Sair em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da construção de um movimento social que conquiste a confiança da população, é um dos caminhos para superar uma série de desafios que se interpõe ao campo da saúde no Brasil, na atualidade. Esse foi o apontamento de Gastão Wagner de Sousa Campos, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, durante o seminário “Direito à Saúde: o SUS está em risco?” realizado na última terça-feira (7), Dia Mundial da Saúde, na Unicamp.
“Se ficarmos apenas no diagnóstico, não vamos ganhar as mentes e os corações da maior parte da sociedade brasileira para termos uma política pública que assegure o direito à saúde. Os agentes dessa mudança são os próprios usuários do SUS, os movimentos da sociedade civil e dos trabalhadores. A mudança é nossa, porque a maior parte do poder Executivo, e mesmo do Legislativo, desistiu do SUS”, afirmou Gastão.
De acordo com o professor do Departamento de Saúde Coletiva da FCM, em 25 anos de existência, o SUS obteve muitas conquistas que não só ampliaram o acesso de milhões de brasileiros a diversos programas e políticas de saúde, como também propuseram novos modelos de Atenção à Saúde.
“O SUS impactou positivamente sobre a distribuição de renda e acesso ao tratamento do câncer, diabetes e AIDS, à participação em programas como o da Saúde de Família, de vacinação e saúde mental. O aumento da expectativa de vida é um exemplo disso. Nos últimos 20 anos, passamos a ter 12 anos a mais de expectativa de vida”, afirmou.
O especialista em saúde pública da FCM reconheceu, no entanto, que apesar das conquistas, o SUS tem também muitos problemas. “Nossa cobertura de Atenção Básica no Brasil é da metade da população, cerca de 40%. Precisamos chegar pelo menos a 80%. Temos filas nos hospitais, dificuldades de acesso, com demora e burocratização no atendimento e desrespeito aos usuários. Alguns problemas são crônicos, como o subfinanciamento, a falta de políticas de pessoal. Temos também um problema de gestão gravíssimo, piorado com as terceirizações e privatizações”, disse Gastão.
Ainda de acordo com Gastão, apesar desses avanços do SUS, a maior parte da população brasileira tem dúvidas se o SUS vai conseguir garantir o direito à saúde. Há certa esperança da população de que o direito à saúde só estaria garantido mediante a contratação de convênio privado. Nesses 25 anos de SUS, o mercado de saúde cresceu muito, ainda que atenda somente a 25% da população.
“Essa é uma falsa esperança, porque a medicina de mercado é mais cara e não tem melhor qualidade que o setor público. Em vários setores os resultados do SUS são melhores, gastando quatro vezes menos”, alertou.
Realização
O seminário “Direito à saúde: o SUS está em risco?” foi realizado pelo Coletivo de Estudos e Apoio Paideia, do Departamento de Saúde Coletiva da FCM, em parceria com a Coordenadoria de Assuntos Comunitários da Pró-Reitoria de Extensão, e com o apoio do Grupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE) da Unicamp.