Dia da Avaliação: A avaliação sob a perspectiva do aluno

Enviado por Camila Delmondes em Ter, 16/10/2018 - 11:45

Indicado pelos colegas de turma para falar sobre os processos de avaliação a partir da perspectiva dos estudantes, o aluno do 1º ano, Juliano Watanabe, ficou surpreso com a nomeação. “Sou um aluno super na média, nada fora da curva”, pensou de imediato. Tendo refletido pela segunda vez, chegou à conclusão de que a serenidade com que ele encara os processos avaliativos talvez tenha sido o real motivo do convite. “Tenho essa carinha de 20 anos, mas na verdade tenho 34. Talvez eu me estresse um pouco menos com essas coisas”, disse.

Psicólogo formado pela USP, em 2009, com pós-graduação no Hospital de Clínicas naquela mesma universidade, Juliano compartilhou com os amigos, no Dia da Avaliação do curso de Medicina da FCM, a experiência de passar por muitos processos avaliativos no decorrer da vida que o ajudaram a definir alguns caminhos. “Desde quando passamos a nos entender por gente, passamos por processos avaliativos que ajudam a definir a nossa trajetória”, comentou.

Encarar as provas como "desafios pontuais que não definem quem a pessoa é de fato" é a dica dada por Juliano aos colegas de turma. “Algumas pessoas ficam muito ansiosas de serem avaliadas, mas devemos pensar um pouco mais sobre o quanto determinadas avaliações representam em nossas vidas”, disse. Encontrar a medida certa para compreender que o resultado da avaliação pode ser o reflexo de que algo não vai bem com o aluno em si, o conjunto de alunos ou até mesmo com a instituição, foi outro aspecto destacado pelo psicólogo e estudante de medicina.

[...] Os afetos são um bom termômetro. Se a gente se afeta de um jeito destrutivo e paralisante é sempre bom buscar ajuda para cuidar disso. A gente também não pode deixar de olhar para os lugares sociais dos processos avaliativos, que também podem ser excludentes. Tudo tem uma medida subjetiva, pessoal, mas também tem uma medida social que também causa sofrimento.

 [...] é claro que todo processo avaliativo tem um sentido para cada sujeito, mas, por outro lado, não podemos esquecer alguns aspectos sociais, muitas vezes, de seleção, de exclusão e ilusão meritocrática, que descerram uma certa lógica social de eficiência, utilitarismo e competição.  Fazemos medicina e como médicos somos especialistas nisso. Pensando socialmente, existiriam possíveis médicos incríveis que não se tornarão médicos porque não se encaixam nos processos avaliativos feitos para estarem aqui. Por outro lado, temos muitos médicos aprovados em inúmeros processos avaliativos, mas que não gostam de cuidar de pessoas.

[..] Não se trata de caça às bruxas. É preciso entender o problema de forma madura. Cada um tem, sim, que fazer uma análise crítica de si, mas tem coisas que não tem nada a ver com divã, mas com resistência a processos ultrapassados”, finalizou.


Também  contribuíram com perspectivas pessoais sobre o processo de avaliação do curso de Medicina da FCM, os alunos de graduação Julian Furtado Silva (5º ano) e Matheus Santarosa Cassiano (4º ano), e o médico residente Ugo Caramori.