O doutorando Angelo Borsarelli Carvalho de Brito, a mestranda Ericka Francislaine Dias Costa e o pós-doutorando Gustavo Jacob Lourenço, do Laboratório de Genética do Câncer (Lageca) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da UNICAMP – orientados pela médica oncologista Carmen Silvia Passos Lima – foram premiados com o Travel Award, concedido pelo comitê científico do 38º Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO). Em setembro, eles viajaram até Amsterdam, na Holanda, para apresentar os trabalhos realizados no campo dos polimorfismos genéticos.
O estudo “The Association of the VEGFR2 604T/C Polymorphism with Aggressiveness of Multiple Myeloma”, conduzido por Angelo Borsarelli Carvalho de Brito, foi o primeiro a estudar as variações genéticas dos genes VEGF e VEGFR2 – responsáveis pelo crescimento do endotélio vascular, em pacientes com mieloma múltiplo. De acordo com Angelo, enquanto as pesquisas sobre o mecanismo de crescimento de novos vasos sanguíneos (angiogênese) estão bastante avançadas para tumores sólidos como o de mama, de pulmão e de cólon, por exemplo, pouco ainda foi realizado no campo das neoplasias do sangue, como mieloma, leucemia e linfoma.
“Genotipamos amostras de sangue de 152 pacientes com a doença e de 152 doadores saudáveis para 2 polimorfismos no gene VEGF e 2 polimorfismos no gene VEGFR2. Observamos que o polimorfismo VEGFR2 604T/C esteve relacionado com agressividade da doença, evidenciando o papel importante da angiogênese na progressão do mieloma múltiplo”, disse Angelo.
O trabalho “The PTCH1 g.79755C>T and g.79456C>T Polymorphisms, Enrolled in Proliferation Cell Control, as Risk Factors for Head and Neck Squamous Cell Carcinoma”, conduzido por Ericka Francislaine Dias Costa, avaliou os polimorfismos do gene responsável por codificar a proteína PTCH1 envolvida no controle do ciclo celular.
Segundo Ericka, vários estudos comprovaram que a proteína é candidata a supressora tumoral e que, de alguma forma, ela atua para evitar o desenvolvimento do tumor. Entretanto, ela disse que ainda não é possível afirmar se, em função do polimorfismo, a proteína perde a função, ou se atua de forma diferente em relação aquilo que é esperado.
“Observamos que os polimorfismos PTCH1 g.79755CC e g.79456CC aumentam o risco de desenvolvimento desse tipo de tumor nos indivíduos saudáveis. O indivíduo que possui o genótipo PTCH1 79755CC tem até sete vezes mais chances de desenvolver o tumor do que os outros”, comentou Ericka.
Gustavo Jacob Lourenço foi responsável pelo trabalho "Roles of Genetic Polymorphisms in ERP29, a Tumor Suppressor, and in IKBKAP, a DNA Transcription Factor, in mRNA levels, microRNA Targets and Protein Structure". De acordo com ele, recentemente, foram identificados polimorfismos gênicos nos genes IKBKAP, relacionado com a transcrição do DNA, e nos genes ERP29 e MCC. Tais polimorfismos são supressores tumorais e estão associados ao maior risco de ocorrência de tumor maligno de base de língua. O objetivo do estudo foi avaliar se os genótipos dos polimorfismos alteram a expressão do RNA mensageiro (RNAm), a estrutura proteica e as áreas de ligação de microRNAs.
"Nossos resultados preliminares sugerem que os polimorfismos estudados podem alterar a estrutura da proteína IKBKAP e as áreas de ligação de microRNAs no ERP29 e MCC. Entretanto, análises funcionais das proteínas, que estão em andamento no nosso laboratório, são necessárias para confirmar os nossos resultados”, disse Gustavo.
Glossário
Endotélio vascular – tecido celular que recobre a face interna dos vasos sanguíneos e o coração
Mieloma múltiplo – tipo de câncer de sangue
Angiogênese – processo de crescimento de novos vasos sanguíneos
Polimorfismo – variações genéticas que definem as características físicas dos indivíduos
Texto - Camila Delmondes - ARP - FCM/Unicamp
Foto - Marcelo Oliveira - CADCC - FCM/Unicamp