Pesquisa realizada com 500 crianças de Campinas para saber a que tipo de som elas estão expostas constatou que 29% delas se queixam de perda de audição e 10% nunca passaram por exame de audiometria. Chiado, zumbido e apito no ouvido foram outras queixas relatadas pelas crianças entrevistadas. Para 90% das crianças entrevistadas, quem coloca o som alto são pais, irmãos e familiares que ouvem no carro ou em casa. Os dados foram levantados pela pesquisadora e fonoaudióloga da Unicamp Keila Knobel e apresentados na tarde desta sexta-feira (29) para professores da rede pública e privada de Campinas.
De acordo com a pesquisa, desde muito cedo as crianças estão expostas a ruídos que levam à perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevada (Painpse). O som produzido por brinquedos e livros educativos eletrônicos, por exemplo, podem chegar a até 110 decibéis. Shows, festas, rodeios, fogos de artifício, músicas muito alta em igrejas são outros fatores que contribuem para a perda auditiva, principal causa de surdez nos Estados Unidos. Além da intensidade, a predisposição genética e o tempo de exposição são fatores determinantes.
“Trabalhadores expostos ao ruído de 85 decibéis estão seguros durante 8 horas. A cada cinco decibéis a mais, o tempo que ele pode ficar seguro exposto ao ruído cai pela metade. Festas, shows, concertos, carnaval e fogos de artifício têm 110 decibéis. Uma pessoa poderia ficar exposta por 15 minutos. Mas um show não dura menos que uma hora”, explica Keila.
A perda auditiva é lenta e progressiva. A lesão ocorre na cóclea, uma região muito delicada do ouvido que, uma vez danifica não se regenera, nem mesmo com cirurgia. No caso das crianças, não há parâmetros para medir o tempo de exposição a que elas estão suscetíveis, uma vez que a via auditiva da criança ainda está em processo de maturação e é diferente da do adulto, explica a fonoaudióloga.
“Descobrimos que mais de 40% dessas crianças já estiveram a menos de dois metros da explosão de rojão, conhecidos por causar trauma acústico. Descobrimos também que elas não gostam de som intenso. As crianças tapam os ouvidos, relataram os pais. Mas isto cria um hábito e elas associam o som alto à diversão, à alegria e ao entusiasmo e levam para a adolescência”, explica Keila.
Ainda de acordo com a pesquisa, que foi coordenada pela professora Maria Cecília Pinheiro Lima, do Centro de Estudos e Pesquisa em Reabilitação (Cepre) da FCM da Unicamp, a perda auditiva, mesmo leve, causa dificuldades no aprendizado. Por isso, o foco é na prevenção e na conscientização de pais e educadores.
“Não é de espantar que adolescentes ouvem o som no último. Não temos como brigar com eles. Temos que construir um currículo onde o professor inclua o tema em aulas de ciência, física e química. As crianças, conscientes, podem cobrar mudanças de atitudes dos pais”, diz Keila, que prepara para este ano outras reuniões com professores de Campinas para apresentar os resultados da pesquisa.
Foto e texto: Edimilson Montalti