Simpósio reúne especialistas na FCM com foco na capacitação e conscientização da saúde da população negra
Um país sem memória é um país que apaga o passado, que devora o futuro e vive no presente cheio de ilusões. Temos muitas crises atualmente, mas a pior é a de identidade. Um país que não se conhece historicamente e não conhece a sua diversidade, dificilmente alcançará uma democracia sólida. A promoção de políticas públicas é essencial. Essa foi a mensagem deixada por Eliane Jocelaine Pereira, secretária municipal de assistência social, pessoa com deficiência e direitos humanos da Prefeitura Municipal e Campinas durante a abertura do Simpósio de Saúde da População Negra.
“O Estado e a sociedade precisam se unir para romper com as desigualdades sociais estruturantes que hoje se fundem no racismo e no sexismo. Dificilmente, um país conseguirá atingir o desenvolvimento econômico e social se não olhar para a população negra”, enfatizou Eliane em seu discurso de boas-vindas como anfitriã do evento, ocorrido na terça-feira (12) no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
A escolha de realizar o evento em parceria com a FCM foi uma estratégia para dar visibilidade ao tema e capacitar os profissionais de Campinas que atuam no atendimento da população negra. “É uma característica de nossa faculdade atuar de forma coerente e positiva com as políticas públicas de saúde. Estamos cumprindo nosso papel com a sociedade em colocar a faculdade à disposição para a realização desse simpósio”, explicou Luiz Carlos Zeferino, diretor da FCM, satisfeito em trazer esse encontro para a Universidade.
Arly de Lara Romeo, diretor da Sanasa, representou o secretário de saúde de Campinas, Cármino de Souza, na cerimônia de abertura do evento. Arly é autor da Lei Municipal nº 14.364, de 23 de agosto de 2012, que instituiu o dia 27 de outubro como Dia Municipal de Mobilização Pró-Saúde da População Negra. A Lei permite ao município de Campinas realizar convênios, parcerias, termos de cooperação com empresas, entidades civis e órgãos não governamentais para viabilizar o Dia Municipal de Mobilização Pró-Saúde da População Negra. A data faz parte do calendário oficial da cidade.
“As enfermidades trazem sofrimentos para todos. A saúde é nosso maior patrimônio. Investir na prevenção da saúde e na conscientização da saúde da população negra, especialmente, é uma obrigação do município”, declarou Arly, satisfeito com a Lei que criou durante o período em que foi vereador de Campinas.
Mortalidade entre homens negros
A primeira palestrante da manhã foi a médica Marilisa Berti de Azevedo Barros, professora da área de epidemiologia do Departamento de Saúde Coletiva da FCM. Ela trouxe, em primeira mão, alguns dados sobre mortalidade da população negra em Campinas. Esses dados serão publicados num boletim que o Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS) está preparando em conjunto com Secretaria de Saúde de Campinas.
“As taxas de mortalidade são muito maiores entre os homens negros do que em relação as mulheres negras. Os homens negros são mais vulnerários em termos de risco de mortalidade. Esse risco de mortalidade atravessa todas as faixas etárias, embora seja muito mais forte entre os jovens, devido ao homicídio, suicídio e violência de trânsito. A questão de não se cuidar e não procurar os serviços de saúde também são pontos que foram considerados na pesquisa, entre outros”, disse rapidamente Marilisa, guardando os principais dados para divulgação quando o boletim for publicado.
Veja aqui a programação completa do simpósio, os temas abordados e os palestrantes convidados.
Política Nacional de Saúde Integral da População Negra
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) foi instituída pela Portaria GM/MS Nº 992, de 13 de maio de 2009. O objetivo da PNSIPN é combater a discriminação étnico-racial nos serviços e atendimentos oferecidos no Sistema Único de Saúde (SUS), definindo princípios, objetivos, diretrizes, estratégias e responsabilidades de gestão, voltados para a melhoria das condições de saúde da população negra. Para isso, inclui ações de cuidado, atenção, promoção à saúde e prevenção de doenças, bem como de gestão participativa, participação popular e controle social, produção de conhecimento, formação e educação permanentes para profissionais da área da saúde, sempre visando à promoção da equidade em saúde da população negra.