Homenagem ao professor Renato Terzi por ocasião de sua aposentadoria, em 27 de abril de 2007, durante a reunião da 3ª reunião ordinária da Congregação da FCM
Prezados membros da Congregação da FCM e demais presentes, o meu bom dia!
- A arte é longa.
- A vida é breve.
- A experiência é falha.
- A oportunidade é fugidia.
- O julgamento é difícil.
Hipócrates (460-377 a.C.)
Foi-me atribuída uma incumbência honrosa, a um só tempo fácil e difícil, de dizer algumas palavras sobre e para o professor Terzi.
Fácil, porque bons adjetivos para qualificá-lo não faltam em nosso léxico. Difícil, porque por maior número deles que eu possa utilizar, ainda por certo muitos faltarão para expressar a grandeza e a importância de sua atuação como médico e docente ao longo desses anos na FCM,Unicamp.
Durante minha convivência de 22 anos com o professor Terzi, de quem fui inicialmente aluno de pós-graduação e posteriormente companheiro de trabalho nesta Universidade, aprendi a admirá-lo e respeitá-lo por inúmeras razões, das quais, algumas (certamente ainda com muita injustiça à sua pessoa), eu tentarei enumerar.
A ARTE É LONGA, mas, sem sombra de dúvidas, a profícua atuação médico-acadêmica do professor Terzi foi importante para o engrandecimento da profissão e da arte médica, transpondo os espaços delimitados pelos muros desta respeitável Universidade e os limites de tempo impostos pela nossa curta existência. Ele sempre soube exercer essa arte em benefício do ser humano dentro dos mais altos preceitos éticos, humanísticos e técnicos, transformando-se num modelo profissional para todos aqueles que o tiveram, de alguma forma, como mestre.
A VIDA É BREVE, mas o professor Terzi, como poucos, soube e foi capaz de utilizar o seu tempo nesta instituição para promover a atenção à saúde, ao ensino e ao aperfeiçoamento da arte que, por opção, abraçou em sua juventude. E, queira Deus, que sua vida seja ainda longa o suficiente para que nós possamos continuar a usufruir de sua convivência sempre edificante.
A EXPERIÊNCIA É FALHA, mas o professor Terzi teve e tem outro grande mérito: a humildade. Nunca impôs suas opiniões pessoais no exercício da Medicina, com base apenas em sua experiência profissional. Ao contrário, sempre se mostrou extremamente cauteloso nas tomadas de decisões terapêuticas à beira de leito, instigando-nos a estudar e a compreender a fisiopatologia das doenças, a solicitar a opinião de outros profissionais e a buscar as melhores evidências científicas que consubstanciassem as condutas a serem implementadas para o paciente. A importância da educação continuada e da pesquisa na busca da verdade sempre pautaram sua atuação profissional.
A OPORTUNIDADE É FUGIDIA, mas o professor Terzi, mais por virtude que por fortuna, foi a pessoa certa, no lugar certo e na hora certa. Com seu incrível otimismo, entusiasmo contagiante, enorme capacidade de trabalho e carisma soube congregar pessoas, difundir idéias e consolidar definitivamente a Medicina Intensiva Brasileira, tornando-a respeitada em nosso meio e na comunidade acadêmica internacional.
O JULGAMENTO É DIFÍCIL, mas o professor Terzi sempre se mostrou uma pessoa de mente aberta e visão crítica, estimulando a prática de decisões compartilhadas na implementação de ações de cunho assistencial, humanístico, administrativo e educacional no exercício da arte médica. Pautou sua vida profissional no mais alto senso de justiça e imparcialidade.
Encerro esta homenagem, com uma frase de Sir Richard Francis Burton (1821-1890), explorador inglês:
“Toda crença é verdadeira, toda crença é falsa. A verdade é um espelho que se quebrou em mil pedaços; cada um, no entanto, crê que possuir um desses fragmentos é possuir de toda a verdade”.
Professor Terzi: por ter sido fiel aos princípios hipocráticos em sua atuação profissional como médico e por ter quebrado paradigmas com seu espírito crítico e investigativo nas atividades acadêmicas, o nosso mais profundo respeito e nossa eterna gratidão.
Prof. Dr. Sebastião Araújo
Departamento de Cirurgia da FCM, Unicamp