa durante crise epiléptica?
Não. Ao fazer isso, você corre o risco de machucar a boca da pessoa ou de ter seu dedo mordido, com a possibilidade de amputação.
17 - A língua pode ser engolida durante a crise epiléptica?
Não. A língua é um músculo e apenas fica endurecida durante a crise, assim como os outros músculos do corpo. Por isso, não há nenhuma possibilidade de ser engolida.
18 - Deve-se colocar algum objeto na boca da pessoa em crise, para que ela não morda sua língua?
Não. Ao fazer isso, você corre o risco de machucar a boca da pessoa ou de quebrar os dentes ou a mandíbula dela. Se a pessoa morder a língua durante a crise, o corte cicatrizará em 1 ou 2 dias.
19 - Deve-se jogar água no rosto da pessoa durante crise epiléptica?
Não. A água não vai interromper a crise epiléptica. Além de não trazer qualquer benefício, jogando água, você pode fazer a pessoa se engasgar ou até se afogar.
20 - Deve-se bater no rosto da pessoa em crise epiléptica?
Não. Bater no rosto da pessoa não vai interromper a crise epiléptica. Bater no rosto apenas irá machucar a pessoa.
21 - Se eu der a medicação para a pessoa durante a crise epiléptica, a crise será interrompida?
Não. A medicação não faz efeito na hora em que é tomada. Além disso, a pessoa poderá se engasgar com o medicamento. É o uso contínuo da medicação que conseguirá evitar as crises.
22 - Devo prender os braços e as pernas da pessoa em crise epiléptica?
Não. Na realidade, segurar os braços ou as pernas poderá causar fraturas de ossos da pessoa.
23 - Os medicamentos antiepiléticos podem ter efeitos colaterais nas mulheres?
Sim, os medicamentos para tratar da epilepsia podem apresentar efeitos colaterais nas mulheres. Dentre os efeitos colaterais mais comuns estão: Aumento de pêlos; Ganho de peso; Queda de cabelo. A possibilidade de efeitos colaterais é mais um motivo para manter acompanhamento regular com o médico. Na presença de efeitos colaterais, NÃO pare com a medicação. Consulte o médico sobre outras possibilidades de tratamento.
24 - A pílula pode interagir com a medicação antiepiléptica?
Sim. As medicações antiepilépticas podem interagir com as pílulas anticoncepcionais.
25 - Quanto maior a temperatura corporal, maior a chance de haver uma crise convulsiva em crianças menores de 02 anos ?? Crise convulsiva febril, mito ou verdade ??
Sim, segundo este trabalho, maior temperatura está associado a maior chance da crise ocorrer na convulsão febril.
26 - Como acontece essa interação?
As medicações antiepilépticas podem reduzir a eficácia das pílulas anticoncepcionais.
Colaboraram: Patrícia Tambourgi e Carol Coan