Pesquisa sobre tratamento da toxoplasmose ocular ganha prêmios

Pesquisa inédita sobre medicamento para tratamento da toxoplasmose ocular realizada com pacientes do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp ganha dois prêmios em congresso internacional de oftalmologia. A pesquisa foi feita pelo oftalmologista e aluno de mestrado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, João Paulo Fernandes Felix. O orientador é o médico oftalmologista Rodrigo Pessoa Cavalcante Lira, também da FCM. A pesquisa tem o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Por aproximadamente 45 dias durante seis meses, 81 pacientes atendidos no ambulatório de oftalmologia do HC da Unicamp fizeram tratamento da fase aguda da toxoplasmose ocular com o medicamento sulfametoxazol-trimetoprim; depois desse período os pacientes foram divididos em dois grupos. Um grupo continuou tomando o medicamento a cada dois dias e o outro tomou placebo, por mais seis meses.

Nesse período, ambos os grupos foram acompanhados com retornos mensais e trimestrais pela equipe. De acordo com os dados da pesquisa, não houve recorrência da toxoplasmose em praticamente 100% dos pacientes do grupo que tomou o medicamento. No outro grupo, houve reincidência da doença em 12,8%.

“Não existiam estudos randomizados que comprovassem a eficácia desse tratamento para prevenir a reincidência da toxoplasmose ocular. Mostramos que com um medicamento simples e barato é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes e estabelecer um protocolo para tratamento clínico com base científica”, explicou João Paulo.

A toxoplasmose é transmitida principalmente pelo gato, seu hospedeiro intermediário. Ela pode ser congênita ou adquirida. Congênita é quando a mãe, já contaminada, transmite o protozoário para o feto. A adquirida é quando o homem ingere alimentos, água ou outro vetor contaminado pelas fezes do animal.

Entre a contaminação e a manifestação da doença há um tempo de incubação, que pode ser de semanas ou meses. A toxoplasmose pode causar mal-estar, fadiga, dor abdominal, doenças hepáticas, problemas no sistema nervoso, perda de visão e cegueira – causas mais comuns da doença.

“As drogas existentes não matam o parasita completamente. A retina é um dos locais em que o protozoário se armazena em forma de cisto para se proteger. Ele pode ficar nesse estado latente por anos. Ao se manifestar, causa lesões e cicatrizes no olho. E cada vez que isso acontece, ocorre uma perda de visão que pode ser irreversível”, explicou o oftalmologista.

De acordo com a Associação para Pesquisa em Visão e Oftalmologia (sigla ARVO, em inglês) que entregou os prêmios, o sucesso da pesquisa apresentada por João Felix no congresso, realizado no mês de maio em Seattle, nos Estados Unidos, se deve ao fato do HC atender pacientes vindos de vários Estados do Brasil e a amostra ser de grande relevância. Outra facilidade apontada é a pesquisa ser replicável entre outros grupos de pacientes, principalmente os imunossuprimidos e portadores de aids ou diabetes, conforme comentaram os avaliadores.

“Já estamos próximos de 130 pacientes acompanhados pela pesquisa. Pretendemos chegar a 180. Alguns já estão há um ano e meio no grupo. De acordo com dados da literatura, quanto mais tempo sem reincidência da toxoplasmose ocular, menos chance da doença voltar. Pretendemos continuar os estudos por mais dois anos”, afirmou João Paulo.

Pesquisa: Sulfametoxazol-trimetoprim versus placebo para reduzir o risco de recorrência de retinocoroidite por Toxoplasma gondii: ensaio clínico controlado randomizado.

Autores: João Paulo F. Felix, Rodrigo Pessoa C. Lira, Rafael S. Zacchia, Alexandre B. Cosimo, Rogrigo LC da Costa, Jaqueline T. Machado, Maurício A. Nascimento, Heitor Panetta, Valdir Balarin, Carlos E. L. Arieta.

Área: Departamento de Oftalmo-Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp

Apoio: FAPESP

 

Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp

Fotos: Divulgação