Na última terça-feira (3), o curso Diagnóstico da Fibrose Cística em neonatais e adultos: qual a linha demarcatória? – organizado pelo Centro de Investigação em Pediatria (Ciped), com o apoio do curso de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp – apresentou técnica inédita no Brasil para a realização do teste do suor, necessário para detectar a doença de origem rara e ainda sem cura. Na ocasião, as pesquisadoras Tanja Gonska, Julie Avolio e Wan Wip, da Divisão de Gastroenterologia Nutrição do hospital canadense Sick Kids, ensinaram como utilizar o instrumento vaporímetro para detectar a quantidade de suor liberado pelos pacientes.
O curso do Ciped contou a participação de estudantes de pós-graduação dos cursos de medicina, biologia e engenharia da Unicamp, que também tiveram a oportunidade de assistir a exposição da pesquisadora portuguesa Marisa Isabel Lopes de Sousa, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Ela apresentou seus achados em relação ao diagnóstico referencial obtido por biópsia retal. Apesar de ainda ser utilizado somente no ambiente de pesquisa, o exame apresenta bons resultados na diferenciação dos diferentes graus da fibrose cística.
Antonio Fernando Ribeiro, professor do Departamento de Pediatria, traçou um panorama otimista em relação ao tratamento da fibrose cística, com o desenvolvimento de novas ferramentas e métodos diagnósticos. De acordo com ele, a doença que até então não tinha cura, começa a se beneficiar do desenvolvimento de novas drogas e a vislumbrar a possibilidade de cura. Alguns medicamentos, segundo Fernando, já estão em fase de testes de triagem nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, tendo sido liberados para os primeiros testes clínicos em humanos, muito embora, ainda estejam restritos a alguns tipos de mutações. A possibilidade de firmar parcerias internacionais não está descartada. “Ainda não temos o medicamento no Brasil, mas temos a possibilidade de estabelecer contratos com esses centros de pesquisa, para desenvolver trials (testes de medicamentos) e experimentos aqui também”, disse.
A gastropediatra Maria de Fátima Servidoni explicou que a fibrose cística é diagnosticada na fase III da triagem neonatal (Teste do Pezinho), na maioria dos estados brasileiros. O exame intrauterino, como acontece fora do país, é caro e pouco comum no Brasil, e só acontece se o paciente tiver o histórico da doença na família e solicitar o teste genético. O Teste do Pezinho é realizado até 48 horas após o nascimento da criança. Se o resultado apresentar alterações, o paciente é submetido a um segundo teste dentro do período de um mês. “Apresentando novamente a alteração, o indivíduo é então encaminhado a centros de referência como Ciped, para realizar o teste do suor. Pacientes com a doença apresentarão maiores concentrações de cloreto de sódio em relação aos indivíduos saudáveis”, afirmou.
Para o coordenador associado do Ciped, José Dirceu Ribeiro, a colaboração com centros de pesquisas internacionais, a exemplo do Sick Kids, é uma oportunidade única e, seguramente pode render muitos frutos para a Unicamp, referência no Brasil em pesquisas sobre o tema. “Queremos futuramente enviar nossos pós-graduandos e residentes para um centro de primeiro mundo, além de receber mais pesquisadores estrangeiros”, afirmou. Dirceu disse também que, apesar de pequenas diferenças nos métodos, o Brasil oferece condições mais do que suficientes para o diagnóstico da maioria das doenças, incluindo da fibrose cística. “O intercâmbio de pesquisadores é bom, justamente, porque ajuda no esclarecimento de dúvidas e sobre o manejo de determinadas doenças”, complementou.
Os protocolos para a realização de exames diagnósticos podem sofrer pequenas diferenças de um país para outro e essa é uma questão, sobretudo, influenciada por fatores econômicos e culturais, de acordo com Dirceu. “No Brasil conseguimos fazer o diagnóstico gastando menos. Enquanto nos países mais desenvolvidos são realizados testes para diagnosticar de 50 a 100 tipos de mutações, aqui fazemos testes somente para as mutações mais comuns”, citou como exemplo.
No caso da fibrose cística, no entanto, o pesquisador destacou avanços da comunidade acadêmica no sentido de criar um protocolo único mundial. Além disso, ressaltou a importância de trabalhos inter e multidisciplinares que aliem qualidade de vida às pesquisas em andamento. “A inserção de equipes interdisciplinares com a participação de otorrinolaringologistas, gastroenterologistas, pneumologistas, pediatras, clínicos gerais, enfermeiras, psicólogos, fisioterapeutas, dentre outros, tem trazido muitos benefícios aos pacientes e contribuído para o entendimento global das doenças graves”, finalizou.
Entenda mais sobre a doença
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