No dia 14 de abril de 2020 foi a primeira celebração do Dia Mundial da Doença de Chagas, deliberado e instituído na 72ª Assembleia Mundial de Saúde em maio de 2019. Entretanto, o mundo se viu assolado pela pandemia da Covid-19 com enormes impactos sanitários e socioeconômicos, alguns ainda incalculáveis em nível global. O cotidiano, em todos seus aspectos, sofreu modificações ou adaptações com a instauração de um período de limitações do contato humano e relações sociais, exceto nos serviços considerados essenciais. A comunicação virtual expandiu-se de forma acelerada, entretanto nem todos conseguiram ter acesso a essa nova forma de comunicação, especialmente as camadas mais pobres e vulneráveis da população.
Dentro desse contexto, os desafios da doença de Chagas, como os de muitas outras doenças, permaneceram e alguns se agravaram. Desafios que permaneceram foram: a necessidade de uma atenção integral mais eficaz para as pessoas com a doença de Chagas; a implementação da triagem, diagnóstico e tratamento, com acesso à medicação e aos serviços de saúde; a implantação da Portaria GM nº 1.061, de 18/05/2020, que incluiu na Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública a doença de Chagas crônica.
A pandemia de Covid-19 também impôs restrições ao acompanhamento sistemático dessas pessoas pelos serviços de saúde, salvo casos graves, devido às recomendações sanitárias em prol da prevenção de infecção pelo SARS-CoV-2 e o perfil de grupo de risco da maioria de usuários com doença de Chagas. De fato, eles são grupo de risco pela forma cardíaca frequente, maior probabilidade de apresentar fenômenos trombóticos, acidentes vasculares com sequelas neurológicas, além de possíveis comorbidades, idade avançada ou outros fatores.
Paradoxalmente, o grupo de pessoas com doença de Chagas ainda não foi considerado um grupo prioritário para a vacinação da COVID-19, que se iniciou de forma tardia e tem avançado de forma lenta frente à propagação vigorosa da doença em nosso país, aumentando riscos que poderiam ser prevenidos.
Em contrapartida, nos animam as metas e marcos globais para a prevenção, controle, eliminação ou erradicação das 20 doenças ou grupo de doenças tropicais negligenciadas, estabelecidos no marco dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, que embasam o novo roteiro Acabar com a negligência para alcançar os ODS: um roteiro para Doenças Tropicais Negligenciadas 2021-2030. Nos anima a disponibilidade das apresentações pediátricas do benzonidazol e nifurtimox para a doença de Chagas, assim como a nova produção do nifurtimox na Itália, para garantir a produção de qualidade e acesso gratuito ao medicamento. Também nos anima a Portaria que instituiu no Brasil - único país do mundo - a notificação obrigatória dos casos crônicos de doença de Chagas.
Considerando esse contexto em que se insere a doença de Chagas, a equipe interdisciplinar de saúde: médicos docentes, alunos de graduação e pós-graduação, enfermeira e assistente social integrantes do Grupo de Estudos em Doença de Chagas (GeDoCh) e do Ambulatório de Doença de Chagas do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp desenvolvem sua missão de assistência, ensino e pesquisa na atenção integral aos usuários. Apoiam e estabelecem parcerias com outros serviços de atenção à saúde de Campinas e Região, com a comunidade, com a Associação dos Portadores de Doença de Chagas de Campinas e Região (ACCAMP) e a Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (FINDECHAGAS) que representam a sociedade civil organizada.
Esperamos que todos os envolvidos no cuidar, ao ouvirem “Doença de Chagas” não se recordem apenas do importante “ciclo do parasita”, mas percebam em seu coração, real e metaforicamente, um pouco do sofrimento e privações que os acometidos pela doença estão passando.
Ana Maria de Arruda Camargo, assistente social – HC/UNICAMP
Luiz Claudio Martins, coordenador do GedoCh – FCM-HC/UNICAMP
LIVE: Doença de Chagas no contexto das doenças negligenciadas e impacto da Covid-19
Dia: 14/04/2021 – Das 14 às 16 horas
Plataforma Zoom meeting: https://who.zoom.us/j/5017974551
Participantes:
Pedro Albajar Vinas – Departamento de Controle de Doenças Tropicais Negligenciadas-OMS
Ruth Moreira Leite – Centro de Vigilância Epidemiológica Pro. Alexandre Vranjac/SP
Luiz Claúdio Martins – Grupo de Estudos em Doença de Chagas –UNICAMP
André Ricardo Ribas Freitas – Prof. de Epidemiologia – Faculdade São Leopoldo Mandic
Joaquina Gomes de Lima Teixeira – Associação dos Portadores de Doença de Chagas de Campinas e Região – ACCAMP
Moderação: Ana Maria de Arruda Camargo – Grupo de Estudos em Doença de Chagas e Serviço Social – HC/UNICAMP
Apoio Técnico: Bárbara Nunes Pontes – Graduanda em Medicina - FCM/UNICAMP
Promoção e Organização: Associação dos portadores de Doença de Chagas de Campinas e Região – ACCAMP
Apoio: Grupo de Estudos em Doença de Chagas – UNICAMP