O câncer de próstata foi a segunda causa de morte por neoplasia na população masculina em Campinas nos anos de 2011 e 2012. A doença foi responsável por 10,6% do total de óbitos por câncer ocorridos no período. Os dados fazem parte do Boletim “Mortalidade por Câncer de Próstata”, edição de número 50 do projeto de Monitorização da Mortalidade do Município de Campinas. A pesquisa foi conduzida pelo Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS), da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas.
“O câncer de próstata é uma doença cuja taxa de mortalidade aumenta de forma expressiva de acordo com a faixa etária”, explica a coordenadora do CCAS e professora do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da FCM, Marilisa Berti A. Barros. No período de 2009 a 2011, a taxa de mortalidade observada para o câncer de próstata na faixa etária entre 40 e 59 anos foi de 2,8 óbitos a cada 100 mil habitantes, aumentando para 32,5 nos homens de 60 a 69 anos e para 165,8 nas idades de 70 a 79. Já nos indivíduos com mais de 80 anos, o valor subiu para 446,7 óbitos por 100.000 habitantes. No período 2011-2012, dos 145 homens que faleceram em decorrência da doença, 40,7% pertenciam a essa faixa de idade.
Dados do boletim revelam que embora entre os óbitos por neoplasias a primeira causa nos homens seja o de brônquios e pulmões, e o segundo o de próstata, este sofreu pequeno declínio na taxa de mortalidade nas duas últimas décadas, apenas 4,1%, enquanto os cânceres de pulmão e de estômago apresentaram decréscimos importantes de 52,6% e 60,7%, respectivamente.
A mortalidade por câncer de próstata nos segmentos de maior vulnerabilidade social foi outro aspecto destacado pela publicação. Regiões com menor nível socioeconômico na cidade (por exemplo, Santa Mônica, DIC I e DIC III) apresentaram coeficientes mais elevados na taxa de mortalidade em comparação a outras mais desenvolvidas. Apesar disso, Campinas ainda apresenta taxas de mortalidade inferior àquelas constatadas na capital do Estado e em outros municípios como Porto Alegre, Aracajú e Cuiabá.
“Atualmente, para a detecção precoce do câncer de próstata são utilizados o teste de PSA e o toque retal”, explica a médica Letícia Marín-León, especialista em Saúde Pública do Departamento de Saúde Coletiva da FCM. Diferentemente das campanhas de prevenção dos cânceres de colo de útero e de mama, ela explica que não existe por parte do Ministério de Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (INCA) a recomendação de exames de rastreamento para o câncer da próstata. Ao passo que exames como a mamografia e o papanicolau são amplamente difundidos entre as mulheres, o mesmo não acontece com os exames de PSA e de toque retal.
A posição do Ministério e do INCA para não recomendar o rastreamento baseia-se na ausência de evidências de que o rastreamento reduza as taxas de mortalidade por este tumor; decorre também da constatação de problemas de saúde (urinários, sexuais e intestinais) que podem advir das intervenções realizadas, explica a professora Marilisa.
Mesmo na ausência de uma política de rastreamento, no entanto, dados do inquérito de saúde de base populacional (ISACamp 2008), realizado pelo CCAS, mostram que 65,6% dos homens na faixa de idade entre 50 e 59 anos, moradores de Campinas, já haviam realizado pelo menos um exame de PSA na vida, e 46,1% haviam feito o exame de toque retal. Os dados do boletim apontam as diferenças sociais presentes no acesso a estes exames. Os percentuais de homens que realizaram os exames são mais elevados entre os de melhor nível de renda, de raça/cor branca e entre os que têm plano privado de saúde.
Texto: Camila Delmondes - ARP-FCM/Unicamp
Texto: Marcelo Oliveira - ARP-FCM/Unicamp