Pesquisas sobre parto prematuro recebem 2 milhões do CNPq e Fundação Bill e Melinda Gates

Duas pesquisas na área de parto prematuro da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp serão financiadas pelo CNPq e pela Fundação Bill e Melinda Gates. O valor é de 2 milhões de dólares para dois anos de pesquisa. O anúncio do nome dos projetos vencedores foi publicado no dia 25 de novembro no site do CNPq. Além dos dois projetos da Unicamp chamados de “master”, mais oito projetos chamados de “semente” foram selecionados. Para esses projetos, o valor é de 250 mil dólares.

O resultado foi uma surpresa para os obstetras e pesquisadores José Guilherme Cecatti e Rodolfo de Carvalho Pacagnella, ambos do Departamento de Tocoginecologia da FCM. É a primeira vez que duas pesquisas de uma mesma instituição são contempladas. A escolha se deve pela inovação e pelo potencial em transformar os resultados dos trabalhos em melhoria do nascimento de bebês prematuros.

A ocorrência do parto prematuro tem aumentando em todo o mundo e interessa não somente aos países em desenvolvimento, mas também aos países desenvolvidos. Entre 10% a 12% dos nascimentos em países desenvolvidos são prematuros. No Brasil, o índice está perto dos 10%.

“Hoje em dia, do ponto de vista infantil, a maior causa de morbidade e mortalidade é a prematuridade. É um problema difícil de se enfrentar, diferente da mortalidade infantil por infecção que pode ser tratada com vacina”, explica Cecatti.

A pesquisa de Cecatti será o desenvolvimento de biomarcadores de aplicabilidade clínica como testes de rastreamento para mulheres sob risco de apresentar trabalho de parto prematuro (TPP). Para se identificar esses biomarcadores, serão analisadas amostras de sangue de gestantes selecionadas dentre seis mil mulheres de vários países do mundo que fazem parte do biobanco da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, parceira da pesquisa.

Em seguida, será proposto um algoritmo preditivo para trabalho de parto prematuro. A validação clínica ocorrerá com 1.150 mulheres brasileiras recrutadas em cinco centros universitários brasileiros pertencentes à Rede Brasileira de Estudos em Saúde Reprodutiva e Perinatal coordenada pela Unicamp, em parceria nacional com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBios).

“Por meio desses biomarcadores, a identificação precisa de mulheres sob risco de parto prematuro teria grande impacto no cuidado pré-natal, permitindo a implementação imediata de medidas preventivas”, disse Cecatti.

Essas medidas preventivas são, justamente, a linha de pesquisa do obstetra Rodolfo de Carvalho Pacagnella. Hoje para se prevenir o trabalho de parto, há duas maneiras: o uso de medicamento – dentre eles a progesterona – ou mais recentemente, o pessário vaginal – um anel de silicone usado para fechar o colo do útero.

“Hoje em dia, pouco se sabe sobre as situações que disparam o trabalho de parto. Mas, quando notamos que há um encurtamento no colo do útero, sabemos que essa mulher está sob risco de parto antes do tempo. A idéia da pesquisa é atuar antes que o trabalho de parto se desenvolva”, explicou Rodolfo.

Para pesquisa, 30 mil mulheres atendidas em 15 centros de referência em obstetrícia no Brasil serão recrutadas. Todas passarão por ultrassom intravaginal e farão a medida do colo do útero – que não é uma rotina do pré-natal – mas essencial para a pesquisa, segundo Rodolfo. As 840 mulheres que tiverem o colo curto serão selecionadas e divididas em dois grupos: um que receberá progesterona e outro que receberá progesterona e pessário. Ambos os grupos serão acompanhados durante a gestação.

“A progesterona atua do ponto de vista bioquímico e o pessário no sentido mecânico, reduzindo a pressão do colo do útero. Os dois podem funcionar em sinergia. Com esse tratamento, esperamos reduzir em pelo menos 20% a chance das mulheres com colo curto em ter o bebê antes do tempo e se for adequado do ponto de vista de custo-benefício pode-se pensar em incluir a medida do colo de útero no pré-natal”, explicou Rodolfo.

 

Pesquisas:

Utilização da metabolômica para identificação e validade de biomarcadores para parto prematuro

Coordenação: José Guilherme Cecatti

Unidade: Faculdade de Ciências Médicas

 

Estudo P5 - Pessário mais progesterona para prevenção do parto pré-termo

Coordenação: Rodolfo de Carvalho Pacagnella

Unidade: Faculdade de Ciências Médicas

 

Fotos: Marcelo de Oliveira - CADCC/FCM-Unicamp