Dia Mundial da Voz foca comunidade da Unicamp e alerta sobre câncer de laringe

 

A cantora lírica e aluna do primeiro ano de música do Instituto de Artes da Unicamp, Débora Lorenti Lupianhe, esteve nesta quinta-feira (14) pela manhã no ambulatório de otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas (HC) para uma avaliação de suas cordas vocais. Há três anos cantando, Débora sabe da importância de sua voz para trabalhar. “O repertório erudito exige uma ressonância mais limpa da voz. A técnica vocal correta não exige nada da voz. Se estiver forçando a voz, é porque a técnica está errada”, disse a musicista que já fez duas laringoscopias.

Ricardo Orlando Romero, diretor de segurança do HC e pastor de uma igreja em Campinas, também agendou um horário junto à equipe de médicos do ambulatório de otorrinolaringologia para avaliação. Segundo Ricardo, como sua profissão é voltada para comunicação, é preciso dar uma “revisada” na voz. “Já senti ardência na garganta por usar a voz de forma errada. Está é uma oportunidade para fazer uma avaliação das cordas vocais”, disse Romero.

Esta ação faz parte da campanha do Dia Mundial da Voz e o foco são os professores, alunos e funcionários da Universidade. O Dia Mundial da Voz é comemorado em 16 de abril e é uma ideia brasileira que conquistou o mundo. Na época da Academia Brasileira de Laringologia e Voz, a Unicamp foi pioneira na criação da campanha e coordenou, nacionalmente, as campanhas nos anos 2001 e 2002. Os problemas de voz podem interferir na qualidade de vida, nas relações de trabalho, e na sobrevivência das pessoas.

Rouquidão persistente por mais de duas semanas, pigarros, dores constantes de garganta, sensação de incômodo ao engolir alimentos e perda da voz são alguns dos sinais que servem de alerta. Laringites ou o surgimento de pequenos cistos, ou ainda de nódulos ou pólipos são alguns dos problemas mais comuns que podem causar distúrbios vocais.

“No início, programávamos uma semana inteira de serviços ligados à otorrinolaringologia em conjunto com a fonoaudiologia. O objetivo era chamar atenção para a questão da rouquidão e voz, embora a preocupação fosse diminuir o câncer de laringe que ainda hoje prevalece no Brasil”, lembrou o médico otorrinolaringologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Reinaldo Jordão Gusmão.

O Brasil ainda está entre os países que têm as maiores incidências de câncer de laringe. Ao todo são 15 mil casos diagnosticados por ano, mais da metade deles fatais. O câncer de laringe é mais freqüente na população masculina e, quando diagnosticado precocemente, possibilita taxa de cura acima de 90% através de métodos conservadores. O fumo é outro grande vilão, responsável por 97% dos casos de câncer de laringe.

“O número de mortes poderia ser menor se as pessoas prestassem mais atenção nas alterações da voz e procurassem avaliação médica nas fases iniciais do problema, o que aumentaria as chances de cura. Quem fica rouco sem melhora por mais de 15 dias deve procurar um especialista, alertou Agrício Crespo, médico otorrinolaringologista da FCM.

Em geral, o uso inadequado e abusivo da voz é a principal causa dos problemas vocais. Assim como qualquer estrutura de nosso corpo, as cordas vocais - responsáveis pela vibração que produz a voz – ficam sobrecarregadas quando são muito exigidas. Por isso, as pessoas mais afetadas por problemas de voz são os profissionais que dependem dela para trabalhar, como vendedores, advogados, oradores e professores.

“Já vi atores, repórteres e professores que tiveram suas carreiras interrompidas por problemas vocais irreversíveis. Os professores aprendem métodos pedagógicos para dar aula, mas não sabem como cuidar de seu instrumento de trabalho – a voz. Existem técnicas, orientações terapêuticas que minimizam esse efeito e ele pode continuar dando aula por 4, 8, 10 ou 12 horas se for o caso”, disse Gusmão.

Segundo o otorrinolaringologista da FCM, o fumo, o álcool, as drogas, a poluição, tossir, gritar muito ou pigarrear, cantar ou gritar quando gripado, falar em locais muito barulhentos, mudanças bruscas de temperatura, ambientes com poeira, mofo e cheiro forte, principalmente se a pessoa for alérgica, fazem mal para a voz.

“O melhor para voz é deixar a garganta hidratada. Beber mais de oito copos de água por dia, evitar soluções caseiras e só usar pastilhas, sprays ou medicamentos com indicação médica fazem bem à voz”, disse Gusmão.

A campanha do dia Mundial da Voz é coordenada pela disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp com o apoio da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp). Neste ano, a campanha conta com o apoio da cantora Daniela Mercury. As pessoas da comunidade da Unicamp que quiserem fazer uma avaliação devem comparecer até amanhã (15) no balcão do ambulatório de otorrinolaringologia localizado no segundo andar do HC. Informações pelo telefone (19) 3521-7165 na secretaria do ambulatório.

Texto e fotos: Edimilson Montalti

ARP - FCM